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Artes sob Pressão


A serviço das instâncias de poder, sustentadas entre si, como nos dias de hoje, atuam os sistemas financeiro, governamental e mídia. A arte assume uma preocupante função apaziguadora e definidora dos modos de vida e costumes. Joost Smiers, em Artes sob Pressão (2003), pergunta “onde os conglomerados culturais podem espalhar suas ideias sobre o que deve ser a arte, a questão crucial é: as histórias de quem estão sendo contadas? Por quem? Como são produzidas, disseminadas e recebidas?”

Para Smiers (2003), as obras de arte tornaram-se veículos com mensagens comerciais e “têm a função de criar um ambiente no qual a produção do desejo possa acontecer. Esse contexto é frequentemente cheio de violência”, diz.

A indústria audiovisual e seu extremo poder de alcance, das salas de cinema aos lares de todo o planeta, por meio de DVDs, games e websites interativos, é o melhor exemplo disso, como aponta o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de 2004, intitulado Liberdade cultural num mundo diversificado. De acordo com o documento, o comércio mundial de bens culturais – cinema, fotografia, rádio e televisão, material impresso, literatura, música e artes visuais – quadruplicou, passando de 95 bilhões de dólares norte-americanos em 1980 para mais de 380 bilhões em 1998. Cerca de quatro quintos desses fluxos têm origem em 13 países.

Segundo o relatório, Hollywood atinge 2,6 bilhões de pessoas e Bollywood (indústria de cinema indiano) cerca de 3,6 bilhões. O domínio de Hollywood é apenas um dos aspectos da disseminação ocidental de consumo. “Novas tecnologias das comunicações por satélite deram lugar, na década de 1980, a um novo e poderoso meio de comunicação de alcance mundial e a redes mundiais de meios de comunicação como a CNN”. O número de aparelhos de televisão por mil habitantes mais do que duplicou em todo o mundo, passando de 113, em 1980, para 229, em 1995.
Desde então, aumentou para 243.

O resultado disso é a criação de um padrão de consumo global, com “adolescentes mundiais” compartilhando uma “única cultura pop mundial, absorvendo os mesmos vídeos e a mesma música e proporcionando um mercado enorme para tênis, t-shirts e jeans de marca”, afirma o relatório.

* trecho do livro O Poder da Cultura

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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  • e a resposta a tudo isso será...a Lapa?...francamente...é lindo que seja assim, é jogo de cachorro grande e o melhor de tudo: tem jogo! Temos potência, somos um gigante ( adormecido ainda...é verdade). A questão é entender o problema, se informar do problema e avançar...
    Quais os critérios de subsídios que vão vigorar internamente se queremos participar dessa competição? Como vamos nos organizar? O empresário paulista que decide trazer o musical pronto e pretende transformar Sp em Broadway não faz isso só porque é alienado de formação, faz porque tem lucro, sai mais barato alugar o figurino com o dolar barato, o direito de autor é mais barato, quanto custa colocar o Chico Buarque para escrever um musical? Tem preço? O de lá vem barato, testado, calibrado, o diretor vem de lá mais barato, e os atores...precisa? Coloca uma máscara e nem diz o nome...já é. E ai? Ai ainda tem incentivo fiscal...quem faz o nacional é antes de tudo um herói, um sonhador...ir pra Lapa tomar cerveja e batucar não é saída, é beco sem saída, somos um gigante, podemos encarar, já temos tradição e temos o samba e o carnaval, no mínimo. Chorinho é muito sofisticado pra ficar só na Lapa, luxo para todos. Sem provincianismo é preciso priorizar a Cultura, enfrentar a competição com o hegemon e avançar sobre a Nova Cultura. O resto é a picuinha triste, sórdida, provinciana, atrasada, mesquinha, bem típica da terrinha.

  • Gil, o mercado que você quer, só em mesa mediúnica!

    Você, com esta observação, fez lembrar aquela história do Saldanha no JB, quando o técnico Cilinho barrou o Falcão recém-chegado da Itália e com o título de rei de Roma. E Saldanha lascou essa dos bons tempos do JB, com esta manchete: "O Técnico do São Paulo está confundindo as coisas, ele pensa que é o Cilão e está barrando o Falquinho".

    Como você bem sabe, Gil, o grande Ary Barroso gostava de repetir que não existia sambinha e nem chorinho, ok Gilzão!

