Audiovisual: entre o global e o local


O modelo de financiamento, produção, distribuição e exibição audiovisual vigente é ditado pela predonominância de Hollywood, sua lógica e sua maneira própria de conseguir lucro e sustento. Isso inclui uma conjugação de forças que só é possível naquele território.

Ali, o cinema é projeto estratégico do Estado, pois dissemina os modos de vida do povo norte-americano, os valores e o poderio bélico do país. É também uma espécie de princípio ativo da sociedade de consumo, pois dissemina e sustenta simbolicamente a sobrevivência do sistema financeiro e a especulação dos mercados. Mantém ativo o consumo de marcas globais e celebridades, que garantem a viabilidade dessa indústria espetacular e monstruosa.

Fora dos Estados Unidos a indústria cinematográfica sofre sua forte influência. Cada país busca sua maneira de promover e preservar a produção local, como exercício de resistência à Hollywood, quase sempre por via de subsídios públicos. Mas ao mesmo tempo rende-se ao seu domínio e influência, permitindo o exercício de monopólio dos mercados distribuidores e exibidores internos, pelas chamadas majors, que atuam como um cartel organizado, por meio de escritórios locais da Motion Picture Association of America.

Seu domínio e influência resultam numa descabida subordinação dos modos de pesquisar, fazer, distribuir e exibir o material audiovisual de uma nação. Em outros termos, é como se as nações do mundo abrissem mão de constituir sua própria referência simbólica, cedendo aos interesses convergentes e estratégicos da maior e mais rica nação do mundo e seu sistema financeiro, tão insustentável quanto a própria produção audiovisual.

Te Están Grabando é o webdocumentário resultante do projeto Conversas Diversas, realizado pelo Divercult, organização cultural fundada no Brasil com sede na Espanha, focada em cooperação internacional para diversidade cultural e financiado pela Agência de Cooperação Espanhola (AECID). Propõe mapear, compreender e propor uma tipologia de ações de políticas públicas dos países ibero-americanos em busca de soluções compartilhadas para lidar com o complexo desafio da autorrepresentação, devolvendo aos cidadãos desses países a capacidade de gerar a manipular seu próprio material simbólico.

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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