A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José ? O poema de Carlos Drummond de Andrade reflete bem a situação do financiamento à cultura no final de um ano pré-eleitoral. Depois de todo o escarcéu em torno da revogação da Lei Rouanet, podemos reafirmar que tudo não passou mesmo de conversa para boi dormir.
Numa turnê digna do Cirque du Soleil, rica e cheia de cenários, piruetas, plumas e paetês, o MinC gastou os tubos com marketing, eventos, publicidade, diárias, hotéis e jantares. Tudo isso para divulgar um projeto que não existia, não existe e jamais existirá. O Profic é um engodo, algo feito para desviar a atenção daqueles que batalham pela sobrevivência artística e já não conseguem mais fazer as suas próprias turnês.
E agora, você ? Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José?
A matéria de Ana Paula Sousa na Folha de S.Paulo de hoje expõe aquilo que já sabíamos e há muito alertamos os leitores de Cultura e Mercado. Simplesmente o Profic não tem qualquer lastro jurídico, político, técnico. Está parado há 3 meses na Casa Civil. Assim como todos nós, a equipe técnica tem dificuldade de entender a que veio o Profic, além das surpresas que o MinC deixou para a última hora.
Por baixo do tapete do Planalto esconde-se o maior caso de inadimplência institucional que já tivemos notícia em toda a recente história do MinC. Projetos parados, sem avaliação, descuidados, extraviados, sujeitos a diligências surreais. Cada projeto leva de 6 meses a um ano para ser aprovado. O caos instaurado fará com que a captação em 2009 caia a níveis desesperadores. Estima-se que algo em torno de 50% a 60% do que foi o ano passado, já em queda.
Basta circular pelo mercado para saber que o álibi da crise econômica não cola. Já existe um mercado paralelo de aprovação de projetos genéricos, de troca de proponentes, de alteração de rumos de patrocínio, entre outras nobres práticas. Tudo isso para compensar a burrocracia insana do MinC, que resolveu fazer “justiça com as próprias mãos”. Há proponentes vetados, outros que levam canseira, outros sujeitos à legislação em vigor e há também os amigos do rei.
E agora, José ? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio – e agora ?
Por isso a Lei Rouanet anda malfalada nos corredores da Esplanada. Ela virou uma espécie de ex-namorada do governo, alguém que traiu expectativas, frustou o sonho de artista. Aqueles que a utilizavam deixaram de ser vilões. São vítimas da impiedosa.
Parece mesmo haver uma conspiração para criminalizar aquela se dizia casta e donzela, mas estou certo que não há nenhuma tramóia por trás disso tudo. É imcompetência mesmo, falta de compreensão daquilo que representa, na vida de quem faz arte e cultura, a única – prostituta, portanto, pois tem de servir a todos – política de financiamento à cultura do Brasil.
E pelo que tudo indica, assim será até o próximo mandato.
Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas,
Minas não há mais. José, e agora?
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Em sua estada na Assembléia Legislativa do ES no segundo semestre de 2009, o ministro da cultura colocou a sua posição sobre as modificações da Lei Rouanet, que ao meu ver, visam criar a participação financeira das empresas(20%) que se utilizam da renúncia fiscal, como contrapartida destas para se beneficiarem dessas prerrogativas de dedução fiscal.
Todavia, se já está difícil a captação de recursos nas empresas sem contrapartida, agravado pela concorrência desleal e anti-ética dos governos estaduais que as pressionam para patrocinarem seus projetos, via Lei Rouanet, que visam as reformas de palácios, pontes e outras obras públicas como foi feito aqui no ES, imagine com esta desestimulante nova proposta de participação!
Enquanto no congresso nacional, os dispositivos criados para fomentar a cultura forem usados como instrumento político, nada conseguiremos na expanção da cultura. É preciso dar um BANHO DE NACIONALIDADE, de AMOR A BANDEIRA neles!Os deputados e senadores deveriam ser OBRIGADOS a saber cantar o hino do país fluentemente, para que se lembrem em suas votações da letra nesta contida.ASSIM NÃO DÁ.
