Sucessivas tentativas de “homicídio” põem a língua portuguesa no “leito de morte”. De fato, o secular desmantelo educacional que foi instaurado no país corrobora um ambiente propício, para que uma das poucas referências que dão um sentido de nação padeça da forma pela qual vem padecendo. É simplesmente lamentável o que acontece com tanta freqüência junto à estrutura lingüística nativa, numa forma aberta de repetidas “agressões mortais”. A seqüência desses “crimes” serve apenas para promover o distanciamento intelectual entre os cidadãos, bem como o nivelamento qualitativo “por baixo”, ao se tomar como indicativo todo esforço de se preservar e fortalecer os valores naturais de uma nação.
Mesmo que em direções distintas, os últimos “exemplos homicidas” só confirmam um crime de lesa-cultura, que ao permitir a prática de “sacralizar o profano” no país, esperam pelo momento de sepultar os reais valores da língua-mãe. Por um lado, o “engodo intelectual” de se render aos “estrangeirismos” usuais, que descaracterizam e desalinham o estilo mais clássico do escrever a língua portuguesa. Em seguida, a disseminação de um inconcebível projeto educacional, que suprime o uso do português correto para dar legitimidade à vulgarização cotidiana da língua. Ou seja, dois golpes mortais que, certamente, fizeram tremer no túmulo os grandes literatos nacionais, que – pelo menos – aqui não estão para se ruborizarem com essas indecências, na forma de vexames gramaticais.
O vício do uso extremado dos estrangeirismos na nossa língua é prática antiga, mas que ganhou uma força descomunal nos últimos tempos. A título de se defender a comunicação acima da gramática, os defensores desse “homicídio gradual” pecam pelos excessos grotescos. Abusam, sobretudo, dos recursos da língua inglesa na prática escrita e falada do português, como se isso lhes desse charme e distinção. Pode ser até que essa estratégia lhes sirva para alguma coisa pelo entendimento, pela comunicação que se faça necessária àquele momento. Mas essa situação, na formalidade, não passa mesmo de um mero exercício de insipiência. Assim mesmo, com a letra “s”, pois é de quem não tem a mínima condição intelectual de escrever algo com alguma qualidade.
Não bastasse essa forma de agressão, que vem de fora para dentro, há ainda quem queira esquecer a excelência do uso apropriado da língua, justo para legitimá-la pela força de uma vulgaridade, que incomoda o intelecto e até mesmo os ouvidos. Ignorar o papel da concordância, da regência e de alguns outros instrumentos de combate aos vícios da língua não significa apenas assassiná-la, por meio de um crime hediondo. Significa também negar a formalidade e o rigor que carecem ser preservados e difundidos, nesse despreparado sistema educacional brasileiro. Afinal, não há outra fórmula que possa superar os princípios da educação formal de qualidade como catalisadores do fortalecimento da cidadania e do desenvolvimento sócio-econômico de uma nação. Por mais que alguns déspotas esclarecidos – e aborrecidos – queiram mesmo “emburrecê-la”, custe o que custar.
Piedade para quem se dedicou, na formalidade do seu processo educacional, por algumas boas e repetidas horas aos rigores da língua portuguesa clássica, símbolo maior de uma unidade nacional.
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Sr. Bertini,
ainda que seu artigo não tenha nomeado explicitamente "quem" quer "esquecer o uso apropriado da língua" é óbvio que se refere ao livro didático que tratou do tema preconceito linguístico.
O uso formal da língua é uma das condições necessárias ao "fortalecimento da cidadania" mas não é, nem de longe, condição suficiente. Completa a suficiência uma outra condição necessária, a de saber interpretar um texto, contextualizando-o, entendendo-o em sua inteireza, na totalidade do raciocínio por ele construído. E isto faltou à sua análise.
Onde a distinção entre norma culta e linguagem coloquial foi defendida como irrelevante pelos "assassinos" que seu texto resolveu comodamente sequer nomear?
Quem escreve um texto segundo os padrões da norma culta deveria, no mínimo, ter a honestidade intelectual de reconhecer que ele não foi, nem poderia ter sido, produzido de uma única vez. Ele precisa ser lapidado, modificado. Tudo que a linguagem coloquial não pode nem necessita fazer.
Esquecer que quando se trata da língua culta a norma resulta da escolha arbitrária é esquecer que por isto não cabe igualar o normatizado ao "certo" e o cotidiano irregular ao "errado". Daí também sobressai que o papel da escola, ao contrário do que seu texto sustenta, é reafirmado em sua especificidade promotora do "fortalecimento da cidadania e do desenvolvimento sócio-econômico". Mostrando às alunas e alunos que a linguagem cotidiana não está "errada" mas que ela é diferente, a escola não diminui os alunos, não estabelece uma relação hierárquica rígida com eles e, principalmente, não exclui a si mesma do restante do mundo da vida do aluno.
Ótimo texto, para o bom entendedor, basta...
se não der, "nós pega o peixe".
Creio que o comentário do Roger, acima, foi muito feliz e sobremaneira discreto ao tratar de seu texto. De fato, parece-me que toda a literatua sobre o preconceito linguístico que surgiu no Brasil nos últimos anos foi o ataque mais vigoroso à toda forma de discriminações oriundas dos modos de falar. Acrescente-se ainda à importante retomada dos estudos de sociolinguistica de William Labov.
Não li o livro do MEC e não quero defendê-lo sem fazer isso primeiro, mas seu texto - no fundo, exprimindo um ponto de vista extremamente conservador bastante difundido em nossa sociedade- tampouco nomeia pessoas, fatos e parece também um tanto vago. O sr leu o livro?
fiquei com esta dúvida...
De toda forma, quero expressar meu inteiro desacordo com suas posições.
Acho que os jovens devem entender a diferença entre a norma culta e a linguagem cotidiana, coloquial, bem como a diferença dessas duas com a linguagem utilizada nas redes sociais, e essa é uma tarefa que deve ser da escola. Para mostrar essas diferenças não há necessidade de se trabalhar com uma linguagem baixa e vulgar. A linguagem vulgar ninguém precisa ensinar, eles aprendem sozinhos. Um cidadão só terá condições de exercer a sua cidadania de forma plena se tiver condições de se fazer entender e de saber interpretar o aquilo que ouve ou lê.