Meses conturbados para a nova Ministra da Cultura Ana de Hollanda. Fizemos essa entrevista por telefone na quinta-feira passada (5/5) em meio a um turbilhão de acusações pessoais e uma campanha aberta para tirá-la da Esplanada. Ela fez um balanço do governo até aqui, falou de sua relação com Dilma e explicou como tenta driblar a crise que assombra o MinC.
Leonardo Brant – Como foram esses quatro meses à frente do Ministério da Cultura?
Ana de Hollanda – Estamos trabalhando junto com secretários e presidentes de vinculadas na organização do ministério que desejamos, um ministério de ação, voltado ao cidadão e ao centro da cultura, que é o cidadão criador. Fizemos um amplo balanço dos projetos, programas, seus encadeamentos e potencialidades. Isso foi feito logo no primeiro mês de gestão. Já havíamos sentido a necessidade de promover algumas mudan ças nas secretarias. Já havíamos convidado a Marta Porto (Cidadania e Diversidade) e a Cláudia Leitão (Economia Criativa). De cara percebemos o sombreamento entre diversas atividades do Ministério. Quando entrei na Funarte, ha oito anos, já tínhamos essa preocupação de eliminar o sombreamento, mas na prática ele voltava. Pensamos em criar uma nova estrutura conciliando secretarias temáticas com secretarias transversais. O mais importante é permitir a integração das ações. Em várias ações elas estão trabalhando de forma integrada. Esses meses foram de organização, da questão administrativa e financeira. Fizemos um balanço do que nós encontramos e como iríamos lidar com as questões urgentes e prioritárias, já que tínhamos que liberar verbas e regularizar pagamentos atrasados, e ao mesmo tempo lidar com tudo isso de forma organizada, com uma metodologia de trabalho que nos ajudasse a reconhecer os problemas e ao mesmo t empo dar soluções rápidas. Um processo normal de início de governo.
LB – E a relação com o governo Dilma?
AH – A presidenta Dilma teve uma preocupação de aproximar e estimular a integração dos ministério do seu governo, tanto pela situação políico-econômica atual, como também pela maneira como a presidenta enxerga a gestão pública em seu governo. Passamos a procurar programas conjuntos com vários ministérios, sobretudo o da Educação, Secretaria da Mulher, Sepir. Já criamos grupos de trabalho para atuar nessas áreas. Foi um período denso e de muito trabalho, para montar uma nova estrutura ministerial e desenvolver diretrizes, de forma organizada e integrada.
LB – Qual a principal marca da sua gestão até aqui?
AH – Não tenho dúvidas em apontar o trabalho com o cidadão como elemento central no Ministério. O cidadão é o foco de atenção da cultura. Aquele que cria, produz e também o cidadão que precisa de acesso e precisa consumir mais cultura. Isso é algo que perpassa todas as secretarias do MinC. O Audiovisual, o Livro e Leitura, enfim todos estão focados na questão da cidadania e do trabalho com o cidadão. O ponto de avanço, que talvez diferencie um pouco o trabalho desta gestão em relação à anterior, é o foco na criação. A questão da diversidade cultural passa a ser vista não somente como o reconhecimento da nossa rica produção cultural, mas também pelo estímulo à criação.
LB – A criação da Secretaria de Economia da Cultura tem a ver com isso?
AH – Sim, a secretaria de economia criativa veio muito nesse sentido. Como trabalhar com a nossa rica diversidade desenvolvendo talentos, gerando riquezas, sem gerar uma dependência e uma insegurança em relação aos mecanismos de financiamento. A secretária Claudia Leitão está desenvolvendo um sistema de informações que nos ajudará a mapear as nossas potencialidades econômicas, criar um olhar sensível sobre as áreas de desenvolvimento e as cadeias produtivas. Daí em diante vamos pensar e agir na sustentabilidade desse sistema, criando clusters, arranjos produtivos, e trabalhando com agências fomentadores para pensar a distribuição dos recursos em atividades encadeadas e colaborativas, para que o Ministério não se cristalize como um balcão de financiamento de projetos e possa pensar no desenvolvimento local como um todo, gerando sustentabilidade, baseada sobretudo na emancipação dos agentes criadores locais.
Precisamos ter um desenho claro sobre o quanto a cultura representa no mundo econômico, para avançar com as políticas, conquistar mais prestígio com a sociedade e com o próprio governo, já que existe por trás da questão econômica algo muito maior e mais potente que é o valor simbólico da nossa produção.
LB – Podemos apontar a gestão pública como um ponto positivo do Novo MinC, do ponto de vista interno, governamental, e Cidadania e Criação, com elementos externos, de diálogo com a sociedade?
