Foto: Eduardo Deboni
A atriz e o diretor foram questionados sobre uma possível e suposta dependência do teatro à Lei Rouanet. E se a criação do Profic resolveria o financiamento ao setor: “vamos viver uma guerra fratricida, artistas contra artistas, produtores contra produtores”. Leia o depoimento na íntegra:

Uma parte importante do teatro vem se desenvolvendo com o apoio da Lei Roaunet. Nos últimos 10 anos assistimos a uma gama de artistas, produtores, técnicos e empresas se capacitarem, se estruturarem em função da existência um setor real de mercado, que consegue remunerar os profissionais e estabelecer um patamar digno de trabalho.
Uma outra parte importante do teatro (que pouco utiliza os mecanismos de incentivo fiscal), como os Grupos, lutam para ampliar suas fontes de fomento público perenes para dar continuidade às vitais experimentações de linguagem. E abaixo uma gigantesca massa de vontades, paixões, energias, transpiração e criatividade disputam os poucos editais de fomento indiscriminado e direto. É o natural (e ingrato) processo de seleção.

Quem é do meio, quem produz, quem faz, conhece a selva agressiva, por vezes cruel, que é se viabilizar na atividade. Mas com a Lei Roaunet (e todos os seus defeitos) caminhamos muito e hoje a produção das artes cênicas no país é uma realidade de vida para milhares de talentos e uma realidade de expressão e fruição para a sociedade.

O Profic é uma necessidade e nem se discute que a responsabilidade maior do fomento é do Estado, mas eliminar ou restringir fontes já estabelecidas é um erro. O país é continental, suas diferenças culturais são gritantes e centralizar as demandas é um equívoco que vai prejudicar a todos, artistas, sociedade e a cultural nacional.

Somos a única indústria que produz protótipos, não produtos iguais em série. Acreditar que um único órgão burocrático tenha recursos suficientes e condições de julgar, processar e mover os milhares de projetos de todo o Brasil com rapidez, justiça e eficácia é utopia, além de uma tarefa inglória para os que se habilitarem a tal. E deste lado vamos viver uma guerra fratricida, artistas contra artistas, produtores contra produtores, etc.

Aprendemos no cinema, depois de repetitivos ciclos esquizofrênicos, que não se joga a criança fora junto com a água suja. Criam-se novos mecanismos de fomento sem destruir os antigos para que o mercado tenha tempo de se reestruturar e o Governo tempo de se equipar para atender a demanda.

O resto é confusão, instabilidade e crise, onde não há vencedores, só perdedores.


Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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