A Lei Frankenstein


O Ministério da Cultura foi criado por José Sarney (1985), autor, também, do IDH do Maranhão. Em 1990, o MinC foi extinto com outros órgãos culturais por Collor de Mello, indignado com a rejeição dos artistas à sua candidatura. Itamar Franco assumiu e prometeu tornar o Minc um ministério, implorou que alguém ocupasse o cargo de ministro até que Antônio Houaiss aceitou denunciando que o orçamento não sustentaria uma secretaria estadual, ausência total de infra-estrutura e uma lei anacrônica criada por Paulo Rouanet (1991), inspirada na velha proposta estadunidense de estado mínimo e mercado máximo que está desmanchando no ar.

Houaiss saiu sem vitórias, em 1993, e Jerônimo Moscardo assumiu disposto a fazer uma revolução ateniense na cultura brasileira, mas foi ejetado do cargo antes de começar pelos fenícios que implantaram o plano real. Então, o MinC, que, de 1985 a 1994, teve 9 ministros, aprumou-se no governo FHC 8 anos, tutelado por Francisco Welffort, um petista de origem, pensando a cultura brasileira via lei de incentivo neoliberal, lei de audiovisual paternalista planejada por Antonio Houaiss (1992), numa estrutura administrativa bichada, montada provisoriamente por Celso Furtado.

Esse ministério frankensteinizado patrocinou, de 1996 a 2002, com pequenas variações, via Lei Rouanet, 0,4% de projetos na Região Norte, 2,1% no Nordeste, 2,9% no Sul, 5,1% no Centro-Oeste e 89,5% no Sudeste, ignorando a subsistência de grupos e artistas, e criando, entre outras monstruosidades, a broduei paulista que recebeu milhões do nosso suado e difícil dinheirinho. Gilberto Gil assumiu o ministério, em 2003, com poder midiático para alterar esse espectro e fazer do MinC um ministério, mas amamentou o Frankenstein de Welffort até 2008, realizando, de importante, os pontos de cultura, que só podem dar bons resultados se houver investimento em artistas e grupos. É Juca Ferreira que vai conseguir desfrankenstenizar o monstro? Acho difícil. Citando um artista baiano do século XX, o diretor Marcio Meirelles, “ainda falta cultura pra se investir em cultura no Brasil”. É isso.

Aninha Franco

Dramaturga, escritora e gestora cultural, Aninha Franco é cronista cultural, em Salvador (BA).

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  • Aninha perfeito!

    Se vc autorizar eu coloco lá no meu modesto blog, adorei a ironia fina.

    abraço,
    Claudio

  • Na verdade, com relação as grande produções que acontecem em São Paulo temos que levar em consideração que elas empregam mais de 100 pessoas diretamente por mês e no minimo durante uma temporada de 1 ano,trazendo uma qualidade de produção para o Brasil que nunca foi vista.
    O que o MInc precisa separar é o incentivo cultural do Marketing Cultural.

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