Na última quarta-feira (1/6) estive no auditório MIS para uma discussão promovida pela Folha de S.Paulo sobre financiamento à cultura. Junto comigo estavam Henilton Menezes, secretário de fomento do Ministério da Cultura, André Sturm, novo presidente do MIS, e o dramaturgo Leo Lama, mediados pela jornalista da Folha Ana Paula Sousa.
Diante de temas tradicionais e previsíveis, como Procultura, Vale-Cultura, infraestrutura, fomento e necessidade de investimento em pesquisa e formação, uma questão inusitada proposta por Leo Lama monopolizou as discussões da sala, trazendo revolta e discussões acaloradas no palco e na plateia.
Para Lama, resta ao artista a submissão a um mercado dominado e corrompido por mediadores, intermediários e agentes alheios aos processos criativos, que consomem cada vez mais os recursos que deveriam estar nas mãos dos artistas.
Qual o limite do profissional e do amador na arte? Como fica a relação entre um bom artista que não consegue viver exclusivamente da arte e um mau artista que consegue pagar suas contas apenas com a atividade criativa, pergunto eu? O critério de distinção seria então, entre o bom e o mau artista? É possível estabelecer critérios claros de qualidade artística diante das novas possibilidades de criação das tecnologias de informação e comunicação? Quem dita esses critérios: o mercado, o Estado, a sociedade?
O mais curioso é que eu tinha acabado de sair de um seminário sobre Economia Criativa, promovido pela Vivo e Fundação Telefônica, onde participei de uma mesa sobre governança. Na parte da manhã, Clay Shirky, autor de “A cultura da participação”, propõe justamente uma reavaliação entre o criador amador e o profissional na relação com a mídia participativa.
A relação deste assunto com as novas forças e concepções que norteiam a política cultural brasileira merecem atenção. Saímos de uma era que considera possível avaliar a Relevância Cultural de um projeto, para um tempo de olhar para quem está criando. Que olhar deve ser este? Como ele pode ser traduzido em mecanismos de financiamento à cultura e à arte? Um bom debate.
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…
View Comments
É inaceitável o desrespeito que alguns "artistas" tem em relação ao Produtor Cultural que trabalha dia e noite para que o artista chegue a um maior número de pessoas. O sr. Léo Lama é o retrato claro desse desrespeito. Os produtores competentes e sérios não tem nada haver com o fato de o Sr. Léo Lama trabalhar ou ter trabalhado com produtores culturais corruptos e um Mercado desonesto.
Eu até acredito que ele queira banir esse tipo de profissional, mas não pode generalizar e colocar todos no mesmo saco.
Com relação ao mau artista e o bom artista, quem define é a sociedade. Simples assim. Um artista pode ser péssimo para um coletivo e maravilhoso para outro. Cabe cada artista junto com seu produtor buscar o caminho da indentificação, numa sociedade modernamente complexa como a atual. São milhões de mercados e mesmo artistas massificados são desconhecidos para diversos grupos.
Em um mundo em beta e a arte com um dos poucos caminhos possíveis para desenharmos essa jornada. Quem é amador e quem é profissional?
Nesse momento complexo, em que os agentes da cultura perguntam-se sobre a importância participativa dos outros elementos do jogo, torna-ser importânte observar não só o que é um bom artísta ou um bom produtor, mas também um bom mercado e por que não um bom público.
Não é fácil para nenhum destes elementos definirem-se, além desta crise, provinda da complexidade atual dos mercados, estar permeando todos, como exemplo a baixa na audiência da Rede Globo de televisão.
Legar ao tempo a decisão sobre o que é relevante é fácil, mas não sólido, pois como então escolher ,agora, entre milhares de projetos de artistas novos.
A melhor saída é a observação do trabalho como meta operacional.Cada artista envolve-se com um certo grupo de pessoas e seus networkings(abaixo o networking!), acabar com a política de -"me ajuda que sou seu amigo" é a primeira providência clara para os artistas tornarem-se mais "profissionais".
