Discussões em São Paulo unem ONGs, empresas e governo, iniciando um debate necessário, mas aquém dos avanços acumulados em outros fóruns.
Foi realizado, em 30 e 31 de agosto último, o 1° Seminário Internacional de Democratização Cultural, promovido pelo Instituto Votorantim e acompanhado por nossa reportagem. Nos dois dias do evento, os cerca de 300 participantes, entre jornalistas, produtores culturais, membros de instituições de fomento e representantes esparsos de órgãos públicos, assistiram a uma série de palestras, focadas no acesso à cultura, tema central do evento.
Na abertura, presentes à mesa José Ermínio de Moraes Neto, presidente do Instituto, Roberto Nascimento, secretário de fomento à cultura do Ministério da Cultura, representando o ministro Gilberto Gil, João Sayad, Secretário da Cultura do Estado de São Paulo, e José Roberto Sadek, Secretário Adjunto de Cultura do Município de São Paulo, representando o Secretário Carlos Augusto Calil. Muito se falou, nesta mesa, em termos como capital social, desenvolvimento, papel das empresas em apoiar este desenvolvimento, políticas públicas de acesso e de fomento, num panorama geral de expectativas e planejamentos da mesa.
Ermírio de Moraes colocou a importância da cultura para a população, para seu desenvolvimento, e a necessidade do empresariado participar no fomento a esta área, por seu papel na sociedade, em especial para alterar os baixos índices de acesso da população brasileira à cultura. Ainda segundo o empresário, embora a própria Votorantim já investisse, optaram por, com o Instituto e com o programa de democratização cultural, otimizar investimentos na área, esforço que para ele se concretiza ao buscarem entender melhor o que é a democratização da cultura através deste seminário.
Sadek, em sua fala, criticou o descompasso entre as políticas de fomento à produção e o consumo dos produtos culturais, e apontou mesmo uma tendência de “superprodução” artística hoje, somada ao pouco investimento em acesso, numa infra-estrutura da cultura e do acesso à cultura adequados. “Cultura não é lixo, não cabe em qualquer canto. Não adianta inaugurar um monte de espaços que não são bem geridos, e por isso, por não estarem bem conservados, não atraem os públicos”, disse. Para o representante da prefeitura de São Paulo, o que falta, especialmente na periferia, são espaços culturais qualificados, e não apenas alternativas culturais.
Sayad, por sua vez, colocou o potencial de que as formulações deste seminário servissem como bases para as próximas políticas públicas de cultura. Quanto ao que financiar, o gestor disse que não sabemos exatamente o que é política cultural hoje, mas é certo que é um erro financiar a Arte somente, como se levá-la aos que não tem acesso fosse resolver tudo, e colocou ainda que a questão talvez não seja a importância econômica ou educativa da cultura, mas seu caráter inerente ao ser humano, por isso sendo preciso garantir sua fruição e produção contínuas.
Representando o governo federal, Nascimento falou sobre o direito do povo à cultura, presente na busca, pelas comunidades, de uma cidadania plena, representada na possibilidade do usufruto do direito de acesso à cultura e do espaço para mostrarem suas artes e manifestações, com o fortalecimento das cadeias produtivas. Falou ainda sobre o papel das discussões de diversidade no Seminário de Diversidade Cultural promovido pelo MinC em 2006, e que reverberam nas ações do ministério e em fóruns como o Seminário do Instituto Votorantim. Por fim, chamou atenção para a necessidade de desconcentrar o consumo de cultura no país, seguindo o conceito do programa Cultura Viva, e louvou a possibilidade de parcerias entre a iniciativa privada e o investimento público. A seu ver, chegou o momento em que o investimento público já fez a sua parte, e cabe agora aos gestores criarem parcerias e permitirem que o empresariado amplie o financiamento e o investimento na economia da cultura e na economia criativa.
Falta de Diálogo
A razão de tão amplo leque de assuntos tratados logo na abertura, por sua vez, diz respeito à importância dos presentes, e talvez também à falta de diálogo permanente entre suas instituições, numa área hoje ainda com pouca tradição em debates amplos e transversais, assim como em construções coletivas entre setores diversos da sociedade (empresarial, no caso) e instâncias diferentes dos governos. O clima da abertura, por sua vez, se repetiu nos espaços do Seminário, marcados pela falta de debates conclusivos sobre os temas. Foi, porém, um fórum onde se desenhou uma proximidade maior entre os diversos atores, lançando bases para os seminários de investimento privado em cultura e de diversidade cultural, que devem acontecer entre outubro e dezembro deste ano, promovidos pelo Ministério da Cultura, e para uma participação do setor privado além do investimento direto ou via Lei Rouanet.
A cobertura dos debates, através de um breve relato do exposto em painéis e mesas redondas, podem ser encontrados em nossa cobertura (leia aqui). Detalhes sobre os participantes e outros materiais podem ser encontrados no site da Votorantim para o evento [www.votorantim.com.br/seminario]
Guilherme Jeronymo
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…