AH – Acho que sim. Você, desse jeito, sintetiza muito bem aquilo que estamos fazendo. Há algo mais a ressaltar. Existem vários programas, várias frentes interministeriais em que a cultura tem um papel estratégico, de destaque: na visão geral do Planalto, a cultura vai trabalhar com a linguagem do cidadão. Por exemplo, o Fórum de Direitos e da Cidadania é um dos quatro grandes eixos do governo da Presidenta Dilma. Este fórum, coordenado pela Secretaria Geral da Presidência da República, já contava com a subcoordenação da Secretaria de Direitos Humanos, da Secretaria da Mulher e da Secretaria da Promoção da Igualdade Racial. No início dos trabalhos, o Planalto constatou a necessidade de incluir o Ministério da Cutura na subcoordenação deste eixo, que é fundamental ao desenvolvimento cidadão do país, ao considerar sua capacidade de trabalhar valores simbólicos de autoestima e cidadania. Estamos conseguindo inserir a pauta da cultura nos grandes programas governamentais, daí a decisão da presidenta de entregar ao MinC a coordenação das 800 Praças do PAC, que é um programa de vários ministérios. O mesmo aconteceu em relação à questão da Copa do Mundo, na qual fui chamada para coordenar ações planejadas para uma presença maior dos elementos culturais nesse grande evento de 2014.
LB – Como o governo está enxergando a crise enfrentada pelo Ministério da Cultura?
AH – Em primeiro lugar, o Planalto não exerga como uma crise, mas, sim, como uma campanha orquestrada para fragilizar o MInC e o governo Dilma. Uma tática muito usada durante a campanha. Por isso mesmo, conto com o apoio e a solidariedade da presidenta e estamos enfrentando essa questão junto com o gabinete, com a equipe mais próxima da presidenta.
LB – O quanto isso atrapalha a sua gestão?
AH – Trato essa campanha como um elemento externo ao Ministério. A ordem aqui dentro é trabalhar. Priorizar a resolução dos problemas. Encontrar soluções para os cidadãos. Realinhar a política cultural segundo os novos desafios do governo Dilma. Já estamos regularizando os pagamentos atrasados de 2010 dos pontos de cultura, mais cultura, dos editais, preparando novas ações, priorizando as propostas com o Congresso, como o apoio aos projetos do Procultura, Sistema Nacional de Cultura e Vale-Cultura, além de estarmos preparando o Projeto de Lei do Direito Autoral para o Legislativo. Trabalhamos muito para tornar o projeto mais abrangente e democrático. É claro que enxergo bem uma campanha difamatória para desqualificar e desestabilizar nosso trabalho, que acaba nos dificultando um pouco, pois poderíamos estar 100% concentrados numa pauta propositiva. Mas a melhor resposta que tenho é mostrar serviço.
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…
View Comments
comentar o quê?
Sem comentários.
Previsível.
Aliás, Leonardo Brant, aproveitar a fala da ministra pra demonstrar que você tem capacidade de síntese é tão desnecessário... "AH - Acho que sim. Você, desse jeito, sintetiza muito bem aquilo que estamos fazendo."
Muito boa a entrevista, esclarecedora e tal, valeu o esforço de reportagem etc. Mas muito chapa-branca.
Acho que é bem vinda esta proposta de organizar a casa, de se estudar economia cultural e principalmente de colocar em pratica isto.
Leonardo Brant,
Isso não é uma entrevista, é uma propaganda. Concorda?
1. Não trouxe absolutamente nada de novo;
2. não abordou nehum ponto polêmico, o que é incoerente quando você menciona que há uma crise envolvendo o minC.
3. Você, competente que é, sente a necessidade de falar pela Ministra:
"LB – Podemos apontar a gestão pública como um ponto positivo do Novo MinC, do ponto de vista interno, governamental, e Cidadania e Criação, com elementos externos, de diálogo com a sociedade?
AH – Acho que sim. Você, desse jeito, sintetiza muito bem aquilo que estamos fazendo.
4. Deu um espaço para a sua tese, baseada num ressentimento pessoal, de que há "uma campanha orquestrada para fragilizar o MInC".
Lamentável e sobretudo, dispensável a entrevista.
Sua entrevista pareceu mais "política de boa vizinhança". Há dias tento contato com o Minc, via mail, via comentários e... nada. Acho que não é assim que se mostra trabalho. Como sempre a culpa é da gestão passada.
MÍDIA, PEIXADA E REVOLUÇÃO...
Acabei de ouvir na Rede Globo – Jornal Nacional - dia 10/05/2011, às 21h: “a ministra Ana de Hollanda recusa dá explicações ou entrevistas sobre as diárias, e sai escoltada por policiais, após um evento cultural”.
Após esse episódio patético, li e reli a entrevista colocada no espaço ”Cultura e Mercado” e fiquei satisfeito com o “solo de trombone” da ministra Ana de Hollanda. A orquestração da mídia brasileira pode executar um “choro”, um “blues”, e até uma “marcha sacana”: a marcha da desmoralização pública. Penso eu que Ana de Hollanda deveria ter feito um “solo” bem ao gosto popular, e escancarar algumas relações ”Rede Globo X MinC”. Ainda pode dá a resposta em forma de cultura... Eu acredito na ministra!