    A monumental obra de Villa Lobos, as do Tom, as pérolas de Edu Lobo, grandes melodistas, além é lógico dos grandes, Pixinguinha, Garoto Hermeto, Moacir Santos e milhares de monstros sagrados que têm o choro como fonte sagrada de suas obras. E é natural que não tenhamos a compreensão deste monumento chamado choro, pois as nossas escolas oficiais sempre viraram as costas para o Brasil e ensinaram isso à sociedade.

    Quando citei a Lapa, citei como um polo, assim como os cassinos que movimentaram a economia cultural carioca na era de ouro da nossa música. Desprezar o potencial da Lapa ou o potencial desse universo a céu aberto e ficar acendendo vela para o defundo do mercado fonográfico, é um saudosismo teimoso.

    Grande abraço.

  • Carlão, vamos colocar as coisas no lugar pra não embolar nem distorcer o debate. O mercado fonográfico pertence a velha Ordem em processo de extinção, estamos de acordo. Com isso foi-se a capacidade de geração de riquezas e renovação da música brasileira. Mas a Nova Cultura está aí e se organiza pelo mundo ( anteontem passou na Inglaterra a lei que determina o controle dos provedores e da circulação de arquivos, informe-se, vale a pena), ainda não chegamos lá e estamos por fora. Temos que acender mais que velas, todos os holofotes para isso, caso contrário a Música Brasileira dançou.
    A Nova Ordem da Nova Cultura há de nos alcançar, não podemos é ficar esperando 10, 20 anos por isso.
    Quanto aos polos, ou focos, talvez haja uma distorção de perspectivas. A ação cultural foquista considera o estabelecimento de polos como prioridade. Não se trata de dispensar nada, nem os polos, se trata de valorizar a disputa pelos espaços hegemônicos internamente. Não há porque dispensar nosso maior mercado e mais importante, nos grandes centros urbanos de maior concentração populacional, e entregá-los de mão beijada à produção global, seria uma opção entreguista. Nossa capacidade de produzir e ocupar os espaços hegemônicos deve ser garantida pelos instrumentos institucionais que dispomos e uma política cultural nacional tem o dever de agir nesse sentido. Os pontinhos de cultura são importantes, mas temos que olhar para os PONTÕES.

  • Gil
    Posso cometer aqui uma enorme ingenuidade, mas não consigo ver o que você coloca, (mas vou seguir o seu conselho) e me aprofundar mais nessa questão que você sugere.

    A minha grande dúvida é que o nível de concentração num determinado artista ou num determinado gênero tende, por questões óbvias de falta de retorno massivo, a ser menos potente. Além dos downloads, pirataria e etc., a própria democracia da informação que a internet nos permite, como o nosso debate aqui, o "pensamento único" talvez não seja mais assim tão único.

    No último pleito à presidência, e isso foi amplamente debatido, a combinação das políticas sociais do governo Lula com a contra-mídia que aconteceu na internet, foi um fator decisivo na vitória de Lula.

    A questão, a meu ver, continua sendo a crescente onda institucional da doutrina em determinada ditadura técnica na música, aonde a criação é abandonada, numa escalada que me assusta, por certa pedagogia da batuta, e isso neutralizar a sociedade e, consequentemente os seus criadores.

    Pretendo ainda escrever sobre essa delicada questão, mas Villa Lobos já vinha denunciando a crescente onda mundial que ele classificava como, a formação dos músicos papelórios.

    Mas como você disse, não devemos desprezar nada. Há uma mudança no xadrez geopolítica global, e o Brasil, por uma série de aspectos, sobretudo como matriz energética das mais potentes, está no páreo. E antes de qualquer coisa, ele tem que se fortalecer internamente, assim como um judoca, com as bases bem firmes. Não podemos imaginar que, sem o pacto federativo, sem uma política de Estado para a cultura, conseguiremos construir determinada infraestrutua que dê conta dessa nova cultura que você bem observa.

    Abração

  • Permita-me recolocar o debate. Vivemos uma era de deslocamentos, de tensão entre o global e o local, entre o Estado e o mercado. Como fica a arte e o artista nisso tudo? O Ministério da Cultura fala em dimensão simbólica, mas cadê o respeito, as ferramentas, o fomento, a pesquisa, a estética, a linguagem nas políticas culturais?

