Como seriam as grandes cidades do mundo se reduzissem sua dependência dos automóveis, produzissem sistemas eficazes de transporte coletivo e aumentassem o uso de bicicletas e outros meios de transporte sustentáveis e não poluentes? Essa questão vem sendo cada vez mais colocada em pauta, e já chegou às plataformas de crowdfunding brasileiras.
A ideia do Fórum Mundial de Bicicletas surgiu a partir da discussão sobre a realização de ações que relembrassem um ano desde o atropelamento dos ciclistas da Massa Crítica de Porto Alegre, que ocorreu em 25 de fevereiro de 2011. O fato abriu a discussão para a inserção segura da bicicleta como meio de transporte nas cidades e como ela pode transformá-las, melhorando a mobilidade, a qualidade de vida e ajudando a torná-las mais humanas.
“A ideia partiu de usuários de bicicleta de diversas finalidades (transporte, lazer, esporte), não ligados a nenhuma agremiação ou organização específica”, conta Livia Araújo, da organização do Fórum. Justamente por ter uma característica descentralizada e não-relacionada a entidades ou instituições, o Catarse surgiu como uma forma de captação de fundos, por respeitar essa característica, que tem tudo a ver com o financiamento coletivo. “O Catarse também é uma opção interessante pela forma de uso e mobilização: por meio das redes sociais, cuja notícia pode se disseminar de maneira rápida e nada burocrática, uma necessidade que o Fórum tinha, dado o pouco tempo de planejamento e execução”, explica Lívia.
A largada foi dada na segunda quinzena de janeiro, para o evento ser realizado ainda em fevereiro. Mas o valor não era tanto, apenas R$ 3.500 – no final, 125 pessoas apoiaram, totalizando R$ 6.051. “Desde o início da organização e no envio dos convites aos palestrantes e oficineiros, ficou subentendido que o engajamento para a realização do fórum era um sentimento não só da organização, mas também dos participantes. Ou seja, contamos com aqueles que, em nome da difusão de conhecimento sobre mobilidade e bicicleta, pudessem custear suas passagens e oferecer esse conhecimento de maneira gratuita ao público do fórum. Estivemos abertos a apoios e patrocínios, mas o principal foi o apoio material por meio do empréstimo de equipamentos e doação de materiais e voluntariado para as diversas funções”, conta Lívia.
O evento aconteceu na última semana. As oficinas e os painéis foram realizados na Usina do Gasômetro, na capital gaúcha.
Segundo Lívia, uma das motivações para usar o crowdfunding foi ver o sucesso de projetos de extrema relevância do campo da mobilidade por bicicleta, como o Cidades para Pessoas e o Bike-Anjo. O primeiro, da jornalista Natália Garcia, tem como objetivo viajar por 12 cidades do mundo durante um ano para tentar responder à pergunta: “como tornar uma cidade melhor para seus habitantes?”. A ideia é passar um mês morando em cada uma das cidades, que foram selecionadas por terem tido projetos de planejamento urbano com o objetivo de deixá-las melhores para as pessoas (não para os carros, nem para as empresas imobiliárias) colocados em prática. As reportagens produzidas terão como meta mostrar o que, nessas empreitadas, deu certo (e o que não deu), como foram os processos de implementação desses projetos e como eles impactaram a vida das pessoas que moram lá.
Já o Bike Anjo surgiu para mostrar que é sim possível experimentar um novo estilo de vida com o uso da bicicleta como meio de transporte: pedalando sem medo, vivenciando a cidade de forma prática. O projeto busca intermediar a comunicação entre ciclistas experientes, dispostos a ajudar quem quer começar a pedalar, com os novatos. Dá assistência sobre os melhores trajetos a se fazer, acompanha o ciclista iniciante em suas primeiras pedaladas e ensina o bê-a-bá da bicicleta, tudo isso voluntariamente. Entrou no Catarse visando arrecadar fundos para criar um site com um sistema automatizado, que estimule e facilite a comunicação entre os “Bike Anjos” e pessoas que desejam começar a pedalar.
Bicicleta e literatura – Lincoln Paiva, do Instituto Mobilidade Verde, estava fazendo um percurso de bicicleta no centro de São Paulo, com o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Jorge, e com o prefeito da cidade de Portland (EUA), Sam Adams, quando parou na Biblioteca Mário de Andrade para ver um plantio de árvores. Foi quando conheceu Robson Mendonça, ex-morador de rua que mudou de vida após ler o livro “Revolução dos Bichos”, de George Orwell. Mendonça tinha um sonho: poder levar livros para moradores de rua como meio de melhorar a auto-estima. E Paiva resolveu ajudar.