A quem interessa toda essa polêmica? Sabe-se que o país enfrenta uma série de questionamentos morais sobre administrações passadas e atuais, em todos os setores governamentais... Incluem-se os governos municipais e estaduais! Quem é santo neste país? Hipocrisia de mídia é algo condenável! Será que os donos das mídias viraram os novos paladinos? Qualquer cidadão é inocente até que se prove o contrário... É um direito previsto na constituição! Não acredito que Ana de Hollanda se queimaria com míseros reais! Nunca ouvi algo que comprometesse sua reputação pessoal! É sacanagem da grossa! Não sou advogado! Procuro ser justo!
Acho ainda que a ministra, deve continuar no cargo e bater de frente com essa “turma”! Eles se escondem em nome do “novo”! É a geração “libera tudo”! Não esqueci do caso “FMB 2010” e a dificuldade em receber os cachês artísticos com mais de 90 dias de atrasos. A administração era do ex-ministro “Juca Ferreira”. Consegui receber essa “grana”, pelo trabalho realizado, após um manifesto publicado na imprensa! A ministra mostrou solidariedade... E pagou os cachês atrasados. Não tenho medo em apoiar, quem eu acho que é inocente! Não dependo de “teta gorda” governamental! Sempre trabalhei de forma independente... Ana de Hollanda é vítima de campanha maldosa! Coisa de criador de cultura, que não tem talento e nem sabe reivindicar com objetividade. O que querem?
O que se vê nesse jogo “imbecil” entre produtores culturais, e outros, são uma total falta de sintonia! O que se quer para a cultura? Grana? Leite para os inocentes? Cama, mesa e banho? Doce? Projetos? Mostrem a cara... Parem com isso! Cultura é algo mais sério... É sacerdócio! O Estado brasileiro precisa de seriedade em lidar com essa gente! Existem milhares de cidadãos (nos confins) do país, sem leitura, sem água potável, sem transporte, sem saúde e entregues aos jogos regionais, políticos, dos poderes públicos locais... Enquanto isso, alguns “filhinhos de papai”, ou recém saídos das melhores universidades brasileiras, divagam sobre cultura, sem ter comido o “pão que o diabo amassou”. O que é cultura? Respondam! Mandem soluções! Existe uma síndrome de reuniões entre “pensantes brasileiros”, que justificam tudo isso como se fosse democracia! O que é democracia? O acesso ao pão, ao livro, à leitura, ao resgate das tradições locais e repasse do conhecimento para as futuras gerações, é prática cultural, e deve ser a política implantada para quem “está ministra”. Se isso não ocorre ou não se pretende mudar os rumos, não se pratica democracia cultural! O resto é conversa! É masturbação cultural de elite!
Continuo achando que a ministra Ana de Hollanda deve fazer um “solo” barulhento, em seu trombone! Esse país não é sério! E quem mexe (os que tentam puxar o tapete da ministra) com cultura é pouco confiável!
Desculpe! É um desabafo! Não tenho “rabo preso” com ninguém!
Abraços.
Lailton Araújo
Parabéns Leonardo, entrevistar a ministra da cultura nessa hora de celebração de 10 anos de C&M...e o tom leve e respeitoso é uma demonstração de dignidade, sabedoria. Esclarecedora a entrevista, está aí essa mulher valorosa, simples, interessada e comprometida que é nossa Ministra. Tomara que ela acerte, tomara que isso passe, essa onda ruim que tenta impedir, prejudicá-la. Tomara que a gente ultrapassa isso e se concentre no que é necessário. Muito boa a entrevista Leonardo, golaço do C&M. Agora é entrevistar a presidenta Dilma!
Leonardo, a entrevista é válida quando temos o esclarecimento de questões polêmicas. Mas nada foi esclarecido, infelizmente. Nem na coletiva que ela deu e da qual saiu escoltada.
Por exemplo, apesar de a Ministra afirmar, não vejo a integração entre Ministérios, ao contrário, pelo que tenho acompanhado, ela se mantém distante de certas casas. Rever e retomar a política do Ecad seria o foco no cidadão produtor da Cultura? Não sei. Parece-me que são muitas incoerências pra uma pessoa só.
#FronteirasSP
Trabalhamos muito para tornar o projeto mais abrangente e democrático. É claro que (NÃO) enxergo bem uma campanha difamatória para desqualificar e desestabilizar nosso trabalho, que acaba nos dificultando um pouco, pois poderíamos estar 100% concentrados numa pauta propositiva. Mas a melhor resposta que tenho é mostrar serviço.
NÃO FALTOU UM NÃO AQUI?
LEO ACHEI A ENTREVISTA FRACA, SEM NOVIDADES. DE QUALQUER FORMA É UM MÉRITO E UM RECONHECIMENTO PELO TEU TRABALHO E ESFORÇO TÊ-LA CONSEGUIDO.