Para os selecionadores de projeto, observar mais a distinção estética que os grupos desenvolvem, não somente o NOME de relevo, que parece tornar o projeto já pré-selecionado, abrir a curiosidade para o novo e deixá-lo ter um financiamento cultural para nascer e crescer.
Para as politicas públicas a observação de meios mais objetivos para dar conta da diversidade cultural.
Para os produtores o bem vindo diálogo artístico e a observação de que alguma coisa tem de mudar no cenário cultural brasileiro.
Enfim para todos os envolvidos uma redefinição dos padrões petrificados do fazer artístico, sem julgamentos morais do que é bom ou ruim, mas sim com metas objetivas de desenvolvimento.
Somente repensando cada elemento, rediscutindo em o cunho moral, mas sim ético, podemos criar uma abordagem participativa entre o pensar, fazer e produzir arte no Brasil.
Qual a importância de se falar/tratar uma pessoa, o ser artista no caso, de amador ou profissional? Quem ganha com essa classificação? E quem perde com isso? A submissão a esse mercado dominado e corrompido por pessoas alheias aos processos criativos, só se permite quem não é criador, quem não é artista, quem só faz seu nome às custas dos interesses comerciais. É deplorável querer impor limites a Arte, seja profissional ou amadora!
Quanto a pergunta feita sobre a relação entre um bom artista que não consegue viver exclusivamente da arte e um mau artista que consegue pagar suas contas apenas com a atividade criativa, só me ocorre a possibilidade assistencialista para que esse bom artista sobreviva.
Sobre estabelecer critérios de qualidade artística diante das novas possibilidades de criação das tecnologias de informação e comunicação, talvez a melhor forma de avaliação seja o do bom senso, inclusive para ser ditado, pela tríade mercado, Estado e sociedade.
O problema do artista de 2ndjob é um problema social e economico, não um problema ético, moral, tampouco subjetivo, de modo que chega a ser cruel apelar para idéias do tipo "favorecer os fiéis que roeram o osso"...
Quando a ação de fomento à arte e cultura for de fato socialmente percebida como relevante, claro que um enorme contingente de "artistas" assumirá genuinamente esta situação como oportunidade.
O caso mais notorio a esse respeito é o cinema dinamarques dos anos '80, que viveu os efeitos do cinema ser tratado como questao do "bem-estar-social" e não meramente da cultura... lições para uma total carencia de modelos de gestao e de minima transsetorialidade entre MinC, MT, MF, MDS...
Minha tese de doutorado, cuja banca será dia 21 próximo, trata exatamente dessa questão, no caso do teatro: onde está sua autonomia de se pensar como arte existindo numa fronteira (ou seria encruzilhada) entre o mercado (de um lado) e o Estado (oscilando entre o dirigismo cultural ou a ausência, de outro). Analisei a produção teatral baiana dos últimos 22 anos e, entre avanços e recuos, o protagonismo e a liberdade da arte teatral são os menores possíveis!
Por isso, e sob o impacto avassalador de uma cultura que migra de um modo analógico para digital (palavras suas, Leonardo), a questão da arte, da sua necessidade, de sua função, arte para que? para quem? de quem? por quem? como? quando? onde? pairam sobre nós como espectros. Ou seriam esfinges?... Quem souber, me diga!
Por que no futebol pode existir as categorias profissional e amador?
E por que, ainda assim, o futebol não deixa de ser um incrível sistema que, entre outras coisas, permite a inserção social de meninos carentes que mostram talento 'em campo', que permite a integração social de milhares de crianças em atividades recreativas, que permite a existência de cartolas também, que permite a existencia de hierarquias de base, de grupos reguladores e, mais ainda, que permite que, além de tudo, ele seja um entretenimento de milhares?
Essa conversa é de artista/produtor que ta precisando de carro zero ou geladeira nova?
O artista da corte éra o bobo
Da burguesia é o loco
Da comuna o baba ovo
E quem não é artista é do povo