Obrigado pela participação. Jorge Egbert.
Respeito sua posição Jorge, mas acho que não há nada mais atrasado do que pensarmos em termos nacionais na era em que vivemos. Precisamos pensar o mundo e, sobretudo, as pessoas que o habitam. Resolver a miséria no Brasil, que resiste a populismos e nacionalismos de toda ordem, é tão importante resolver a da Bolívia ou da Costa do Marfim. Não vamos conseguir combater os efeitos do capitalismo global somente com estados nacionais fortes. Precisamos criar blocos de resistência. Mas enquanto isso não acontece, artistas estão preocupantemente ficando sem trabalho. Por isso a ação do MinC nesse campo foi desajeitada, desproporcional, descabida e desastrosa. Vamos discutir esse ponto, que é fundamental para a compreensão dos mecanismos de financiamento no Brasil. E no mundo. Abs, LB
Eu avisei, José, que era tudo blablabla...
Prezado leonardo, parabéns. Essa semana fui na Funarte , e iria propor esse tema, Simplesmente não só os projetos que me responsabilizo estão parados a 3 , 4 meses, mas de inúmeros produtores. Porquê? Não tem parecerista para atender a demanda.
Isso é vergonhoso.
Concordo em gênero, número e grau com o artigo do Leonardo Brant. Principalmente com os parágrafos "por baixo do tapete do Planalto esconde-se o maior caso de inadimplência institucional que já tivemos notícia em toda a recente história do MinC. Projetos parados, sem avaliação, descuidados, extraviados, sujeitos a diligências surreais. Cada projeto leva de 6 meses a um ano para ser aprovado. O caos instaurado fará com que a captação em 2009 caia a níveis desesperadores. Estima-se que algo em torno de 50% a 60% do que foi o ano passado, já em queda". "Basta circular pelo mercado para saber que o álibi da crise econômica não cola. Já existe um mercado paralelo de aprovação de projetos genéricos, de troca de proponentes, de alteração de rumos de patrocínio, entre outras nobres práticas. Tudo isso para compensar a burrocracia insana do MinC, que resolveu fazer “justiça com as próprias mãos”. Há proponentes vetados, outros que levam canseira, outros sujeitos à legislação em vigor e há também os amigos do rei".
QUE OBSERVAÇÃO ACURADA!TENHO VIVIDO EXATAMENTE ISTO!
Carissimos,
Ainda quero, ainda tento acreditar.....
Fatinha Silva
É isso aí ! Eu também avisei, mas eles são revenchistas 1 imcompetentes ! É lamentável!
Fique tranquilo, Leonardo, que, apesar de FHC, Serra e Sayad instrumentalizarem a cultura paulista, o termômetro acaba de acusar que a febre terçã provocada pelo trio de arbitragem, (Serra de juiz, Sayad e FHC de bandeirinhas)enfrentou uma torcida de costas para o jogo que eles manipularam até agora a mando dos cartolas.
A não adesão a qualquer forma de institucionalização que ficou tão transparente na Conferência Municipal de Cultura de São Paulo é um ato que temos que comemorar. É nítido que a implosão silenciosa do sistema cultural paulista pela classe artística produz hoje de forma independente não só pensamentos, mas também atitudes auto-sustentáveis.
É bacana tudo isso, Leonardo, ver a sociedade reagir contra a tirania, a violência capitalista no ambiente da cultura. Muita gente séria frazendo trabalhos profundos aí em São Paulo. Por outro lado, as quermesses por todo o interior andam tinindo, e os blocos do oba-oba, do eu só e dos sujos dão o tom da negativa da sociedade carioca para as políticas de privatização dos teatros e coroação da águia de ouro do Teatro Municipal.
