O secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, Célio Turino, lançará na próxima quarta-feira, dia 11, o livro Ponto de Cultura, o Brasil de cima para baixo, no Itaú Cultural, em São Paulo. Ele fala a Cultura e Mercado sobre sustentabilidade dos Pontos, sobre os entraves burocráticos e aponta para uma nova relação entre Estado e Cultura.
Celio Turino responde o ping-pong de Buenos Aires, onde esteve negociando a implantaçao de Pontos de Cultura na América Latina, como demanda dos movimentos sociais. Ele diz que já existe projeto de lei no parlamento, de autoria da senadora Marisa Severo, do PSDB, o que atesta a amlpitude e aceitação do programa.
Turino conta que no recente Congresso de Cultura Ibero-americana e na reuniao de cúpula, com os ministros, saiu a reoslução de adotar o programa Cultura Viva como política pública para todos estes países. O tema vai para a pauta do encontro de chefes de estado, em Lisboa, daqui um mês.
Leonardo Brant – O Cultura Viva é comemorado, inclusive internacionalmente, como a grande novidade em termos de políticas culturais. O que muda na relação entre Estado e cultura com o programa?
Célio Turino – É isso que tento explicar no livro. Está acontecendo um processo de transformação não somente da sociedade, como também do Estado, que se molda a partir de baixo, daí o título.
LB – Na sua avaliação, o programa conseguiu cumprir o que propôs, não em termos de metas quantitativas, mas em termos de empoderamento da sociedade civil, de conquista de autonomia dos grupos culturais?
CT – Acredito que sim, ainda é um processo, mas percebo este empoderamento, tanto que são os próprios pontos que estão assumindo diversas questões, como a Lei Griô.
LB – Como você enxerga a sustentabilidade futura dos pontos de cultura?
CT – Uma vez Ponto, sempre Ponto. Cultura é processo.
LB – Eles dependerão sempre do suporte do Estado?
CT – Sim, cultura como direito e centralidade nas políticas sociais. Cabe ao Estado garantir este fluxo contínuo.
LB – Existe lugar no mercado para ações culturais fora do eixo?
CT – Sem dúvida, mas principalmente a partir das novas relações econômicas (comercio justo, trabalho colaborativo, economia solidária).
LB – O programa os prepara para o mercado?
CT – O mercado já muito forte por si. Nosso papel é oferecer alternativas.
LB – Qual a saída?
CT – Uma nova economia vai se gestando. Por exemplo, relações na cultura digita, cubo em Cuiabá etc)
LB – Os entraves burocráticos ainda penalizam grande parte dos pontos de cultura, que deixam de receber seus recursos e tornam-se inoperantes, em muitos casos. O que ocorreu de fato e como o MinC pretende resolver esta questão?
CT – Tenho um capítulo sobre o assunto no livro. O título não é fácil, este foi nosso maior gargalo.
LB – Teremos soluções até o final do mandato?
CT – Avançamos muito de 2007 para cá e a descentralização via editais estaduais tem se mostrado um bom caminho. Em breve São Paulo terá 300 Pontos assim.
LB – O Mais Cultura engoliu o Cultura Viva?
CT – Não, o Cultura Viva mantém-se como conceito.
LB – Onde termina um e começa outro?
CT – Hardware (descentralização e ampliação das ações) e software (Cultura Viva)
LB – A autonomia programática do Cultura Viva está ameaçada?
CT – Agora vamos ver se houve de fato empoderamento na sociedade. A garantia está na própria força dos Pontos.
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A entrevista de Leonardo Brant com Célio Turino é uma verdadeira conversa para Boi Dormir como ele diz na matéria sobre a Lei Rouanet. Não pelo entrevistado que teria muito a dizer sobre um programa que Leonardo sabe muito pouco ou quase nada, mas sim pelo entrevistador que não valoriza o programa Cultura Viva, com matérias ao longo do ano sem profundidade e com acusações levianas. Na hora que fica frente-a-frente com Célio Turino amarela e não questiona nada. Que os bois não leiam essa entrevista.
Querido Afonso, fico muito feliz com a sua presença por aqui.
Talvez você tenha razão. Talvez não tenha a coragem e a valentia necessárias para o meu ofício.
Mas ao contrário do que você afirma, sou entusiasta quase eufórico do Cultura Viva, todos aqui sabem disso. Levantei e abordei problemas relacionados à gestão e, sobretudo, ao sombreamento do programa pelo Mais Cultura. E venho denunciando os problemas de pagamento que sufocam os Pontos de Cultura, às vezes imbuído mais de emoção do que de razão, afinal não tenho a pretensão de ser infalível. Em minha autocrítica diária, no entanto, considero a falha menos grave que a da omissão.
Todos estes assuntos foram abordados na entrevista. Alguns foram respondidos com mais ênfase que os outros. Em relação à gestão, o Celio simplesmente não respondeu, pulou fora.
Todos aqui sabem que eu respeito e comemoro a presença de Celio Turino à frente do MinC. Isso não significa que eu o esteja bajulando, como você insinua. Pelo contrário, mostre-me alguém na mídia que tenha feito perguntas tão delicadas e confrontadoras como as que fiz.
Acordemos, então, os bois!
