Nestas primeiras 26 semanas de 2014, os títulos estrangeiros mais uma vez mantiveram sua
primazia nas salas de exibição espalhadas nas metrópoles e nas grandes cidades do país. Nesta
metade do ano tivemos um público de quase 80 milhões de pessoas, gerando uma renda de
pouco mais de 1 bilhão de reais. São valores significativos, mas 85,7% do público e 87% da
renda se originaram dos filmes estrangeiros exibidos.
Dos 55 filmes brasileiros lançados neste primeiro semestre, 25 são do Rio de Janeiro, 24 de
São Paulo, um filme é de Minas Gerais (O Menino no Espelho, de Guilherme Fiuza), um filme
de Pernambuco (Eles Voltam, de Marcelo Lordello, vencedor do Festival de Brasília de 2012),
um filmes do Rio Grande do Sul (Insônia, de Beto Souza), um filme da Bahia (Pau Brasil, de
Fernando Belens), um filme do Distrito Federal (Operários da Bola, de Virna Smith) e um filme do Espírito Santo (Mar Negro, do Rodrigo Aragão).
Entre os principais lançamentos deste primeiro semestre estão, por ordem de desempenho:
1) SOS mulheres ao mar, de Cris D’Amato, co-produzido pelas Ananã e Miravista (RJ) e distribuído pela Disney (EUA), que estreou em 450 salas, alcançando um público de pouco mais 1,75 milhão de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$20,6 milhão.
2) Os homens são de Marte … E é para lá que eu vou, de Marcus Baldini, produzido pela Biônica Filmes (RJ) e co-distribuído pela Downtown/Paris (BRA), que estreou em 465 salas, alcançando um público de pouco mais 1,48 milhão de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$18,1 milhão.
3) Muita calma nessa hora 2, de Felipe Joffily, co-produzido pela Casé Filmes (RJ), Idéias Ideais Produções (RJ) e a Globo Filmes (RJ) e co-distribuído pela Downtown/Paris (BRA), que estreou em 422 salas, alcançando um público de pouco mais 1,42 milhão de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$15,8 milhão.
4) Alemão, de José Eduardo Belmonte, produzido pela RT Features (SP) e co-distribuído pela Downtown/Paris (BRA), que estreou em 368 salas, alcançando um público de pouco mais 955 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$11,3 milhão.
5) Confissões de Adolescente – o filme, de Daniel Filho e Cris D´Amato, produzido pela Lereby Produções (RJ) e distribuído pela Sony/Columbia (EUA), que estreou em 393 salas, alcançando um público de pouco mais 816 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$ 8,6 milhão.
6) Copa de Elite, de Vitor Brandt, co-produzido pela Fox (EUA), Glaz Entretenimento (SP) e O2 Filmes (SP) e distribuído pela Fox (EUA), que estreou em 267 salas, alcançando um público de pouco mais 636 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$ 7,7 milhão.
7) Getúlio, de João Jardim, produzido e distribuído pela Copacabana Filmes (RJ), que estreou em 177 salas, alcançando um público de pouco mais 502 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$ 6,3 milhão.
8) Hoje eu quero voltar sozinho, de Daniel Ribeiro, produzido pela Lacuna Filmes (SP) e distribuído pela Vitrine Filmes (BRA), que estreou em somente 38 salas, alcançando um público de pouco mais 194 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$ 2,3 milhão.
9) Júlio sumiu, de Roberto Berliner, produzido pela TV Zero (RJ) e distribuído pela Imagem Filmes/Wmix (BRA), que estreou em 259 salas, alcançando um público de pouco mais 179 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$2,2 milhão.
10) Praia do Futuro, de Karim Ainouz, produzido pela Coração da Selva (SP) e distribuído pela Califórnia (BRA), que estreou em 114 salas, alcançando um público de pouco mais 127 mil de espectadores e gerando uma receita de pouco mais de R$1,6 milhão.
O que podemos constatar sobre estes 10 grandes lançamentos do primeiro semestre de 2014:
1) As comédias com apelo para a sensualidade e a sexualidade do povo brasileiro, como SOS mulheres ao mar e Os homens são de Marte…, se tornam os grandes atrativos quando são distribuídos em larga escala. O filme Gata velha ainda mia, de Rafael Primot, produzido Piloto Cinema e TV e distribuído pela Polifilmes (SP), teve somente 11 salas no seu lançamento e não obteve a mesma repercussão, ainda que seguisse a mesma linha de gênero. Por isso, um tipo de gênero não garante, mas é preciso que seja um boa história e com um plano de lançamento (P&A) de grandes proporções.
2) As comédias esdrúxulas que se aproximam dos programas de comédia televisiva, pois se utilizam de atores e comediantes populares, também mantêm seu espaço nas salas de cinema em todo o país. Isso porque filmes como Muita calma nessa hora 2 e Copa de Elite se tornam referências para o lazer e a diversão de crianças, jovens, casais e para toda a família brasileira, que historicamente sempre gostou da comédia escancarada, típica dos filmes da chanchada, nas décadas de 1940, até os filmes d’Os Trapalhões. Por isso, não se deixará de ter o peso deste gênero na filmografia brasileira nos próximos semestres e anos.
