FSM: Seminário discute temas centrais da globalização e cultura. “A cultura não é uma mercadoria como as outras, tem fórmulas especiais”, diz ministro das Relações Exteriores da FrançaPor Deborah Rocha
29/01/2003

Cereja do bolo
Dedicado à discussão dos temas centrais que envolvem a globalização e a cultura, o primeiro dia do Seminário Diversidade Cultural, que ocorreu de 24 a 26 de janeiro no Fórum Social Mundial, contou com a presença de importantes personalidades do setor e apontou caminhos para a viabilização da realidade que dá nome ao evento. Como moderador, Ben Berardi, da Rede Cultural Mundial, iniciou o debate destacando o avanço da presença da cultura no Fórum de Porto Alegre. Nas duas primeiras edições, o Fórum não assumiu a cultura como eixo estruturante, apenas como a “cereja do bolo”, cita o interlocutor. Ou seja, como programação recreativa e não como elemento de discussão e transformação da realidade mundial.

Política audiovisual
Após apresentar como seria o andamento do seminário, Berardi passa a palavra a Assunção Hernandez, do Congresso Brasileiro de Cinema. Para a cineasta, estimular a diversidade cultural no cinema significa dar oportunidade de construir e constituir a própria história do país, em que as diferenças são as nossas riquezas e não as nossas limitações. Segundo Assunção, a classe se organizou para atuar não apenas como bons técnicos, bons profissionais, mas também como bons políticos que atuam no desenvolvimento de uma política de ação audiovisual.

A debatedora indigna-se com o fato de que não há sala de cinema para 90% da população no Brasil, em que o “espaço natural do cinema é o dos shoppings centers”. Além disso, o cinema também fica fora da programação televisiva. Segundo ela, nenhum país democrático permite o acesso de uma cadeia de televisão a mais de 35% do país, com mais de 25% de produção própria. Apesar disso, a Rede Globo tem 80% do mercado e produz 100% da sua programação.

O quarto poder
Em seguida, fala James Early, da International Network for Cultural Diversity. O norte-americano cita a importância dos avanços da comunicação e diz que temos capacidade de nos comunicar como nunca antes, disseminando línguas, concepção de mundo e de cultura. “Precisamos refletir sobre o significado da globalização. Esse extraordinário poder da comunicação deve ser decentralizado”, afirma.

Early pergunta como podemos participar mais ativamente no processo de decisão e fala da necessidade de ver o povo sendo retratado nas imagens da produção cultural. Cita a organização INCD como elemento formador e construtor de políticas, unindo o pensamento e as formas de fazer a diversidade cultural algo real e efetivo. “Uma cultura criadora democrática precisa ser incentivada.”

Exceção cultural
Para apresentar o painel Circulação dos Bens Culturais através das Novas Tecnologias foi convidado Didier Debret, diretor adjunto de cinema, novas tecnologias e promoção da diversidade cultural, no Ministério das Relações Exteriores de França. Em seu país, existe um imposto sobre as salas existente desde 1947 e a televisão financia com impostos a produção do cinema. “Consideramos que a cultura não é uma mercadoria como as outras, tem fórmulas especiais”, diz o ministro. Para ele, é legitimo que os estados possam desenvolver as políticas de sua escolha.

Jabá
Como último debatedor, Lobão, do Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, apresentou o painel Alternativas para a indústria fonográfica. De modo despojado, o músico dá as boas vindas: “Boa tarde rapaziada!”. Comenta o processo de aprovação da Lei da Numeração no Congresso, do qual foi ferrenho defensor juntamente com Beth Carvalho. Ambos conseguiram 5 mil assinaturas e no dia 16 de dezembro entrou em vigor a nova lei. “Artista tem que dar problema, senão não, não é artista, diz.”

Por fim, defende a “criminalização do jabá”, nas palavras dele, (prisão, multa e perda de concessão), a legalização das rádios comunitárias e a transmigração do ICMS para as gravadoras independentes como ações de uma plataforma propícia à diversidade.

Participaram da organização do Seminário o Congresso Brasileiro de Cinema, o Instituto Pensarte, a Rede Cultural Mundial, a Rede Internacional pela Diversidade Cultural, o Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado de Rio de Janeiro e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).


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