Um abraço fraterno, LB
Um entrevistador que tem a frente uma pessoa que revolucionou a forma de trabalhar a cultura popular e que construiu com boa parte da sociedade o mais importante programa de cidadania que o Brasil já viu e faz perguntas desse nível. Não consegue perceber a verdadeira dimensão de onde está inserido.
Esse mercado que você tanto fala e tanto escreve é apenas um pequeno traço da cultura brasileira. Apesar de ser economicamente forte.
O entusiasmo que você tem com o Cultura Viva é o mesmo que você tem com as modificações da Lei Rouanet.
Reduzir o programa cultura viva a um programa que prepara os pontos de cultura para o "mercado" é a mesma visão dos que querem que o Brasil se encha de escola técnicas para possibilitar o desenvolvimento industrial.
Muitas vezes nós só enxergamos o nosso mercado, a nossa cultura viva e queremos que a lei seja feita apenas para nós.
Pois é Afonso, a minha experiencia de cidadão, ativista e pesquisador de políticas culturais me permite perceber e comemorar a grandeza um programa como o Cultura Viva, mas ao mesmo tempo comprará-la com outros momentos da nossa história, em que tivemos boas ideias serem transformadas em moeda política a custa dos cidadãos, por falta de institucionalidade e de compromisso público. Vou te dar um exemplo. Os CÉUs, em São Paulo. A responsabilidade pelo desvirtuamento dos CEUs é do Serra, que descaracterizou o projeto completamente, ou é da Marta que transformou um potencial daqueles em moeda política eleitoral, deixando o povo paulistano refém de uma institucionalização que viria no segundo mandato (que nunca houve)?
Acho que é dos dois, ali não tem santo. Como tb não há santo no MinC. Estão todos de olho nas eleições do ano que vem, o que é bom. Eu votaria no Celio de olhos fechados. No Juca jamais!
Mas a questão não é essa. A questão é que do jeito que está o Cultura Viva é forte, incrível, mas é fragil institucionalmente. Não se pode gerir um programa desses sem orçamento, com base em emenda de bancada, com base no PAC, que é um dinheiro de eleição.
Ao contrário do que vc pensa, eu defendo a institucionalização do programa e sua evolução como política pública. Do jeito que está a fonte seca antes da eleição. E se a Dilma não ganhar, vc já se perguntou isso? Dependendo de quem vier (sinceramente espero que nem Dilma nem Serra - não voto em nenhum dos dois), nem as dívidas monumentais que o MinC deixará com os pontos serão quitadas.
Por isso, o MinC deveria centrar esforços em institucionalizar o Cultura Viva e não em fazer essa balbúrdia em torno de um projeto que não existe. Esse tal de Profic é uma farsa, para enganar pessoas que não conseguem acessar a Lei Rouanet - infelizmente a grande maioria dos artistas e produtores do Brasil. Mas penaliza todo o resto (e eu, ao contrário do que vc insinua, estou fora desse grupo) gratuitamente. E vc sabe me dizer por quê?
Porque dá mais votos e menos trabalho do que cuidar daquilo que é bom, mas é complexo, difícil e exige diálogo com instâncias que eles sequer sabem que existe. Sim, estou falando do mercado. Por que não?
Artista no capitalismo tem que ter mercado. O Lula batalha muito pelo mercado dos nossos bancos, da Petrobras, mas só prejudicou o mercado da arte e da cultura. Vejo com preocupação o Estado defender a manutenção dos artistas. Defendo o oposto disso. Quem sustenta o Estado, como ente representativo da sociedade, em sua dimensão imagética, poética, utópica, é o artista. Essa relação precisa ser invertida.
Mas gosto da resposta do Celio. Ele pensa numa nova economia, em novas maneiras de dialogar. Um caminho tão interessante quanto utópico. E distante. Ao contrário do que vc afirma, conseguimos travar um bom diálogo. É óbvio que ele responderá com cautela e com poucas palavras às minhas provocações. Sou praticamente a única voz crítica ao MinC que surte reverberação. Mesmo reconhecendo e aplaudindo inúmeras iniciativas, como o Plano Nacional de Cultura e o próprio Cultura Viva.
Mas eu não estou aqui para te agradar. Sinceramente, não faço o menor esforço para agradar ninguém. Estou aqui porque tenho de estar. E me pergunto sempre se devo responder a provocações como a sua. Mas acho que no seu caso vale a pena. Não pelo que você me cobra, pois não devo nada a você, a minha ficha ainda continua limpa.
Mas vale a pena por você. Sua história e seu compromisso com a cultura me orgulham e me dão prazer. E não preciso concordar com suas ideias para reconhecer isso.
Um abraço amigo, Leo
ERRATA: o título correto do livro de Celio Turino é PONTOS DE CULTURA - O BRASIL DE BAIXO PRA CIMA.
Leonardo,
Não estou insinuando nada, apenas acho que você perdeu a oportunidade de realizar uma grande entrevista, já que você está dizendo que não amarelou o que eu posso fazer. Não foi dessa vez.
Minhas opiniões sobre o seu ultimo comentário não vai acrescentar muita coisa
Obrigado pelos elogios.
Afonso
Dialogo entre Afonso e Leo:
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