A Lei Rouanet é filha do Consenso de Washington, iniciado em 1990, por Bush Pai, e finalizado semana passada, por Gordon Brown, no G-20, ou seja, a Lei que era um papo cansado há 2 semanas, agora é um papo extinto. Se o Mercado não tem condições de gerir a si mesmo, pode gerir a arte do país?
Antes da desmoralização do Mercado, a Lei tropeçou em questões que nada têm a ver com regionalismos, como o desinteresse, quase unânime, do empresariado brasileiro por arte, e sua execução por empresas estatais, com perigoso espírito político.
Com as privatizações de 1996, os tropeços se acentuaram, houve uma queda monstruosa nos patrocínios via Rouanet que, a partir de então, estacionaram nas estatais que escaparam das privatizações, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Correios, ou nas empresas que criaram fundações próprias para investir em cultura, como o Banco Itaú. Dos 13 maiores patrocinadores da Rouanet, em 1997, 11 eram estatais.
Os petistas encontraram esse panorama, em 2003, e continuaram trabalhando com ele, normalmente, até 2008, aprovando excrescências como o caso do Cirque de Soleil e Banco Bradesco.
Lida, a proposta tardia de reforma que pretende dar sobrevida à Lei Rouanet é stalinista.liberal, e pretende dividir o controle das verbas de patrocínio com empresários e fundações, o que será tão ou mais perigoso politicamente do que já é. Estranho é que esteja sendo feito em tom de campanha, à beira das eleições de 2010.
O Brasil precisa de um Ministério da Cultura preocupado com a junção de artistas e consumidores, que separe o fazer artístico da inclusão social, e o entretenimento da cultura popular, porque essa mistura não está sendo boa para nenhum dos segmentos. E esse Ministério precisa de uma legislação que facilite o encontro do criador artístico, do que faz bem teatro, música, artes visuais, literatura, etc., com o seu consumidor, com aquele que gosta de literatura, música, artes visuais e teatro… Esse é o futuro.
A Lei Rouanet não tem passado, presente ou futuro. Quer ver? Pare e pense como a Lei Rouanet te serviu de 1991 até agora…
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1- Os patrocínios via Lei Rouanet favoreceram poucos projetos em 1995, R$ 50,55 milhões de reais distribuídos com 165 atividades culturais. Desse total, 27,31 milhões, 54% dos patrocínios, foram destinados a 10 projetos, com uma característica predominante: são recursos de grandes empresas que constroem ou sustentam instituições culturais controladas por elas mesmas. O Banco Itaú gastou em 1995 R$ 627 milhões para finalizar a construção de seu espaço cultural na Avenida Paulista, mais R$ 2,89 milhões em atividades. Desse valor, abateu R$ 7,78 milhões de imposto. Os R$ 9.16 milhões aplicados pelo Itaú equivalem a 18,1% de todo o patrocínio incentivado por Lei. O diretor superintendente do Itaú em 1995, Sr. Mange, alegou “que há pouca competência dos produtores culturais para conseguir patrocinadores.” (S/a, BH, 8.3.1996)
2 – Telebrás: R$ 10,92 milhões; Telesp: R$ 10,68 milhões; Banco Itaú: R$ 8,87 milhões; Petrobras: R$ 7,6 milhões; Telemig: R$ 6,93 milhões; Volkswagen do Brasil: R$ 5,11 milhões; Embratel: R$ 4,31 milhões; Eletrobrás: R$ 3,97 milhões; BNDES: R$ 3,41 milhões; Telerj: R$ 3,07 milhões; Petrobras Distribuidora: R$ 2,56 milhões; Furnas Centrais Elétricas: R$ 2,12 milhões e CCBB: R$ 1,89 milhão.
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poeta, havia lido este seu texto no jornal de papel, gostei muito. beijos Ló
Nossa Caro leonardo, esse panorama apresentado por você é revoltante!!
Nós sabemos das coisas mas com esses números tão esplicitos o quadro só piora...e agora?!o que fazemos diante disso? Já atuo na área de produção cultural em pequnos projetos a algum tempo e agora estou concluindo a graduação em produção cultural pela UFF...o que podemos fazer diante disso já que não temos um movimento social forte a ponto de ir para as ruas lutar pelo que é nosso?!
Esse Sr.Mange superintendente do Itaú deveria experimentar não usar o nome e o cargo dele no itaú e levar um mês como um mero produtor desconhecido tentando captar um recurso , tentando conseguir um patrocinio nas empresas com um bom projeto em mãos, mas sem nenhum nome reconhecido na mídia pra ver o que ele conseguia para saber se ele é melhor do que os produtores que ele AFIRMOU NÃO TEREM COMPETÊNCIA!!!
Revoltante !
Olá, o texto é de Aninha Franco e o Sr. Mange já não está mais no Itaú Cultural há muito tempo. Essa declaração é de 1995. Abs, LB
A Aninha Franco tem em seu pequeno texto alguns trechos dos mais lúcidos dentre todos estes artigos e comentários sobre a almejada, ainda que inútil, política cultural, que já sabemos, irá resultar em NADA, ou no mínimo na continuação da mediocridade crescente.
Desde 1963 até 1980 houve um desmonte bem articulado em certas áreas da vida brasileiro, desmonte este que depois foi andando sozinho, com efeitos se espalhando,como consequência ou reação em cadeia, através das gerações... Negócio bem feito.
O desmonte começou nas reformas do ensino. O pretexto foi tirar um suposto cunho "elitista" do ensino, o que significou na verdade tirar da criança e do jovem todo instrumental para desenvolvimento da inteligência - Os professores atuais, em todos os níveis, do ensino básico ao universitário, são produtos destas reformas. A baixa qualidade do ensino produziu e produz, cada vez mais, mediocridade, e desinteresse claro pelo conhecimento, pela reflexão e consequentemente pelo teatro, artes visuais, cinema, etc.
Não será Lei Rouanet que irá solucionar este trágico contexto.
Aponte outra saída! Tenho meus olhos atentos para ler a grande novidade estampada neste site!
Reclamamos que o governo não faz nada que a gente pensa ser melhor para "todos". E quando nos dão uma opção... com estatais, sem estatais, de utilizar um canal de impostos... uma nova crítica... e a palavra stainista liberal é meio ridícula... você tentou ser mais cult do que já é?
Vou tentar escrever um texto com opções, Joana.