Nessa terça-feira, dia 10 de maio, na Assembléia Legislativa de São Paulo a Ministra da Cultura, Ana de Hollanda, esteve frente a frente com artistas e representantes de entidades culturais, ladeada por maioria da bancada petista no Estado. Eu me encontrava entre àqueles que, nos dias que antecederam o evento estavam preocupados no que este poderia resultar. Se levarmos em consideração os ataques, sem censura, desferidos contra Ana de Hollanda principalmente no que aconteceu em um outro embate ocorrido nas dependências da FUNARTE-SP, em meados de abril, tudo poderia acontecer (inclusive agressão física). Temos antecedentes, tais como as cenas de pastelão onde a vítima (José Genoino), foi agredido com um pedaço de bolo de aniversário, por uma “Ativista” (da Paz é que não poderia ser), num dos Fóruns Social Mundial, em Porto Alegre; ou outras formas de constrangimento a que personagens de destaque foram vítimas.
O Auditório Paulo Kobayashi, lotado, e com a presença de grande parte da imprensa recebeu pontualmente Ana de Hollanda, às 15 horas. Em sua fala inicial ela lembrou, não de seu pai (o segundo signatário da ata de fundação do PT, em 1980), mas sim a figura olímpica da atriz, Lélia Abramo (também fundadora), como uma de suas inspirações na vida profissional. O simbolismo desse encontro tem início ali. Embora a Ministra não tenha citado o que se segue, foi justamente numa tarde de maio de 1979 e também num dos auditórios da Assembléia Legislativa, debaixo de grande ovação, que o então líder dos operários no ABC foi trazido pelas mãos de Lélia Abramo até àquele local, para assumir o controle de um Movimento que resultou nas transformações sociais e econômicas em que vivemos atualmente. Lula havia acabado de ser destituído da Presidência do Sindicato dos Metalúrgicos pelos militares e sem saber muito o quê fazer recolheu-se na casa de amigos, deixando o Movimento grevista acéfalo e o movimento contra o regime militar que se fortaleceu com os acontecimentos do ABC à mercê de oportunistas. Lélia (com sua suprema sabedoria) percebeu que era naquele momento ou nunca, que ele deveria assumir o seu papel na história do Brasil; e foi o que aconteceu. Os contemporâneos do período poderão confirmar isso, e até ampliar o significado dessas datas (ontem e hoje). Comparando as duas, (Oxalá) o 10 de maio de 2011 será lembrado como o dia em que as Artes e a Cultura assumiram o seu verdadeiro papel Institucional na nossa história.
A interpretação apressada dos meios de comunicação, incapazes de refletir sobre o que anda acontecendo no Brasil e forçando uma pauta já sem sentido, têm sido alimentados por veículos alternativos que se apresentam como “adversários confessos” da atual política do MINC. Tudo o que foi escrito sobre o evento é previsível, e não corresponde à verdade integralmente; questões sobre Artes e Cultura não se resumem a problemas de comprovação de trabalhos realizados por grupos teatrais, mesmo os mais relevantes para a cultura brasileira, e muito menos ao intricado e complexo mundo dos Direitos Autorais. Elas vão além das miseráveis interpretações tendenciosas, publicadas em menos de duas horas após o término do evento em blog’s, sites e portais, comprometidos até à medula com privilégios cristalizados em casos esporádicos nas de gestões anteriores.
Se por um lado, à presença da bancada petista inibiu o mesmo grupo levar Ana de Hollanda passar por constrangimentos, impediu também o proselitismo sacal dos arquitetos da “nova cultura” (na maioria, professores acadêmicos que fazem questão de carregar a chancela de onde recebem seus salários como a USP, Universidades Federais, etc.), não conseguiu evitar cenas de narcisismo, explícito e repetitivo, de José Celso Martinez Corrêa (por exemplo), tão pouco a indigência intelectual dos Enfant Terribles e de notoriedade efêmera ao lerem o maçante manifesto (um mal disfarçado “folhetim”) e levado até Dilma Rousseff, também postado na Internet através de uma copia pirata do site do Ministério da Cultura. As doze perguntas dirigidas e respondidas pela Ministra e (se as respostas agradaram ou não os detratores, isso é uma outra história), seis delas ao menos demonstraram a crise na produção, distribuição e consumo das artes e cultura no país Esta, sim, uma boa pauta e da qual devemos nos deter.
Brilhante o depoimento de Ney Piacentini, falando em nome da Cooperativa Paulista de Teatro, que se colocou à disposição para lutar ao lado da ministra e tirar as Artes e a cultura da indigência, partindo para vôos mais ousados como disputar uma parcela dos resultados econômicos e financeiros do Pré-Sal. Emocionante, também, a intervenção de um dramaturgo do Movimento 27 de Março, ao colocar a nu as nossas mazelas e concluindo com uma indagação sobre o que representa o propalado Plano de Desenvolvimento da Economia Criativa, possibilitando à Ana de Hollanda dizer a que veio. Ainda, um outro interlocutor propondo a criação de Memorial a Mário Pedrosa, como referência, revela a quase nenhuma ação em torno da memória no MINC. Mesmo o caso do IPHAN, apesar do “perguntador” estar meio desorientado demonstrou que temos problemas gigantescos na área do Patrimônio Histórico que não entram na pauta. A participação da cineasta, Tata Amaral, revelando as dificuldades por que passa sua categoria profissional e, por fim, a brilhante intervenção da deputada estadual,Telma Souza, foi um delírio (no bom sentido). Ela é dos poucos políticos que aceitam provocação, mas dão a cara pra bater. Infelizmente, tanto a imprensa quanto os blog’s “alternativos” não registraram esses componentes porque tal universo não faz parte do seu dia-a-dia; para eles a história e a civilização, “elas que se danem, ou não” (como diria o velho Gil).
