Quase vinte anos se passaram desde a publicação da primeira edição do Guia Brasileiro de Produção Cultural, do pesquisador Edson Natale – lançado em 1994 com a intenção de ser uma fonte de informações e práticas para produtores musicais.
O guia reafirma a intenção de fazer um recorte do último biênio na cultura. A edição traz entrevistas com duas profissionais sobre temas em evidência. A economista Ana Carla Fonseca Reis fala sobre economia criativa e Fernanda Feitosa, criadora da SP-Arte, deixa suas impressões sobre o mercado de artes brasileiro, entre outros nomes importantes.
Edson Natale falou ao Cultura e Mercado sobre a nova edição do livro, as mudanças que ele testemunhou ao longo desses 20 anos e para onde caminha a produção cultural no Brasil. Confira:
Cultura e Mercado – Por que lançar uma nova edição neste momento?
Edson Natale – Desde que o guia foi criado em 1994, a ideia era lançá-lo a cada dois anos, para que a gente tivesse fôlego para fazer uma nova edição. Mas, existe aquela história de que em dois anos não acontecem grandes mudanças, por isso não seguimos essa periodicidade à risca. No entanto, sentimos que havia chegado a hora de fazer de novo. E aí a ideia se consolidou e ficou pronta e agora estamos apresentando essa nova edição.
CeM– A nova edição faz um recorte desses 20 anos de produção cultural, que coincidem com os 20 anos de Lei Rouanet. Para você, quais foram as principais transformações que ocorreram durante o período?
EN – No começo, a minha visão era a de um músico independente, que fazia música instrumental e algumas produções, então, no fundo, a minha perspectiva partia da vontade de dar vazão à minha veia artística e várias pessoas que eu estava conhecendo tinham as mesmas dúvidas que eu. Acho que a partir desse momento, as coisas foram evoluindo para mim profissionalmente e para o mercado da cultura. Se há 20 anos, você falasse que era produtor cultural, as pessoas te olhavam como se olhassem um ET. Hoje isso é diferente, não digo que está ótimo, mas a situação [para produtores] está muito mais consolidada. As pessoas conhecem e reconhecem a importância do produtor cultural. Creio que esse período foi muito impactante, foram as duas décadas em que nós acabamos abrindo caminho para essa consolidação, para o amadurecimento da produção de conteúdo com ferramentas como as leis de incentivo, as discussões de políticas governamentais, de políticas públicas para a cultura. Foi nesses 20 anos que a produção apareceu de uma maneira consistente.
CeM – No caso da economia criativa, que é um tema relativamente recente, como você percebe a evolução do debate?
EN – Na edição anterior, há quatro anos, o impacto [de falar em economia criativa] era pensar que as pessoas finalmente estavam olhando para nós como geradores de valor econômico, que somos. Hoje, a discussão, pelo menos para mim, é mais ampla porque se a economia, de maneira geral, não for criativa, ela morre. Há uma década, se falava em Google, mas ninguém ia imaginar a potência que ele se tornaria. Essas mutações da sociedade como um todo estão interagindo, reconstruindo e propondo muitas questões novas para a economia criativa em si e para a economia no geral. Atualmente, prefiro olhar as questões da cultura inseridas na economia como um todo e fico torcendo para que ela passe de um lugar mais letárgico para um mais criativo, porque as vezes as coisas estão muito fundamentadas em um pré-conceito, estabelecidas e não questionadas, parece que são dogmas.
CeM – E o Procultura? Como você acha que ele avança na criação de um contexto positivo aos produtores?
EN – Não posso dizer que sou um especialista na matéria, mas minha sensação é de que as todas as questões que hoje estão relacionadas às políticas públicas – ou ao que quer que seja – têm que estar em constante status de discussão. Leis de incentivo têm que ser discutidas, tem que ser debatidas, tem que haver a consciência de que ela é uma das ferramentas de uma política cultural, mas não é a única. O fundamental é que essas discussões existam.
CeM– Para você qual é o próximo passo evolutivo para o produtor cultural brasileiro?
EN – Por um lado, nós ganhamos muito com o fato de ter despertado a atenção do mundo acadêmico. Hoje existem cursos de produção cultural, formação superior, todo um embasamento para as questões da produção cultural. Ao mesmo tempo, ainda sinto um pouco de falta de que essas pessoas que estão saindo das universidades tenham uma vivência maior da prática. E que, dentro dessa prática, elas possam perceber o Brasil plural.
A produção cultural de São Paulo é diferente da produção no Acre. Falo de ferramentas, possibilidades, da cultura local. Tudo isso tem que ser levado em consideração. Acho que o que me deixa um pouco preocupado é uma excessiva formatação do que é a produção cultural. O produtor, assim como a maioria dos profissionais, deveria ter como uma parte de sua formação, colocar o pé na estrada e conhecer o sertão brasileiro, cidades do interior. Que a diversidade cultural não seja só um jargão, mas que seja uma experiência de fato.
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