As novas corporalidades dos feitiços visuais. Assunto de conferência da Unesco e tema da mais recente pesquisa do filósofo italiano Mássimo Canevacci. Este artigo examina a comunicação focalizada na proliferação dos novos fetichismos visuais, que se difundem na relação entre bodyscape e location: ou seja, entre os corpos-e-espaços panorâmicos espalhados nas metrópoles comunicacionais. Para retratar esse aumento excessivo de fetichismos é necessário penetrar nas composições imagéticas, sonoras e escritas que exprimem um sentir pluri-sensorial e multi-seqüencial. Tais composições fetichistas são divulgadas por meio de contínuas manifestações de comunicação visual, consumos performáticos, múltiplos sujeitos, sincretismos digitais, difusão sound-scape.
Como conseqüência de tal transformação cultural, deve-se ressaltar a importância crescente dos fetichismos visuais que estão ligados à difusão tanto de tecnologias digitais quanto de estilos corporais. Entre as novas visões do fetichismo e aquelas tradicionais há disjunções que apresentam uma ruptura em relação ao passado. Graças ao complexo fluxo de fragmentação, citação, re-significação, os códigos da cultura visual atravessam e cruzam inúmeras publicidades fetish, muitos artistas contemporâneos (body art), um certo tipo de cinema (Tarantino, Lynch, Cronenberg), todos os sites porno-web, vários estilistas cool, lugares da moda (dress-code), designers metropolitanos, até mesmo a música eletrônica; e, enfim, o panorama total das modificações corporais (piercing, escarificações , tatuagens, etc.)
Assim, é possível dizer que não há atividade expressiva da comunicação contemporânea que não tenha contínuas e perturbadoras referências aos fetichismos visuais. O corpo – seja como corpo vivo (body), seja como corpo morto (corpse) que se expande nas coisas viventes – é o cenário fluido desse novo fetichismo: é a transformação do corpo em bodycorpse (Canevacci, 2007). Um mix híbrido de vida e morte, orgânico e inorgânico. Os resultados são tramas “tecidas” por constantes trânsitos de significados que são interpretados contextualmente, refutando cada simplificação arquetípica ou homologante. É importante fazer um corte transdisciplinar e performático no interior do cenário metropolitano, dentro do qual o fetichismo visual constitui um cenário constantemente móvel (uma “mobília” entre bodyscape e location).
O segredo para o qual se deve voltar a atenção é a comunicação visual digital baseada em um “centro descentralizado” – material e imaterial, reprodutível e aurático – que difunde conflitos, tensões, enxertos. Para examiná-la em suas disjunções e conexões, é preciso repensar as três abordagens clássicas sobre o fetichismo: a colonialista, a marxista e a freudiana. Os novos fetiches digitais se caracterizam por códigos, sinais, perfis que delineiam a “perversa” fisiognomica dos novos produtos imateriais. Os resultados visíveis são fetiches semióticos que ligam em um vínculo duplo o observador e o observado, o orgânico e o inorgânico, o corpo e o produto, a pele e o pixel. Os fetiches visuais se apresentam como novas subjetividades – uma video-subjetividade ou uma videocarne –, com biografias próprias e até mesmo uma biologia transorgânica própria. A transfiguração do fetichismo confirmou o uso da palavra francesa fetish, que atesta uma mudança e um aceleramento desse cruzamento entre fetichismo visual, cultura digital e estilos de consumo nos seguintes âmbitos contextuais e empíricos:
a) bodyscape
Bodyscape é o corpo panorâmico que flutua entre os interstícios da metrópole comunicacional. O sufixo –scape persegue acelerações de códigos antes invisíveis que um corpo insere por montagens sucessivas ao longo da própria figuração para construir fisionomias temporárias. O corpo de um sujeito que se envolve em dress-code é impelido a elaborar novos sistemas perceptivos – novos sensoriais – que exploram as zonas mortas entre aquilo que é conhecido é aquilo que está vindo à tona. O bodyscape arrebata as zonas mortas quando incorpora fetiches e os transfigura em zonas cosméticas.
b) Location
Location é um lugar-espaço-zona-interstício que caracteriza o transurbanismo contemporâneo, cujos códigos – mais que no design exterior – são significativos no interior: é aqui que o design de cada objeto, a configuração de cada cômodo, sala, corredor, banheiro, nicho, luz-sombra, som-design, etc. acentua ao máximo a percepção de códigos fetish incorporados. O jogo dos dress-code somatizados e expostos à location produz atratores: ou seja, tensões sensoriais que movem sujeitos que vagam nos interstícios metropolitanos. Bodyscape e location são traços ou impressões digitais em um sentido duplo: como indicativos tanto de uma identidade oportuna quanto de elaboradas tecnologias visionárias.
Bodyscape e location exprimem atratores sexuados em um jogo performático com contínuas citações, trocas, inversões, perversões, multiversões, subversões. Ambos são entidades de identidade fluida que não têm um gênero (masculino-feminino), um lugar (público-privado), uma ontologia (orgânico-inorgânico), uma moral (bem-mal), uma dicotomia (natureza-cultura), uma hierarquia (alto-baixo). A força de tais atratores não é opositiva (ao poder), mas percorre os territórios do outro.
c) dress-code
Dress-code inclui uma pragmática do corpo que se modifica através de contínuas escolhas por parte de um sujeito que desafia toda identidade fixa e que brinca ironicamente com os estilos (étnico, dark, punk, fetish, folk, cosmopolita, etc.), assimila o corpo a uma arquitetura própria que mistura pele, pêlos, objetos, acessórios, cosméticos. No dress-code, os códigos não têm um significado estável, muito menos inconsciente. Os símbolos são expostos como superfície.
Na linguagem da moda, distingue-se clothing de dress: – clothing se refere às roupas e acessórios, jóias, make-up, tatuagens, piercings singularmente presos; – dress envolve e move aquelas práticas que caracterizam escolha, incorporação, combinação, montagem, cut-up, morphing, enfim, a seleção em favor do contexto; – code, por outro lado, é um código que indica as escolhas da transformação, as lógicas sob e supra-existentes à atividade semiótica que o corpo adquire com base em escolhas construídas por parte do sujeito.
Dress code como location: location do corpo. A construção de um panorama corporal é significativa para determinar relações com o outro ou com as location. Dress-code é o fetiche que dança entre uma location é um outro ser. O dress-code encarna em você como sujeito naquele momento, naquele lugar, com aquelas pessoas: dress-code é cosmético e cosmogonia, uma senha que favorece o cruzamento (crossing) entre location e bodyscape.
Dress-code expõe atratores: códigos visuais de alto valor fetish que chamam a atenção em seu movimento inter e intra-espacial. Os atratores comunicam – seduzem – o emergente. Os atratores são policêntricos e polimorfos. Os atratores brincam com os movimentos de uma pupila passageira que está bloqueada (atraída) e colada no corpo estendido dos códigos fetish.
Toda essa constelação móvel e cambiante inventa – de modo constante, obsessivo e pudico – novos panoramas fetish que se encarnam e se atraem entre bodyscape e location. Disso prolifera uma nova carne digital que exprime a ambigüidade extrema de experimentar ao máximo cada dualismo. Porque o fetichismo tem isto de ambígua utopia: encarna possíveis metamorfoses, nem totalmente objetos nem apenas sujeitos. Coisas, lágrimas, rochas, madeira, carne, osso, pixel…
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