Leia o documento que é resultado do seminário sobre Propriedade Intelectual organizado pela Rede Brasileira pela Integração dos Povos
Carta do Leme
Este documento é resultado do Seminário Nacional “Propriedade Intelectual: Interfaces e Desafios”, organizado pela Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP), no qual os atores presentes debateram os constrangimentos impostos pelas regras de PI em diferentes áreas do conhecimento, que impedem a sustentabilidade e o pleno direito ao desenvolvimento humano, econômico, social e cultural dos povos.
Rio de Janeiro, Brasil, 29-30 de novembro de 2005
A todos os governos, instituições internacionais e povos do mundo.
Nós, entidades, organizações da sociedade civil, profissionais, estudantes e pesquisadoras/es, comprometidas/os com a democratização do acesso ao conhecimento, à saúde integral, e com o direito à segurança alimentar, especialmente das pessoas pobres, acreditamos que, mantidas as atuais regras de propriedade intelectual, os países tecnologicamente dependentes e suas populações têm os direitos humanos desrespeitados.
Nosso entendimento sobre os direitos de propriedade intelectual e seu impacto no mundo em desenvolvimento é diametralmente oposto à lógica do livre comércio e da liberalização econômica prevalecente nas negociações entre os países, no âmbito da Organização Mundial do Comércio – OMC e demais Fóruns multilaterais. Fazemos parte de um movimento global da sociedade civil organizada que tem, consistentemente, demonstrado os impactos negativos dessas negociações sobre as populações pobres, o meio ambiente e a biodiversidade.
No exercício de nossa cidadania:
Manifestamos nosso repúdio à lógica de naturalização da inserção do conhecimento no rol das mercadorias. A forma como avança o capitalismo e a agressividade do grande capital sobre os países em desenvolvimento – e tecnologicamente dependentes – fomentam a apropriação perversa e a privatização de bens intangíveis, como o conhecimento científico e o conhecimento tradicional das comunidades, a informação, as artes, as fórmulas farmacêuticas e a biodiversidade.
Consideramos reprovável e inconcebível que os conhecimentos que propiciam desenvolvimento econômico e social, melhoria de qualidade de vida e sobrevivência das populações recebam o tratamento de mercadoria, e como tal sejam monopolizadas e comercializadas pelos países desenvolvidos.
Defendemos a ampliação da participação da sociedade civil organizada em todas as esferas de decisão, nacionais e internacionais, sobre aspectos ligados à propriedade intelectual, como única forma de implementarmos o devido controle social. Exigimos total transparência nos processos decisórios dos acordos comerciais, multilaterais e bilaterais, e ajustes de legislações internas dos países.
Exigimos a paralização e a NÃO realização de quaisquer novos acordos no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC). Vivemos a realidade de um quadro desolador, resultante da enorme desigualdade existente entre as nações produtoras e aquelas meras consumidoras de tecnologia, ou seja, entre aquelas que são detentoras e as dependentes das patentes e outros dispositivos de proteção intelectual. A OMC tem demonstrado que NÃO representa os interesses dos países em desenvolvimento e das populações excluídas, ao contrário tem contribuído para o aprofundamento da pobreza e das assimetrias entre os mais ricos e os mais pobres. Todos os esforços devem ser feitos para garantir o direito de proteger o acesso de todas as pessoas aos bens essenciais, à manutenção e respeito às salvaguardas atuais e um comércio voltado para uma maior integração sustentável e solidária entre os povos.
Rechaçamos a inclusão ou permanência de temas ligados à propriedade intelectual em acordos de livre comércio de caráter regional e sobretudo nos acordos bilaterais norte-sul, entendendo que a inclusão de tais temas como moeda de troca para a conquista de mercados amplia a dependência dos países pobres e as desigualdades já existentes.
Somos radicalmente contra às regras que significam o aprofundamento do já restritivo acordo TRIPS da OMC por serem abusivas e desumanas.
Declaramos que:
1. O monopólio patentário de medicamentos essenciais e as barreiras para implementação das flexibilidades legais são os maiores obstáculos para o acesso de milhões de pessoas no mundo a tratamentos e ao pleno exercício do seu direito à saúde. As flexibilidades previstas pela OMC para melhorar o acesso a medicamentos essenciais, como por exemplo a Declaração de Doha e a Resolução de 30 de agosto, são conquistas da sociedade civil organizada que sempre clamou pela priorização do respeito aos interesses e à saúde das populações menos favorecidas. No entanto, percebemos com pesar que as normas que têm como princípio o respeito aos direitos humanos e que se tornaram leis nacionais, como as salvaguardas em matéria de propriedade intelectual, são automaticamente transformadas em “ilegalidade” no plano global ao primeiro esforço de execução, ou seja, os direitos se transformam em crimes, e os países passam a representar ameaças e sofrer retaliações dos detentores do conhecimento passível da flexibilização.