“Nosso Instituto desenvolveu um triciclo com um baú acoplado com capacidade de levar 300 livros. Fizemos um estudo geométrico e criamos uma metodologia para que ele pudesse emprestar livros e monitorar os resultados. Batizamos esse projeto de Bicicloteca, pois já havia muitos projetos independentes de bicicleta + bibilioteca comunitárias muito semelhantes”, conta Paiva, que acompanha o projeto mensalmente.
Com três meses de operação, a Bicicloteca foi furtada no centro de São Paulo e vendida na Cracolândia. Como não havia recursos para desenvolver outra, decidiram procurar o Movere. “O vídeo que produzimos foi visto por mais de 10 mil pessoas e teve grande repercussão da mídia, inclusive do exterior. Cerca de 70 pessoas ajudaram a construir outra Bicicloteca, exclusivamente pelo Movere. Essas pessoas hoje são os ‘Amigos da Bicicloteca’ e recebem informações periódicas sobre o projeto”, diz Paiva.
Além disso, elas foram convidadas para passar uma manhã com quem faz o projeto. “Nós achamos importante que a pessoa que ajuda, possa participar fisicamente, não apenas financeiramente, é preciso gerar um elo emocional com o projeto para que eles possam entender que o seu investimento é muito mais importante do que o valor monetário. Estamos trabalhando com seres humanos que estão no ponto mais frágil da dignidade humana”, lembra.
Hoje, são três Biciclotecas no centro de São Paulo, onde há maior necessidade e maior número de moradores de rua. Uma delas possui motor elétrico, placa solar , computador e um roteador de internet que distribui internet 3G banda larga para quem está na praça. Além disso, Paiva conta que ainda há recursos para criação de mais 9 biciclotecas, que serão doadas para outras entidades através de um edital que está no site www.bicicloteca.com.br.
Bicicleta e música – O Rio de Janeiro é repleto de espaços públicos, abertos, prontos para serem usados, porém ociosos. Imagine encontrar uma turma de bicicleta, ir até uma praça e começar uma festa gratuita? A ideia surgiu entre três amigos: Ícaro dos Santos, Bruno Queiroz e André Amaral, que logo reuniram mais quatro parceiros/ativistas e criaram o projeto Nuvem.
“O sitema de crowdfunding foi a melhor forma que vimos de levantar a grana necessária. Estamos entre isso, os editais públicos e o patrocínio. Achamos que pela velociadade que precisávamos e pela própria natureza do projeto, o financiamento coletivo era a melhor opção. Acabou que a campanha de financiamento deu credibilidade ao projeto e possibilitou a expanção da rede”, conta Ícaro.
Eles fizeram uma grande campanha. “Precisamos explicar o que era o financiamento coletivo, um bicho de 7 cabeças para o grande público. Mas com o entendimento as pessoas apoiaram. Na verdade, acho que alguns apoiadores ainda não entenderam que tinham direito a uma recompensa, apoiaram porque acreditaram na gente”, afirma ele, que também vê um caráter político na ação.
“Não gostamos de chamar de festas, mas de apropriação do espaço urbano, pois a nuvem tambem tem um caráter político. No entanto, achamos que podemos ‘fazer política’ de forma mais positiva. Não precisamos chegar com o discurso. Podemos mostrar que esse módulo unido tem força e pode ocupar os pontos mortos da cidade outrora abandonados ao esquecimento. Tratasse de uma política hedonista”, explica.
Já foram três atos de ocupação desde o começo de janeiro. “De uma forma geral, nos encontramos em um lugar bucólico, como a Praça Paris ou o Parque Guinle, e esperamos os ciclistas chegarem. De lá, fazemos um circuito até um segundo ponto, onde montamos o equipamento e fazemos a ocupação. Os passeios ciclísiticos tem uns 70 participantes aproximadamente e os eventos costumam reunir umas 350 pessoas.”
Quem quiser acompanhar as próximas ações pode saber mais no site www.nuvem.fm.
David Byrne – A questão que abre essa matéria foi o tema principal do “Fórum Cidades, bicicletas e o futuro da mobilidade”, que aconteceu em julho do ano passado, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. O fórum foi idealizado pelo músico e ativista David Byrne, que causou burburinho andando de bicicleta pelas ruas da cidade e contou sobre sua iniciativa de trocar os veículos motorizados pela magrela. Vale a pena ver a apresentação, disponível aqui.
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