Só fui ter a real dimensão da importância do Museu Afro-Brasil ao apresentá-lo para amigos de fora do país. Considerava o museu aquém da sua proposta, mas depois fui o compreendendo como ato de heroísmo e de resistência à dura realidade das nossas políticas de cultura. Fechado desde o último sábado, o museu acumula dívidas e há dois meses não paga funcionários. O Estadão de hoje fez matéria a respeito.
Em crise, Museu Afro Brasil fecha em SP
Atividades estão suspensas temporariamente no Parque do Ibirapuera; instituição tem dívida de R$ 200 mil e há 2 meses não paga funcionários
Vitor Hugo Brandalise, para O Estado de S.Paulo
Desde sábado, o Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, está fechado para visitação. O motivo, segundo seus administradores, é financeiro: por trás da placa “temporariamente fechado” fica uma instituição que há dois meses não consegue pagar os funcionários da limpeza, a manutenção do ar-condicionado, nem mesmo os 15 educadores que atendem visitas escolares – e que, na última semana, já estavam deixando de aparecer. A dívida chega a R$ 200 mil.
Os problemas financeiros – que acompanham a instituição desde a fundação, em 2004 -, no entanto, parecem estar perto do fim. Até anteontem, a instituição, administrada pela Associação Museu Afro Brasil, era mantida pela Prefeitura, em contrato com valor anual de cerca de R$ 1,8 milhão, assinado com a Secretaria Municipal da Cultura. Agora, com a assinatura de um convênio com o governo do Estado, a verba destinada ao museu aumentará mais de 15 vezes – até 2012, a instituição receberá um total de R$ 28 milhões, para reformar sua estrutura, ampliar a reserva técnica e restaurar o acervo, que conta hoje com cerca de 3 mil obras.
Para sanar os problemas mais urgentes, principalmente o pagamento dos 80 funcionários, a verba prevista para 2009 é de cerca de R$ 4 milhões. Segundo o secretário de Estado da Cultura, João Sayad, os recursos serão depositados na conta da associação até o começo da semana que vem. Até lá, porém, as portas do museu devem continuar fechadas. “(O convênio) foi uma iniciativa do governo estadual, preocupado com a sustentabilidade do museu, que apresenta dificuldades financeiras patentes desde que foi fundado”, explicou Sayad, em entrevista ao Estado na tarde de ontem.
“Não temos exatamente uma previsão de reabertura, mas trabalhamos tanto tempo com condições mínimas que podemos falar com os funcionários para reabrir, por exemplo, neste fim de semana”, disse o diretor financeiro do museu, Luiz Henrique Neves. “Podemos dizer que até sexta-feira ele fica fechado. Mas haverá uma reunião da diretoria para definir quando reabriremos.”
PROBLEMAS
Além dos recursos municipais, a associação que administra o museu dependia, até aqui, do apoio de empresas, incentivadas por isenção fiscal promovidas pela Lei Rouanet – principalmente a Petrobrás, que destinou, anualmente, cerca de R$ 2 milhões ao museu desde a fundação. “Mas, no fim do ano passado, nosso projeto não foi aprovado pelo Ministério da Cultura e as empresas, que não teriam mais benefício fiscal, não renovaram o apoio. Então, nossa verba minguou”, afirma Neves.
Com gastos mensais de cerca de R$ 200 mil somente em manutenção, a direção do museu avisou os funcionários, no mês passado, que não teria condição de pagar os salários. Na sexta-feira, segundo Neves, os avisou que não precisariam trabalhar a partir de sábado e que “aguardassem um telefonema”. Ao público que comparece ao museu, no Pavilhão Manoel da Nóbrega, perto do portão 10 do Ibirapuera, apenas a plaquinha na porta. “Pedimos para a empresa que atualiza o site parar o serviço”, justificou o diretor financeiro.
Mensalmente, entre 13 mil e 16 mil pessoas visitam o Museu Afro Brasil – por causa do fechamento das portas, no sábado, pelo menos 10 escolas públicas tiveram de desmarcar visitas. “É chato, mas isso não vai voltar a ocorrer nesta nova fase”, garante Neves.