Seria bom comparar os dois filmes, um produzido ontem, com artistas, operários e populares, na Assembléia Legislativa, construindo o futuro em que vivemos na atualidade, com o outro hoje na apropriação indébita do trabalho artístico e intelectual por meia dúzia de aventureiros. Isso havia sido previsto por um compositor popular, de nome Hollanda, em mais uma de suas metáforas: “antes que um aventureiro lance mão”. Lélia disse mais ou menos o mesmo para Lula, naqueles dias de Maio de 79 – “Vá lá, e cumpra o seu papel”. Nós dissemos o mesmo, como síntese – “artistas, o seu papel está no enredo que foi construído, apesar da truculência e das intrigas”; é questão de assumir.
Estão abertas, até 26 de maio, as inscrições para o Edital de Patrocínio CCBB 2026-2027.…
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
View Comments
Signatários da CartaAlerta
1. Angela Leite de Souza
escritora / ilustradora
2. Alessandra Luiza Empresária
3. Alexandre de Castro Gomes Escritor de literatura infantil
4. Alzira Scholze atriz e promoter
5. Ana Engelen documentarista
6. Anna Claudia Ramos escritora e ilustradora
7. Antonio ADOLFO Músico, compositor e arranjador
8. Cantagalo Produções Empresa de Espetáculos
9. Claudio Guimarães Músico e compositor
10. Cris Alhadeff designer e ilustradora
11. Damásio Soares do Nascimento (Bothina)-Sambista /Compositor
Membro da Comissão Paulista dos Pontos de Cultura
12. Danilo Macedo Marques, ilustrador
13. Dora Pinheiro Estilista
14. Edna Bueno escritora
15. Eliane Verbena Assessoria de Imprensa
16. Emerson Natividade Ator e Diretor teatral
17. Euclides Amaral (Letrista e pesquisador de MPB)
18. Fausto Fuser (*) Crítico e Professor de Teatro
19. Flávia Côrtes (Escritora)
20. Graça Gold promotora de eventos
21. Heron Coelho Diretor Teatral, Produtor Musical
22. Iberê Roza Músico
23. Idelene Alves do Amaral Atriz ´Produtora ´Gestora Cultural
24. Jair Antonio Alves dramaturgo e ator
25. Javert Monteiro ator
26. Joana d'Arc Torres de Assis escritora
27. jorgely da ros bodart cantor,compositror e produtor musical.
28. Julio Calasso cineasta, produtor cultural e ator
29. Lauro Bergallo Escritora e editora
30. Lena Dutra Designer
31. Leny Bello Pianista, professora de música
32. Lilian Chiusoli economista
33. Liu Sai Yam escritor e tradutor
34. Lívia Rangel Bailarina
35. Luciana Rabello - Musicista, compositora e produtora
36. Luiz Carlos Sá (Sá e Guarabira) Cantor, compositor e instrumentista
37. Malu Aires Cantora e Compositora
38. Mamão de Corda Grupo de Teatro
39. Márcio Souza romancista, dramaturgo e diretor
40. Marcus Vinicius de Andrade Maestro e compositor
41. Maria Lucia de Andrade Pinto - Assistente Social – RJ
42. Maria Rita Rezende atriz e produtora
43. Mariozinho Telles Ator e diretor
44. Marly Cesta Educadora Popular
Coord.Ponto de Cultura Voluntário "Vitória-Régia"
45. Marly Ramos Psicopedagoga
46. Mauricio Veneza Escritor e ilustrador
47. Mônica Battello Produtora Cultural
48. Naná Martins escritora
49. Norma Paula Moreira da Silva Gestora Cultural,
Pontão de Cultura Dragão do Mar / Ceará
50. Odilon Wagner ator e produtor cultural
51. Oswaldo Bezerra Prof. acadêmico e pesquisador
52. Pablo Palumbo DJ e compositor de música eletrônica
53. Pedro Ayres Jornalista - Rio de janeiro – RJ
54. Rênio Quintas Maestro
55. Ricardo Ottoni Professor-pesquisador e artista cênico
56. Roberto Goldkorn escritor
57. Rodrigo Sousa & Sousa Direção - Ponto de Cultura Mundo em Foco
58. Rosa de Minas artista
59. Sandra Pina escritora de literatura infantil
60. Sandra Ronca escritora e ilustradora
61. Simone Silva (Del Rios) Historiadora
62. Suely Pinheiro jornalista
63. tanah corrêa Diretor teatral
64. Teatro de Roda Grupo de Teatro
65. Tuninho Galante Músico e compositor
66. Valério Bemfica Produtor Cultural