Dança e copyleft no palácio de cristal


O Acervo Mariposa é um projeto sem finalidade lucrativa existente desde 2006 e patrocinado desde maio de 2008, que gerencia a difusão de vídeos de dança, sejam estes registro, videodança, documentário, entre outros. Foi realizado por este projeto o V.H.S. Copyleft na FUNARTE no Rio de Janeiro nos últimos dias 10, 11 e 12 de dezembro no qual estiveram presentes Antônio Cabral, advogado do Creative Commons no Brasil – grande parceiro e os coreógrafos Dani Lima, Gustavo Ciríaco e Frederico Paredes, atentos ao debate sobre autoria e direitos autorais na dança. Também contou com a participação de dois acervos da cidade com os quais pudemos trocar sobre a organização de acervos em dança – que foram o Centro Coreográfico do Rio de Janeiro e o Acervo site Klauss Vianna. 

Aqui situados, nossa conversa sobre este encontro do Vídeo Homo Sapiens – vídeo bem perto da nossa espécie – traz à tona antigas e novas preocupações do mundo contemporâneo por definição: onde fica o sujeito? Imerso no meio líquido das informações, o sujeito tenta entender como ele torna particular sua criação. Caro ao artista, ser único e original já não é mais um sonho possível. Então, o que resta ao direito da autoria?

Bem vindos a uma possibilidade de convivência, de compartilhamento e de disseminação da sua produção artística, reforçando o espaço cultural da obra. Copyleft.

Perfeito para o cinema, a música, ainda que incomode. Mas em dança?!…

Em dança, o corpo é pertencente ao meio que mais parece um palácio de cristal. O palácio que habitamos ilustra como a dança pensa e funciona na cultura: cristal que é frágil, que isola e que pretende singularizar seu conteúdo. Putz. Um nó do encontro.

Feitas estas provocações, vamos as falas do encontro. Gustavo Ciríaco apresenta perguntas sobre autoria: quem é autor? Quem cria é dono? Como sabe que é dono? Até onde vai sua posse? Quem possui é possuído pelo o que possui? Quantas posses tem o sujeito? Há diferentes posses? Em que faz a diferença dessa posses? Isso importa? Mostra que nosso entendimento mais comum sobre autoria é exclusividade, originalidade, posse! Precisamos pensar como assinar nossa autenticidade. Proteção.

Ao lado disso, reforçando a importância da dança, Dani Lima fala sobre a especificidade da dança como um produto do próprio fazer; está no como fazer, no presente, no corpo, e não em outro lugar. E ainda, aprende-se em dança com as referências de outros; falamos sempre de um recorte, de um jeito, de um possível autor. Não é fazer igual, é tomar o outro como ferramenta para novo caminho.

Construído o corpo da dança, podemos perguntar: mas faço para quem?

A questão do público (quem assiste dança mesmo?) refaz todo o raciocínio.  Antônio Cabral e Frederico Paredes puseram nosso palácio de cristal à prova. Somos autênticos quanto mais pessoas puderem assistir o que fazemos e conhecer qual é a nossa assinatura.

O movimento artístico-cultural que o copyleft sugere à dança não põe à prova a autenticidade do autor, já garantida pelo seu corpo presente e, por outro lado, pelo direito moral. É necessário estudar direito para saber disso, mas podemos nos certificar por lei que nosso direito de existência não é a discussão. Mas sim o direito à propriedade e quem o detém: o artista ou a indústria? No caso, da dança, qual é mesmo o mercado?

Portanto, o V.H.S. Copyleft no Rio foi um caro e inédito investimento que pretende lançar um novo contexto: chegando perto do copyleft, a dança precisa pensar não na sua importância estética, seu valor autoral ou sua particularidade, mas sim no seu meio de difusão. Por onde passa, quem vê ou como alcança mais partes, além do seu palácio.

Nirvana Marinho

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  • Nirvana e equipe tem feito um belo trabalho e a sensação é de que sua criatividade e perseverança estão ocupando um vazio que ia ficando incompatível com o crescimento da dança no Brasil. Bons ventos e longa vida Mariposas!

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