    Outra coisa: existe, na orientação político-ideológica governamental, uma tensão fabricada entre a arte contemporânea e cultura popular? Uma só pode existir em detrimento da outra?

    Gostaria muito de ouvir a opinião de outros leitores e membros da rede, de abrir mais o debate. Alguém se habilita?

    Abs, LB

  • Acho que existe sim uma tensão provocada que instiga a separação entre arte contemporânea e popular mas não creio que ela seja fabricada somente no âmbito político-governamental - este sim um ponto do debate que me interessa muito e para o qual gostaria de ouvir opiniões divergentes. Penso que esta tensão vem de uma longa e histórica separação, provocada inicialmente pelo mercado e depois absorvida nas instâncias políticas por influencia do primeiro.

    Esta questão era foco da monografia da primeira pós graduação que fiz, em história da arte. Querem um dado engraçado? Tive enorme dificuldade de conseguir orientador. Ninguém queria se comprometer com uma tese de cunho político e que alfinetava o mercado. Tive que mudar o foco do tema e a questão passou a ser parte (não desisti!) da monografia, mas não o seu eixo-principal, uma vez que me vi obrigada a fazer outro tema, senão não concluiria o curso por falta de orientador. Espantoso? Aconteceu na PUC-Rio no final dos anos 90.

    Mas eu acredito que o PODER de mudança está nas mãos do governo, através da pesquisa, do fomento e da difusão. Sim! Ao invés de ampliar a tensão - assim como têm feito entre norte e sul do país, como se não fôssemos uma coisa só, por mais diversos que sejamos neste paisão de mega dimensões - a meu ver, o governo seria capaz de eliminá-la ao assumir ações nesta direção. Mas não o faz por força do mercado, da corrupção, dos lobbies de quem quer manter, por interesses econômicos, este afastamento que aos meus olhos é absurdo, antiquado.

    Não gosto dos comentários longos, então fico por aqui, mas gostaria de debater mais este ponto e vou esperar ansiosamente que alguém complemente ou rebata este comentário. Abs!

  • O problema é que essa era de deslocamentos só tem um sentido, de lá pra cá...então fica difícil debater por aí, talvez fique vago...a questão do Estado e o mercado da cultura no Brasil é velha, vem de longe, não há capital no capitalismo daqui, dependemos de capital, então...tem que convocar a Viúva ( o Estado). Mercado nós temos, e quem explora? Se quisermos participar ou nos associamos às grandes corporações ou ao Estado. A experiência democrática recente definitivamente transformou o cenário ( e a crise também, falamos disso depois). O governo é cobrado, a sociedade quer políticas de Estado, inclusive na Cultura. Eu diria Sobretudo. A tentativa nativa é ganhar musculatura para a competição interna com a produção estrangeira, exuberante e poderosa, que conta com os meios. Antes de fomentar divisões internas ( o Ministro definitivamente não é o inimigo, nem a Petrobrás, nem o mercado, nem a lei Ruanet) é preciso estimular o entendimento interno de que temos capacidade unidos de projetar melhor nossa cultura, interna...e externamente. Mas antes é preciso o pacto. Nesse sentido os meios institucionais, geridos pelo governo, e submetidos a uma política de Estado voltada para os interesses nacionais, é que me parece a questão. A arte e o artista? Como disse nosso colega outro dia, a arte quer ser vista...vamos tratar de criar essas condições.
    Poxa, eu gostaria muito de ouvir o Brasil inteiro falando dessas coisas também.

