O perfil desta semana traz a história e as conquistas da carioca Ana Paula Jones, atriz, bailarina, pesquisadora e produtora cultural. Um exemplo de como a organização da sociedade civil pode contribuir para a preservação das culturas populares.

Desde criança em contato com o universo da cultura através de sua mãe, que é artista-plástica, aos 15 anos atuou em sua primeira peça profissional no Tablado, Rio de Janeiro. Enquanto cursava Artes-cênicas, fez duas novelas e, na terceira conheceu Jerzy Grotowski, decidindo então, ir para os Estados Unidos trabalhar na companhia Theater Labirynth. Mas a busca pelo auto-conhecimento, a própria identidade cultural, as raízes brasileiras e a cultura popular surgiu do contato com o diretor iraniano Massoud Saidpour, em 1997 em Ohio e, através da percepção de que as “expressões da cultura viva” estavam muito mais ativas nos EUA do que no Brasil. “Foi quando eu descobri a essência do teatro ritual, Perforing Arts, que é antropologia e teatro”, conta a produtora, “e o Brasil tem uma diversidade muito grande e todo o espaço a ser explorado”.

Desta idéia surgiram muitos projetos, como o ‘Mestres nas praças e Mestres nos parques’, que invadia o espaço público para democratizar a cultura e levar as expressões populares aos mais variados públicos. Com o projeto ‘Raízes da tradição: danças, cantos e ritmos’, ampliou esse ideal levando Mestres da cultura popular para o Rio de janeiro, Minas Gerais e São Paulo, durante cinco anos. Era o início do “Raízes da Tradição”, Instituto coordenado por Ana Paula, o qual busca difundir a identidade brasileira na fidelidade de suas expressões culturais, através de oficinas, performances e eventos de cultura popular.

Partindo do pressuposto de que “o campo das culturas populares no Brasil não é delimitado”, Ana Paula busca estimular o debate articulando o setor cultural e a sociedade civil, como na iniciativa do Fórum Permanente de Cultura Popular, fundado em agosto de 2002 com a sua participação. “Mestres, pesquisadores, representantes do Sesc, Ongs, mais de cem instituições, agentes culturais, artistas (entre eles o Antônio Nóbrega) nos unimos para formar uma classe, buscar uma articulação das culturas populares”. Desta primeira reunião em 2002, nasceu o Fórum, que ficou sob sua coordenação por dois anos. Em 2003, conseguiram uma reunião com o governo (Juca Ferreira, secretário-executivo do Ministério da Cultura e outros secretários) para expor a o tema, “e eles pautaram a cultura popular como assunto de relevância nacional”, explica. Esta conquista, Ana Paula diz que partiu de uma estratégia: “organização da sociedade civil, onde apresentamos ao Governo nosso ideal e nossa identidade. Falamos de leis que não contemplam o dinamismo das culturas populares, sugerimos estratégias e argumentamos para que o governo fomentasse o FCP”.

Daí em diante, criaram um grupo de trabalho e passaram a trabalhar com o Ministério da Cultura por mais de um ano, onde “adquirimos aprendizado para repassar aos parceiros do setor, sobre Políticas públicas, o trabalho da Secretaria da Identidade e da diversidade Cultural, etc.” E com essa experiência, Ana Paula coordenou o Seminário para as Culturas Populares, que culminou em uma carta propositiva, onde a palavra dos mestres da cultura popular foi decodificada pela coordenação do Fórum em parceria com a Brant Associados, e transformada propostas de políticas públicas. O documento virou livro e catálogo, “levando essa discussão para o mundo, com tradução em inglês e espanhol”, diz a coordenadora.

A primeira apresentação foi durante a Conferência Nacional, em Ohio, EUA, em junho deste ano. Em outubro, Ana Paula apresenta a discussão em Barcelona, nos dias 5, 6, e 7 de outubro para agentes, artistas e representantes de vários paises do mundo. Do Brasil, já está confirmada a presença de Juca Ferreira, secretário do Minc.

Maira Botelho


editor

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