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Cidades e Cultura

Em um ano, como este, de eleições municipais quase a acontecer, nada mais oportuno que discutir as relações, complexas e tensas, entre cidades e culturas. O debate visa, sem dúvida, colocar a cultura da agenda pública das eleições municipais e, por esta via, sensibilizar os candidatos e futuros prefeitos para o tema da cultura, por vezes, tão menosprezado pelos governos municipais. Este é o objetivo maior do ciclo Políticas Culturais para as Cidades, que acontece em Salvador.
As cidades, desde a modernidade, vêm se tornando o lugar de vida privilegiado da humanidade. Na contemporaneidade, o modo de vida majoritário no mundo é o urbano. Mesmo o meio rural passou a ter seu cotidiano cada vez mais urbanizado. Hoje as cidades assumem um protagonismo nunca visto na história.

As revoluções dos transportes e das comunicações fazem com que elas se tornem extensivas cidades-metrópoles, abarcando territórios antes inimagináveis, e conectadas cidades-mundo, tecidas por intrincadas redes físicas e eletrônicas. As cidades abrangem a esfera local, mas também significativas dimensões regionais, nacionais e internacionais. Elas são, cada vez mais, pólos glocais, porque perpassadas por fluxos locais e globais, com formidáveis impactos sobre habitantes e culturas.

Na modernidade as cidades se constituíram em lugares privilegiados de trocas, por certo desiguais, devido ao capitalismo que então se instalava. As trocas abriam as cidades à convivência com novos habitantes e culturas, mas dada a subordinação à lógica do poder, impunham, em contrapartida, uma rígida hierarquia cultural. Consolida-se a distinção entre erudito e popular, que entroniza uma modalidade de cultura e desqualifica as outras.

A contemporaneidade conforma cidades-metrópoles e cidades-mundo, compondo um modo de vida urbano de ritmo acelerado com redes tentaculares. As trocas se intensificam em escala gigantesca, sem que a desigualdade desapareça. Circulam por ruas e redes: produtos em profusão, materiais e simbólicos; populações crescentes, nativas e migrantes; valores que parecem esvaecer, perdendo sua vigência ordenadora ante a veloz cidade e a aparente mutabilidade do mundo.

As persistentes e, por vezes, ampliadas desigualdades deixam marcas contraditórias nas cidades e culturas na atualidade. Elas se expressam na violência que atinge e está (quase) associada ao urbano, dificultando a possibilidade de uso de seus espaços públicos; inviabilizando trocas e encontros, inclusive da diversidade de culturas que permeiam o urbano. Mas elas também se expressam na permanência de espaços, modos e ritmos de vida: lentos e plenos de interculturalidade, resistentes à alucinada reprodução do capital. Possíveis germes de vidas mais culturais e outros mundos possíveis. Para isto, novas e estratégicas políticas culturais para as cidades são imprescindíveis.

Antonio Albino Canelas Rubim

Secretário de Cultura do Estado da Bahia. Professor e Coordenador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura da UFBA.

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