2. Os meios de comunicação revestem-se não apenas de importância econômica, mas, principalmente, da capacidade de interferir em processos sociais e culturais. Tradicionalmente, este é um setor oligopolizado, com forte presença de gigantes transnacionais que fazem circular por todo o planeta os mesmos filmes, músicas, livros, games, notícias. A lógica da propriedade intelectual neste setor acentua o poder dos monopólios, diminui a diversidade cultural (elemento-chave para a construção de sociedades democráticas) e não beneficia os produtores culturais. Pelo contrário, ela serve como elemento inibidor para a livre expressão e circulação de informações.
3. As discussões em torno da validade do patenteamento de “invenções implementadas por computador”, ou seja, das chamadas patentes de software, tornaram-se estratégicas tanto por sua dimensão econômica, quanto social e geopolítica. Principalmente porque o patenteamento e as regras de proteção intelectual na área da tecnologia de informação tem sido aplicadas para: a) proteção de verdadeiros impérios empresariais que detém quase todo o mercado mundial de bens e serviços neste setor, que cada vez mais passa a ser central para o desenvolvimento; b) para obstaculizar as soluções criadas a partir do software livre e código aberto para a democratização do conhecimento, a criação de capacidades a nível local e desenvolvimento econômico das comunidades. As ameaças constantes dos países do Norte, sobretudo dos Estados Unidos, de que a pirataria de software é um problema do Sul econômico é falaciosa e esconde os interesses de manutenção da dependência tecnológica.
4. A extensão dos direitos de propriedade intelectual sobre formas de vida, possibilitando que sementes, plantas e até animais sejam objetos de proteção patentária, tem causado impacto em toda a população e principalmente nos agricultores e comunidades locais, dificultando o acesso destes aos bens naturais, contribuindo para a erosão da biodiversidade, ocasionando agressões à soberania alimentar dos povos e incentivando a biopirataria e a expropriação do conhecimento das populações locais.
Num marco de lutas pela democratização do conhecimento e pela garantia dos direitos humanos como princípio norteador de todos os acordos entre as nações, propomos também a constituição de um espaço de articulação da solidariedade e de ação conjunta na defesa do comércio justo, do bem estar e do mais alto grau de qualidade de vida de todas as pessoas, e por um mundo mais igualitário. Todas as pessoas, organizações e movimentos sociais comprometidos com estes princípios estão convidadas/os a se juntar à essa luta.
Action Aid
Ágere Cooperação em Advocacy
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG)
Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA)
Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)
Associação dos Parodutores de Hortifrutigranjeiros do Estado do Rio de Janeiro (Apherj)
Associação de Mulheres da Zona Leste (SP)
Bemfam
Capina
Casa Servo de Deus
Cemina – Comunicação, Educação e Informação em Gênero
Cid Benjamin – 02173257-3 (IFP)
Cipó
ESPLAR- Centro de Pesquisa e Assessoria
Grupo Viva Positivamente
Sociedade Viva Cazuza
Fórum de ONGs/AIDS do Maranhão
Rede Dawn
Grupo de Apoio e Prevenção a AIDS do Rio Grande do Sul (GAPA/RS)
Grito dos Excluidos Continental
Centro de Apoio e Defesa da Cidadania (Cadec)
Instituto Equit, Gênero, Economia e Cidadania Global
Instituto Socioambiental
ICW Brasil
Contag
Conselho Latino Americano e Caribenho de ONgs que Trabalham com AIDS (LACCASO)
CUT (Paraná)
Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (Deser)
Fase
Fórum Baiano de ONGs/AIDS (Fobong)
Fórum de ONGs/AIDS de SP
Fundación Redvihda + (Bolívia)
Grupo de Apoio à Prevençaõ à AIDS do Pará (GAPA/PA)
Grupo Otimismo de Apoio a Portadores de Hepatite C
INESC
Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS)
Magaly Pazello
Nova Pesquisa e Assessoria em Educação
PACS – Políticas Alternativas para o Cone Sul
Pedro A. D. Rezende – Conselheiro do Instituto Brasileiro de Direito e Política de Informática
Projeto Esperança – Apoio e Prevenção às DSTs/HIV/AIDS
PSL – Mulheres
Raquel Pastana Teixeira Lima – 6234351 SSP SP
Rede Alerta contra o Deserto Verde (RJ)
Rede Dawn
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (Núcleo Alagoas)
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (Núcleo Bahia)
Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (Núcleo Ceará)
Save the Children Reino Unido
Serviços de Apoio à Pesquisa em Educação (SAPÉ)
SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia
Valéria Salles – Development Consultant and Process Facilitator
Vivo Positivo (Chile)
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…