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“A história do mecenato acabou”

O mercado da música eletrônica é recente no Brasil. Apenas em 2005 o país entrou no circuito de artistas de peso internacionais, o que levou o negócio a iniciar uma trajetória de crescimento significativa. Antes restrito às festas raves, o estilo passou a entrar nas rádios e levou mais gente às pistas no decorrer dos anos.

Em 2013 registrou-se um total de 738 eventos realizados em torno do “tuntistum”. Divididos entre eventos de pequeno, médio e grande porte, as festas atraíram um público de 27,4 milhões de pessoas. E mesmo com um número elástico como esse, e com a arrecadação chegando ao patamar dos R$ 3 bilhões, o crescimento do mercado em relação ao ano de 2012 (21,7%) não impressiona especialistas do setor, que atribuem o “baixo” aumento a fatores como o alto valor do cachê de médios e grandes DJs e o aumento no valor de alimentação e bebidas.

“O mercado de música eletrônica é muito refém de grandes artistas. Houve uma alta significativa nos cachês no último ano e os insumos de bar também tiveram uma alta. Esses dois fatores acabaram por segurar o crescimento. Por outro lado há uma maturação do mercado no país, uma estabilização dos negócios”, defende Cláudio da Rocha Miranda Filho, diretor executivo da Rio Music Conference (RMC), evento anual que reúne profissionais e empresários do setor e que acontece desde a última semana no Rio de Janeiro.

Durante o evento, foram apresentados os dados de pesquisa realizada pela organização e as perspectivas para os próximos anos. A música eletrônica já atinge todo o país, mas ainda mantém maior concentração de festivais e estabelecimentos nas regiões Sudeste (41%) e Sul (30%) seguidas pelo Nordeste (17%), Centro-Oeste (8%) e Norte (4%). “Ainda há muito espaço pro crescimento no Nordeste. O Sul foi desde sempre o berço da cultura do festival. Naturalmente São Paulo é onde tudo acontece. Mas no Norte e Nordeste começam a pipocar uma série de estabelecimentos e festas. A tendência é que ainda haja muito crescimento por lá”, garante o diretor.

Dos R$ 3 bilhões arrecadados pelo setor, cerca de R$ 1,9 bi é fruto da venda de alimentação e bebidas e R$ 1,1 bi fruto da venda de ingressos. Com relação aos investimentos, Cláudio garante que o setor é hoje em dia praticamente autossustentável e que as contrapartidas do governo não são sustentáculo para o segmento, tendência que ele aponta como atual no financiamento de propostas artísticas e de entretenimento. “A história do mecenato acabou. Você tem que dar uma base para a coisa acontecer. Mas o negócio tem que ter patrocinador, tem que ser sustentável. A arte pela arte, esse modelo já passou. As novas iniciativas têm esse foco: direcionamento de se pagar.”

Outra razão apontada por Cláudio para o crescimento do setor está na recente e famosa elevação da renda da classe C, notabilizada no Brasil nos anos 2000. “Primeiramente comida na mesa, roupa no corpo, e depois a gente começa a entender o que se faz com o dinheiro excedente. O brasileiro é um povo festivo e por isso o entretenimento presencial e o mercado como um todo vêm ganhando força nos últimos anos”.

Itamar Dantas

Repórter do Cultura e Mercado.

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