Começa nesta quarta-feira (6/11) e vai até 2 de fevereiro de 2014, em São Paulo, o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. Realizado pelo Sesc-SP e a Associação Cultural Videobrasil, o festival chega à sua 18ª edição com a exposição 30 Anos e a mostra competitiva Panoramas do Sul, que ocupam o Sesc Pompeia e o CineSesc, além de programas públicos em diferentes espaços da cidade (confira a programação completa no site www.videobrasil.org.br).
Cultura e Mercado – Qual era o objetivo do festival Videobrasil há 30 anos, quando teve sua primeira edição, e qual é o objetivo hoje? Quais foram as principais mudanças nessas três décadas?
Solange Farkas – O Festival, cujo nome atual é Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, nasceu de uma ideia de meu falecido sogro Thomaz Farkas (1924-2011), que, como grande artista que era, tinha uma verve visionária em relação ao vídeo. Ele, que além de fotógrafo também era cineasta, notou que não havia espaço para a exibição e o debate sobre o vídeo experimental, então me convidou para criar e dirigir o Festival, em 1983. Então ele nasceu em um momento em que a videoarte apenas surgia na cena brasileira, e assim participou de sua legitimação e consolidação no sistema das artes. Mais tarde, o Festival se abriu à arte eletrônica e, depois, incluiu também a performance e práticas mistas. No início dos anos 90, quando o Sesc São Paulo se tornou correalizador do Festival, assumimos o Sul geopolítico como um dos focos centrais de nossa missão – um Sul entendido aqui como as regiões do mundo que se situam fora do eixo ainda hegemônico Europa Ocidental – América do Norte. Hoje, o Festival é aberto a todas as linguagens artísticas contemporâneas e exerce sua atenção sobre esse chamado Sul por meio de uma série de ações que se conectam para muito além do Festival, com residências, publicações, produtos audiovisuais, programas públicos e, claro, o Acervo Videobrasil. Frente a esses 30 anos de história, é possível dizer que o objetivo de nosso projeto, mesmo com tantas transformações na programação apresentada ao longo do tempo, se manteve o mesmo: ser uma plataforma de visibilidade para manifestações artísticas que exigem incentivo.
CeM – Qual a relação da produção audiovisual com o festival?
SF – Na fase inicial do Festival, a relação com o audiovisual, digamos, mainstream era precária, e o diálogo entre os realizadores e a cena cultural se dava mais por meio de estratégias de tomar a programação da TV de assalto: os então jovens iniciantes Fernando Meirelles, Marcelo Tas, Walter Silveira, Marcelo Machado e Pedro Vieira são alguns nomes desse momento, e conseguiram engajar o apoio de veteranos como Zé Celso e Goulart de Andrade. A ambição era se inserir na televisão, subverter as grades com muita experimentação. Já quando o audiovisual se profissionaliza e a videoarte se vai consolidando, os caminhos vão se definindo e cada linguagem vai integrando uma cena própria – videoarte, vídeo experimental, trabalhos narrativos, documentários etc. Mas o Festival sempre buscou e busca acompanhar a complexidade desse panorama, dando espaço tanto para a videoarte, presente em peso nas nossas exposições, quanto para produções em formato mais documental ou narrativo, como a Videobrasil Coleção de Autores. Aliás, neste ano em que comemoramos os 30 anos do Festival, resolvemos celebrar essa relação com sessões especiais do filme inédito de Eder Santos, Deserto Azul. Eder é um artista emblemático dessa relação: ele sempre teve uma produção consistente e relevante em videoarte, mas tem também essa ligação com o audiovisual em formatos tradicionais, como o longa-metragem.
CeM – Como é o processo de seleção para a mostra competitiva Panoramas do Sul e qual a importância dela no atual momento da arte contemporânea mundial?
SF – Panoramas do Sul se compõe de trabalhos enviados durante convocatória aberta e, portanto, mantém o fator de risco que o Festival tanto preza historicamente – não se trata de uma curadoria baseada em uma premissa teórica escolhida de antemão. Essa exposição pretende ser, antes, uma plataforma de articulação de práticas artísticas, temas, discursos, procedimentos, estratégias. O processo de seleção, que além de mim mesma inclui os curadores Eduardo de Jesus (artista e docente da PUC-MG), Fernando Oliva (FAAP) e Julia Rebouças (Instituto Inhotim), consistiu na análise de um universo de mais de dois mil projetos apresentados durante a open call, de modo a chegarmos às 106 obras (de 94 artistas) selecionadas. Como falei, hoje o Festival é aberto a todas as linguagens e formatos da arte, então essa edição da mostra competitiva Panoramas do Sul é composta por instalações, fotografias, videoinstalações, desenhos, esculturas, pinturas, livros de artista e vídeos. A partir desses elementos todos, posso dizer com confiança que a relevância e a pertinência dessa exposição, no contexto contemporâneo internacional, reside na representatividade e pluralidade que ela garante à arte do Sul global – obtemos, em Panoramas do Sul, um mapeamento desse circuito que, como revelam muitas edições de bienais importantes (inclusive a próxima Bienal de São Paulo), tem muito a contribuir para a reflexão artística, cultural, e até sócio-política de nosso tempo.
CeM – Como foi definida a programação dos Programas Públicos?
SF – A curadoria dos Programas Públicos, concebida por Sabrina Moura e Thereza Farkas, pensa o Sul como um campo fluido e complexo, liberto de delimitações rígidas, pensamento que é um dos parâmetros centrais de toda nossa pesquisa curatorial. Também a ideia de crioulização, como presente no pensamento do autor martinicano Edouard Glissant e sugerida também na obra de seu conterrâneo Frantz Fanon, busca abordar as questões de negociação cultural a partir de processos de dissolução e coexistência, e foi uma das diretrizes para criarmos os programas públicos do Festival. Esses programas propõem um conjunto de atividades que promovem debates horizontais e abertos à contribuição de todos, em que temas suscitados pelas exposições e lançamentos são aprofundados sobre um horizonte multidisciplinar. As atividades envolvem encontros, percursos dinâmicos pelas mostras e performances, e são complementadas pela PLATAFORMA:VB, uma ferramenta online de produção colaborativa de conteúdo de pesquisa e análise sobre questões que se abrem a partir da arte em direção a outras áreas do conhecimento. A grade completa pode ser acessada em nosso site.
CeM – Este é um evento de difícil produção e captação financeira?
SF – A produção, decerto, é muito, muito difícil. Além de um open call que abrange cinco continentes, temos, na seleção, uma representatividade internacional que mobiliza um esforço de produção descomunal – nesta edição, a título de ilustração, temos obras provenientes de 32 países. Felizmente, temos um correalizador que aposta no projeto, até porque é um projeto deles também – o Sesc São Paulo. Acredito que seria muito difícil que esse projeto existisse com tamanho fôlego se não fosse pelo Sesc, que empenha não apenas recursos financeiros, mas também contribui para pensar o Festival. Equipes, espaços e, acima de tudo, esforço de trabalho e pensamento é empregado em igual medida por eles. Sabemos o quanto é difícil viabilizar projetos independentes em arte contemporânea, então imagine um projeto independente dessa magnitude e que, ainda por cima, se dedica ao circuito Sul: América Latina, Caribe, África, Europa do Leste, Oriente Médio, Sul e Sudeste asiático e Oceania. Ao Videobrasil cabe a concepção geral do Festival, sua curadoria e a elaboração de boa parte da programação, mas só atingimos os atuais níveis de de abrangência geográfica, apuro técnico e amplitude de acesso público graças à presença pra lá de ativa desse correalizador inestimável.
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