Para entidades de defesa do movimento negro, o principal desafio na nova fase do museu – que se dedica, segundo definição própria, a “preservar o legado do negro na formação cultural do País” – é incluí-lo na agenda cultural da cidade. “É um absurdo ter chegado aonde chegou. Isso é reflexo do valor que a administração municipal, e a própria sociedade, dava a ele”, avalia Edna Roland, coordenadora, entre 2003 e 2005, da Área de Combate ao Racismo e Discriminação da Unesco no Brasil. “Que isso mude a partir de agora.”
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O Museu Afro é um dos mas importantes museus o país, voltado à pesquisa, conservação e exposição de objetos relacionados ao universo cultural do negro no Brasil, num lugar de fácil acesso e totalmente democrático, sendo acessível a qualquer camada da população.
O que fico indignado é como o Governo tendo um museu deste para apoiar, fica criando impasses, e nunca deu a mínima importância e apoio, ao contrário, vendo o museu numa situação desta, prefere fazer gastos exorbitantes em uma virada cultural de um dia, teatro para dança (400 milhoes)ou criar museu no Detran.
Até que enfim o governo toma uma atitude e faz um investimento no museu.
Novamente caímos na questão da Lei Rouanet.
O governo criando um espaço para dança, gastando uma fortuna (enquanto o Municipal as moscas) depois de pronto, qual sera custo mensal, quem vai pagar esta conta.
Mais uma instituição governamental que estara entre os 10 mais captadores da Lei Rouanet, passando cada vez mais os governos a dominarem as verbas da Lei, de um custo que eles que deveriam arcar com seus próprios orçamentos.
Uma lei que daqui a poucos anos tera entre os seus 10 maiores captadores apenas orgãos ligados ao governo.
é uma vergonha, uma verdadeira falta de amor e respeito a história do negro deste país e a história do negro como um todo... que na base da porrada, sofrimento e maus tratos, fez esta nação se desenvolver, ser o que é hj... garanto que se fosse um musel de imigrantes europeus, haveria piso de mármore, janelas com vitrais importados, tapetes importados e etc.. e muitos,,,, muitos recursos...mas como é de algo ligado aos "negros"... é isso ai que vimos... nas não ficaremos quietos, vamos protestar e cobrar o que nos é de direito, o respeito e dignidade, principalmente com investimentos dos orgãos givernamentais na sustentabilidae e manutenção deste museu.
Não sei o que aconteceu com o museu, mas havia a promessa de reabri-lo no sábado, segundo informações da Agência Estado de sexta-feira:
Mesmo sem verba, Museu Afro Brasil deve reabrir hoje
Da Agência Estado
O Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, fechado desde sábado por problemas financeiros, será reaberto hoje, segundo a diretoria da instituição. “Chegou um momento em que a situação ficou insustentável e tivemos de fechar. Vamos reabrir para não repassar à sociedade um problema interno da instituição”, disse Emanoel Araújo, diretor e curador do museu. A instituição acumula dívidas de cerca de R$ 200 mil e não paga funcionários há dois meses.
Mesmo trabalhando praticamente sem recursos, a diretoria do museu afirma que os agendamentos de visitas escolares, principal público em dias da semana, já recomeçou. Segundo Araújo, o museu estará aberto em horário normal de funcionamento, de terça a domingo, das 10 horas às 17 horas. “Nos manteremos abertos, mas nossa situação só começa a ser regularizada quando os recursos do governo do Estado forem repassados”, disse Araújo.
Na terça-feira, a Associação Museu Afro Brasil, que administra a instituição, assinou convênio com o governo do Estado - até 2012, R$ 28,3 milhões serão destinados para o museu. Cerca de R$ 4 milhões devem ser repassados em 2009, provavelmente a partir da semana que vem, para sanar os principais problemas. Até aqui, o Museu era mantido com recursos da Prefeitura da capital paulista - cerca de R$ 1,8 milhão por ano - e de patrocínio de empresas privadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O Museu AfroBrasil tem grande importância não apenas para a comunidade negra, mas para todos os grupos que reconhecem no equipamento estratégico MUSEU um porto seguro para o fomento e disseminação da identidade cultural como meio de Educação, Preservação e Aperfeiçoamento social. Desta forma, espero que possamos novamente encontrar este Museu aberto, com profissionais atuantes com projetos pioneiros para que nossas familias, paulistas ou não,possam se orgulhar cada vez mais da diversidade cultural deste grande Brasil.
Que os demais museus da capital e do interior também possam ser beneficiados com verbas públicas para continuar existindo, contribuindo junto a crianças, jovens e adultos com ou sem necessidades especiais.