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Cinema brasileiro no 1º semestre – Parte II

O cinema brasileiro neste primeiro semestre continuou mantendo seu market share, em torno de 14% do público e 13% da renda, o que ainda é muito pouco diante da avassaladora presença estrangeira (leia-se norte-americana) nas salas de cinema do país. Por isso, uma política pública sustentável que atenda às necessidades do produtor cinematográfico brasileiro e do distribuidor nacional sem que haja prejuízo do exibidor deve ser pensada.

Mas uma coisa deve ser dita e compreendida: para que se tenha o devido entendimento, um filme que tenha custa na sua produção algo em torno de R$ 3,5 milhões (um valor mediano na produção de um longa-metragem) e que tenha a verba de lançamento de cerca de R$ 500 mil (um valor normalmente estipulado em editais de distribuição/complementação), para se pagar teria que arrecadar pelo menos R$ 16 milhões. Isso porque o produtor aproximadamente fica com 25% da bilheteria.

Daí, dos 10 grandes filmes nacionais, deste primeiro semestre, quantos foram pagos? Os três
primeiros (SOS mulheres ao mar, Os homens são de Marte … e Muita Calma nesta Hora 2) com certeza. O filme Alemão, segundo o próprio produtor Rodrigo Teixeira, custou pouco mais de R$ 1,2 milhão e, portanto, alcançou o ponto de equilíbrio financeiro, quando rompeu a barreira dos R$ 7 milhões. Já filmes como Confissões de Adolescentes e Copa de Elite, se custaram cerca de R$ 2 milhões, o que não devem ter sido, não conseguiram ser rentáveis.
Contudo, o filme Hoje eu quero voltar sozinho foi o grande caso de sucesso, pois é um filme de
baixíssimo orçamento, mas que por pouco não se tornou sustentável.

Um aspecto importante deve ser também analisado o caso do filme Getúlio que teve produção
e distribuição própria, pela Carla Camurati, esposa e sócia do João Jardim na Copacabana Filmes. Carla Camurati já havia produzido e lançado seu primeiro longa-metragem, que inaugura a Retomada do Cinema Brasileiro, com o filme Carlota Joaquina (1995) e teve um
desempenho de grande sucesso. No caso atual, ela criou um novo plano de produção e
distribuição do filme Getúlio, que deve ter sido feito com algo em torno de R$ 4 milhões, e conseguiu neste primeiro semestre o valor de pouco mais de R$ 6,3 milhão. Como foi a produtora e distribuidora do filme, poderá ficar com o mínimo de 50% da bilheteria total.

Porém, o mercado de produção cinematográfico no Brasil dependeu das leis de incentivo, que são a renúncia fiscal de grandes empresas ou empresários, interessados em fazer mecenato com o dinheiro público. Infelizmente, o cinema brasileiro só se sustenta com o apoio governamental, mas o modelo de renúncia fiscal tem cedido lugar para o financiamento direto governamental por fundos (FSA) e bancos de fomento (BNDES e BRDE), onde o retorno financeiro deve ser um compromisso no plano de negócios e as primeiras parcelas de bilheteria já são destinadas para os credores do filme.

Outro aspecto que também deve ser avaliado futuramente é o chamado Suporte Financeiro
Automático, definido no atual programa Brasil de Todas as Telas, sendo o mais novo mecanismo de financiamento que valorizará os resultados comerciais das produtoras, distribuidoras e programadoras, aportando o total de recursos para este ano no valor de R$ 70 milhões, especificamente para a produção nacional independente, para que as produtoras desses filmes possam ter recursos garantidos no Fundo Setorial do Audiovisual para investir em novas produções.

Encerro este artigo com o lúcido depoimento do cineasta Antônio Carlos Fontoura, que em
1999 diagnosticava o quadro de saúde do cinema nacional, para a pesquisadora Lúcia Nagib:
“E por que é inviável o cinema brasileiro se pagar? Porque 90% a 95% (leia-se hoje 85%) das telas estão ocupadas pelo cinema americano. Um cinema só é viável porque está sendo subsidiado. Aliás, ainda bem! Porque, se não fosse, nem isso existiria. O cinema brasileiro é um eterno paciente terminal, que não morre, mas também não sai da UTI”.

*Clique aqui para ler a primeira parte do artigo

Norlan Silva

Distribuidor, realizador, professor e crítico de cinema. Criador da Revista Quem Viver Verá!, presidente da Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo - Seção do Distrito Federal da ABD Nacional e Secretário-Geral do Congresso Brasileiro de Cinema.

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