“A casa é um corpo de imagens que dão ao homem razões ou ilusões de estabilidade” (Bachelard)A casa não é só um abrigo para o homem, mas também um porto seguro para seus sonhos e devaneios, é um canto do mundo onde ele se reencontra com sua intimidade. A carência de habitação nas grandes cidades tem seqüestrado o pensamento, o desejo e o direito de viver os segredos e as fantasias que ampliam os valores do espaço habitado. Morar não se restringe às circunstâncias de alojar o corpo. Uma casa quando se revela habitável é sempre um pedaço de universo, construído de singularidades onde seu morador se sente à vontade.
O conceito de casa não é um modelo universal. Para falar da casa é preciso refletir e habitar seus cômodos. “Esquecemos há muito tempo do ritual sobre o qual foi edificada a casa de nossa vida”. (Benjamin). A funcionalidade da residência contemporânea é apenas um alojamento de máquinas, de tecnologias, de aparelhos domésticos, que não diz muita coisa, funciona. Para quem pensa e sonha, habitar é mais que ocupar um espaço para descanso e os afazeres do corpo. A casa fornece imagens poéticas, nas quais a imaginação se atraca e inventa na sua divagação, outras imagens que enriquecem o universo e suas metáforas.
De tão funcional a ”casa moderna” deixou de funcionar. Atualmente, a residência não precisa mais de formas funcionais, mas de formas exatas que recuperem a sua poética. Ela não deve responder simplesmente a requisitos funcionais, deve atender às demandas do sentimento e expectativas, de quem a ocupa. Para Heidegger: “É o lugar onde se está em paz e protegido”. Não deveria ser um refúgio ou um enclausuramento voluntário para se livrar do horror e da insegurança da rua e da vida pública. Bachelard nos esclarece que habitar uma casa é viver sua realidade e sua virtualidade, na mais interminável dialética do ser, entre pensamentos e sonhos.
A casa é uma cidade em miniatura, um pequeno mundo particular que se instala na memória de seus habitantes. Ela nasce de desenhos, de tecnologias de construção e fundamentalmente da busca do belo para ser ocupada com prazer. O belo não deixa de ser uma forma de reflexão sobre a realidade. Quando a arquitetura é um meio sublime de conhecimento para o homem, a casa surge como objeto de pensar e discutir o modelo social, a cidade e a própria arquitetura. É nesse território familiar, onde primeiro se reproduzem os valores sociais. Paredes, esquadrias, móveis, os quadros da parede, etc. testemunham a individualidade, a diversidade, o pensamento e o conceito de morar de uma determinada época, seu desenho corresponde aos hábitos e à cultura de uma sociedade.
A condição da vida urbana contemporânea levou a geografia da habitação a um estado de decadência. Quando o salário é insuficiente para a aquisição dos gêneros de primeira necessidade, o problema da moradia fica relegado ao espaço que abriga ou aprisiona um corpo “força de trabalho”. O crescimento da população urbana fez da habitação um artigo de luxo, e não se muda uma realidade construindo casas. Qualquer política habitacional isolada é ineficiente. O mito da tecnologia e da construção em massa faz parte de nosso cotidiano, só que esses complexos habitacionais são territórios para se viver as horas noturnas, ou melhor, dormitórios com seus cômodos reduzidos a áreas mínimas, destinados a satisfazer minimamente necessidades imediatas, onde nem sempre cabe o indispensável, quanto mais os devaneios de seus ocupantes.
Por outro lado, a exigência de um mercado que desconhece a imaginação fez da casa um depósito de indivíduos. São essas construções que estão mais perto das chamadas necessidades de morar e longe dos devaneios, mesmo assim, habitar esses cômodos é um privilégio, uma exclusividade. Se a casa tem um passado, um valor onírico, é um lugar que permite ao homem sonhar em paz, como afirma Bachelard, a incerteza de habitar impõe limites à sua inconfundível poética. Sem a intimidade a casa é o pesadelo de um estúpido presente sem passado e sem perspectiva de futuro.
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