3) Os filmes de ação também têm desempenho satisfatório, principalmente quando se aproximam do seu exemplo estrangeiro, que é o modelo de filme policial hollywoodiano, onde se monta um elenco de peso com astros da TV e do cinema, uma trama de conspiração e muito tiroteio e/ou pressão psicológica. O sucesso de filmes como Alemão se deve a um conjunto de fatores que compõem o plano de negócios do filme na sua pré-produção. Porém, o mais importante é saber que o subgênero de cinema nacional, que é o filme-favela, desde do sucesso de Pixote, passando por Cidade de Deus e estourando nos dois títulos do Tropa de Elite, provaram que o espectador brasileiro tem sua preferência por muita violência na tela.
4) Os dramas com a temática homoafetiva mostraram a sua força e independência, como
Hoje eu quero voltar sozinho e Praia do Futuro, mostrando que são capazes de furar a hegemonia dos grandes lançamentos. Especialmente pelo filme de Daniel Ribeiro, que ganhou vários prêmios no Festival de Berlim, que no mesmo Festival desbancou o filme do Karim Ainouz, em premiação e aceitação do público no Festival. No Brasil, o filme com a temática adolescente que estreou com 38 salas atingiu um grande público e gerou uma importante renda. Contudo ainda é difícil saber qual o impacto desse gênero nos próximos meses e anos, com a chegada de novos títulos. O que podemos afirmar é que o cinema quer em todo mundo tem se tornado um gênero de expansão e de fidelização do seu público, que muito usou o marketing viral das redes sociais para divulgar os lançamentos dos filmes.
5) Os filmes de/para adolescentes se destacam também, principalmente, porque a redução da faixa etária do público frequentador, nas últimas três décadas – que deixou de ser um casal de 30 a 40 anos, para uma turma de adolescentes de 14 anos -, possibilitou o lançamento e sucesso de filmes que tratem dos problemas sociais, geracionais, familiares, psicológicos e amorosos dos adolescentes, criando, assim, um fenômeno catártico entre o público e o filme. Dessa forma, o lançamento para o cinema do sucesso da televisão Confissões de Adolescente e os novos filmes, como Júlio sumiu e Hoje eu quero voltar sozinho, demarcam um território propício para o crescimento e a formação de público do cinema nacional, tratando de temas mais sérios que comumente os jovens gostam de assistir e se informar.
6) Já os filmes históricos, sejam eles épicos ou jornalísticos, destoam do conjunto de filmes acima demonstrados, mas mantêm-se firmes no Top 10 dos filmes nacionais. Dessa forma, Getúlio é o único exemplo de sucesso deste primeiro semestre. Filmes como este são superproduções e, portanto, se tornam um projeto de risco, onde o insucesso nas bilheterias é bastante comum, veja exemplos recentes como Xingu e ou Serra Pelada. A primeira razão do sucesso está em transformar um fato histórico num thriller político e policial. A segunda, construir um elenco de estrelas capazes de dar voz e vida aos personagens históricos. A terceira, uma direção de fotografia e de arte orgânica para agradar tanto à crítica quanto ao público leigo. Normalmente, filmes históricos não podem ser obscuros e devem seguir uma tendência apontada por filmes como Argo, vencedor do Oscar de melhor filme, em 2013, e 12 Anos de Escravidão, vencedor deste ano, onde perdem um pouco de realismo para entrar no campo da ficção, mesmo que seja bem fundamentada historicamente.
7) Um último aspecto para ser apontado tem relação com a distribuição dos filmes nacionais nas salas de cinema espalhadas pelo país. Temos três majors hollywodianas (Disney, Fox/Columbia e Fox) que disputam a cena com o consórcio Downtown/Paris, que, anteriormente, tinha a parceria da RioFilme. Assim, as distribuidoras Downtown e Paris enfrentam juntas, em pé de igualdade, com as distribuidoras estrangeiras, demarcando seu território no cenário de distribuição de filmes nacionais como a mais importante e bem sucedida e ficando em 4º lugar no cenário de distribuição de filmes nacionais e internacionais no país. Logo, o consórcio de distribuição entre a Downtown Filmes e a Paris Filmes conseguiu a proeza, neste primeiro semestre de 2014, de exibir 11 títulos, alcançar um público de mais de 7 milhões de pessoas e gerando uma renda de mais de R$ 80,8 milhões, colocando seus filmes em 2.417 salas.
8) Já as distribuidoras independentes que lançaram filmes nacionais conseguiram furar o grande bloqueio das poderosas distribuidoras. Assim a Califórnia, a Imagem, a Vitrine e a Copacabana Filmes merecem todo o apoio do governo em criar uma ambiente de competição entre pequenas empresas, mas que sejam capazes de se sustentarem e alcançarem recursos para os seus desempenhos enquanto distribuidores independentes nacionais.
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