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Caminhos da pesquisa em patrimônio cultural na América Latina

Realizada em 31/03/2010, a terceira mesa redonda do III Simpósio Internacional de Comunicação e Cultura na América Latina – Integrar para além do mercado realizou suas discussões a partir do tema Patrimônio Cultural, material e imaterial: identidade, história e meio ambiente. Coordenado pela Professora Célia Reis Camargo, e composto pelas professoras Fabiana Lopes da Cunha e Luciene Risso, da Unesp de Ourinhos, pela professora Kátia Kodama, do CELACC e pelo professor Paulo Henrique Martinez, da UNESP de Assis. O principal objetivo da mesa era o de ampliar as discussões acerca do patrimônio cultural, material e imaterial, em conjunto com o patrimônio ambiental. Também se buscou discutir a necessidade de integrar as discussões acerca do tema.

Na exposição do professor Martinez, que desenvolve pesquisa acerca do Museu do Indio, implantado pelo professor Darci Ribeiro, foi frisado o objetivo original do equipamento, de difusão ampla da temática indígena com uma perspectiva cidadã e pedagógica, além da pesquisa. Mas, como frisou o pesquisador, o sentido do patrimônio para a sociedade muda ao longo do tempo, inclusive através da forma como ele constrói sua imagem, a partir de suas heranças e representações reivindicadas, formando uma “coerência ilusória”. Para o pesquisador, no caso do museu do índio, há um choque entre a imagem do museu atual, localizado no bairro de Botafogo – cidade do Rio de Janeiro – e a imagem e objetivos originais, choque acelerado pela tensão entre o abandono da antiga cede, em frente ao Maracanã, e sua ocupação por etnias indígenas.

A professora Katia Kodama expôs os resultados de sua pesquisa sobre as Folias de Reis da Festa do Divino da região de Ourinhos (SP), na qual buscou entender a representação através de ritos, símbolos e elementos iconográficos, como as bandeiras que abrem os cortejos das folias, objeto de adoração e que buscam a benção do lar, da família e da produção agrícola. Sua pesquisa se focou ainda na Festa como espaço de contato e de socialização, reunindo familiares e comunidade, em um conjunto que “É de ver, de sentir, e não de rezar. A reza vem da experiência de ver, especialmente as bandeiras”.

A pesquisa promovida por Luciene Risso, focada nas representações e nas noções de espacialidade e de território como cultura na etnia indígena Apurinã, da Amazônia brasileira, no processo de demarcação legal de seu território na última década percebeu que “É no território que se constrói a identidade cultural”, marcada por uma identificação forte com a terra. A pesquisadora identificou a formação de redes, como tendência ao agrupamento em comunidades, inclusive para proteção contra o extrativismo e o avanço desregulado das fronteiras agrícolas, e frisou a necessidade contínua de apoio do estado e do reconhecimento social da importância das comunidades indígenas e sua cultura na manutenção do patrimônio ambiental.

Encerrando as exposições dos palestrantes, a professora Fabiana Cunha apresentou os resultados de sua pesquisa focada na relação entre música e identidade, a partir dos levantamentos promovidos pelo Centro Cultural Cartola no processo de registro das matrizes do samba carioca como patrimônio imaterial nacional, pelo IPHAN. Discorreu a respeito do processo de registro, no qual predominam o registro de manifestações musicais, e apresentou as bases do desenvolvimento do samba no último século – de sua origem com raízes no maxixe e nos terreiros afro da periferia carioca para a transformação em direção ao samba desfilado, a festa para o público, em detrimento do improviso e da construção coletiva e extensa das letras. Apresentou ainda o processo de musealização de espaços do samba como forma de manter esse patrimônio cultural, exemplificado no “museu a céu aberto” composto pela “Cidade do Samba” e proximidades, na região do Morro da Providência, primeira favela da cidade.

Na discussão com a platéia foram focadas a necessidade de repensar e redesignar os termos, oriundos do resgate da terminologia de Mario de Andrade, que cunhou o termo imaterial para designar os saberes populares que constituem as culturas, termo hoje um tanto controverso. O professor Paulo Martinez destacou a necessidade de rever os conceitos, as quais se estendem a legislação e políticas públicas. Debateu-se ainda a leitura do processo de construção da memória pelas comunidades em questão, relativizado pela professora Fabiana Cunha, que colocou, a título de exemplo, que para os sambistas cariocas é interessante este processo, por valorizar suas comunidades ao “vender” a esta, ao passo que para outras comunidades, como quilombolas, não ocorre desta maneira.



Guilherme Jeronymo

Morador do Campo Limpo (Zona Sul de São Paulo), é jornalista e mestre em comunicação, além de pesquisador no núcleo Alterjor, da ECA/USP.

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