  • Permitam-me participar do debate. Vivo de arte, vivo de escerver, produzir, criar, pago minhas contas com meu trabalho literário e teatral. Sou brasileiro, de estautura mediana, não tenho parentes importantes, nem dinheiro na conta, muito menos patrocínio; produzo por conta própria e por risco próprio, sobrevivo. Por mim, não existiriam Leis de Incentivo coisa nenhuma, porque acredito que isso não é mercado. É preciso coragem e trabalho para fazer sua arte num país como o nosso, não sou idealista, sou bem realista, se o fosse, já teria morrido de fome, mas o que a gente vê é que o Brasil está longe de ser um país em que o artista bom de fato viva decentemente do seu trabalho: por exemplo, nos EUA o escritor que é bom corre o risco de mandar um original para uma editora e receber em casa um cheque de 50 mil dólares, como ocorreu com o Stephen King no começo da acrreira. Aqui, a gente tem de ser amigo de alguém na editora ou ter sobrenome, ou pagar à editora como se ela fosse uma gráfica. (lanço no segundo semestre O Contador de mentiras pela editora Multifoco, selo Desfecho, sem gastar um tostão) No Brasil, não se valoriza o empreendedor cultural de qualidade, aqui se valoriza a herança, de onde você veio, da turma que você faz parte, do lado que você está. Todos vocês falam em mercado global, mídia, mas o verdadeiro artista não acorda preocupado com isso, ele acorda disposto a dar o melhor si, porque tem de fazê-lo, está em seu DNA. O que aborrece o artista é que a mediocridade, a falta de educação, o empobrecimento cultural do povo, e o sinismo oficial torna a cultura refém de poucos manda-chuvas que têm o poder de dar uma canetada e definir para onde vai o patrocínio, a renúncia fiscal, e o que as pessoas devem ver, ler, ouvir e até sentir. Sou um artista e creio que somente o trabalho sério num país sério, numa política séria e não paternalista, pode realmente mudar este quadro. Enquanto isso, fica esse blá-blá-blá de uma parcela dos artistas, os que estão no topo da pirâmide, e me desculpem se sou rude, o que não leva a nada. Essa "elite" cultural debatendo leis e políticas não me representa e nem a muitos artistas. Os artistas trabalhadores do interior e periferia - circenses, atores, pintores, escritores, bailarinos, músicos, criador de toda ordem - se vêem excluídos do debate, porque a gente não tem grana para ir à Brasília e tomar cafezinho com o ministro ou jantar num resturanete bacana como o produtor tal. Não uso leis de incentivo e nunca vou usar, porque acredito nelas, elas são um engodo, publicidade com dinheiro público. E se minha arte intereressa a alguém, esse alguém vai comprá-la independente de mídia e ptarocínio, e de fato, estão comprando há algum tempo e eu não ando na mídia, nem em Brasília e nem em bocadas globais. Eu ando aqui e agora, junto dos meus poucos leitores de carne e osso, dos meus poucos espectadores, e estudantes assustados, das pessoas da vida real. Global mesmo é a falácia. Abraço Fraterno. Francis Ivanovich.

  • vc tem o artista, vc tem o produtor cultural e vc tem o governo. cada um tem seu papel. o artista é por natureza marginal. ele questiona a sociedade. nao pode ser politico ou ficar preocupado c grana. pintar um quadro pra ganhar. fazer musica pra ganhar grana. o artista tem q criar. se vai vender, é outra coisa. dai vem o produtor cultural. o cara q ganha grana em cima do artista. as vezes junto. e o governo q tem grana pra divulgar tudo isso. escola de pintuta. tintas. telas. espaços pra exposição. teatros. ta tudo aí. é só saber usar. acho q o maior problema é q cada um só olha o seu umbigo. uns se achando melhores do q os outros. todos somos importantes. como uma colmeia. ou uma orquestra. temos q aprender a tocar em harmonia. todos tocando a mesma musica, no mesmo volume, nas horas certas. como uma seleção de futebol. tem o goleiro, tem o cara q faz gol, tem o técnico. na área cultural ta tudo meio bagunçado. e muito dinheiro jogado fora. muito dinheiro.

  • Se a discussão aqui é sobre a consolidação de um consumo global, não há como esquecer a história do país em que vivemos. Enquanto a glamurosa Hollywood surgia após um recesso do cinema europeu durante a 1a Guerra Mundial, nós estávamos aqui em guerra entre coronéis do café com leite e o tenentismo e, nosso ilustre Oswald Andrade, ainda vivia na Europa.
    Nossas questões de valorização nacional sempre estiveram às sombras de uma cultura muito potente e amadurecida com alguns séculos à frente.
    Acho que a questão não é a função do artista (alienado ou não), do produtor (que ganha dinheiro “nas costas” do artista, ou não), ou do Governo (que engatinha na área passos de deficiente mental), mas a noção de tempo e espaço da história mundial.
    Precisamos correr contra o tempo perdido para nos alinharmos e podermos entrar na luta de igual para igual. Não sejamos ufanistas e joguemos pedras no consumo global. Podem jogar pedras nos filmes de seção da tarde, mas lembre-se que todos consumimos “cultura estrangeira”.

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