É mesmo como disse Chico Buarque, os meninos desembestaram. Se a lei acabasse hoje, e nem pó sobrasse dela, o povo iria para as ruas cantar. Disso sabemos todos, foram dezoito anos de pesados jogos de balcão dessa gente restritiva, privada, murada, blindada que sequer tem coragem de tocar nas questões que elas ainda aplaudem sobre a chacina indígena e a sangrenta escravidão brasileira. Querem começar o Brasil a partir dos seus condomínios que dali só saem dentro de seus blindados em direção a aeroportos. Acham mesmo que podem beneficiar do que classificam de "república das bananas" em "o negócio das bananas-passas", com suas políticas de "valor agregado".
A sociedade embalada pelo repuxo e calor dos ogãs está derretendo. Tem gente que estranha aa elite criminalizar o MST. Essa gente, Leonardo, tem memória curta, esquece que sempre foi assim e que aquela turminha que, de cinco em cinco minutos, montam siglas empresariais para assaltar os cofres públicos, avançar sobre o patrimônio brasileiro sempre quis que o povo explodisse. Essa gente detesta o Brasil, o cheiro do seu povo, a cultura carregada de independência. O que essa gente quer é nos dar pauladas com o porrete e, depois, ir ao Estado pegar o dinheiro dos nossos impostos e justificar que é para comprar remédio, mas colocam veneno no nosso soro.
Sonho acordado e com os olhos bem abertos, ver a cultura brasileira cada vez mais distante dessas cúpulas "GIFE" (grupo de institutos, fundações e empresas. Isso tem que e vai acabar, é só uma questão de tempo.
Este ano tivemos em nosso evento aqui em Barcelona uma boa lição.
Tentamos, por mais um ano, conseguir o importante apoio que o MinC tem dado ao evento desde 2003, que é de conceder as passagens para os artistas que participam no evento.
Ao iniciar todo o processo, convidar os artistas, que nesse ano foi uma banda musical de 10 pessoas e um dj (um grupo e uma pessoa) a banda recebeu esse "start" do evento de uma possível apresentação na Espanha e assim conseguiu fechar outros shows aqui em terras de língua "castellana".
No desenrolar da história, da demora de respostas, da irresponsabilidade dessas definições de datas, onde tudo sai nos 57 do segundo tempo, com um tempo de prorrogação pra lá de gigante... a banda, astutamente, com muita coragem e ousadia, decidiu comprar essas 10 passagens transatlânticas do seu próprio bolso, com os recursos desses outros shows que fecharam por aqui...
Infelizmente o evento e sua organização não têm os recursos NECESSÁRIOS para realizar um evento que promove a cultura brasileira a 9 anos em Barcelona, dependendo de apoios minguados, porém NECESSÁRIOS de órgãos públicos, porque o privado não inverte no novo...
Foi legal escutar um dos músicos de dita banda (que somos MUY agradecidos) em um dos depoimentos filmados. Foi algo como: "Agente decidiu "baixar a bola", levar a crise em consideração e buscar novos campos de trabalho, apostando com nossos próprios esforços e seguir conquistando mercado!"
Sábia atitude! Se o trem não passa, não vamos ficar esperando o resto da vida prados né...
Creio que assim é para a grande maioria dos artistas, promotores e produtores culturais do Brasil.
Não esperamos o trem passar, seguimos na nossa direção, mesmo remando contra a maré...
O Brant tem que ter mais visibilidade e acompanhamento, pois é um interessante pensador.
Os apois, que são NECESSÁRIOS além de serem feitos, o devem ser com 2 meses antes do que se promete... Para assim os "beneficiados" poderem se organizar melhor, aproveitar vários canais da mídia para potencializar a sua promoção, etc.
Nas datas limites para entregas de projetos para participar da seleção e assim poder receber passagens aéreas para uma participação em um evento no estrangeiro deve ser 2 meses antes do que se tem feito!
É uma vergonha um evento que comece no 1º novembro ter as confirmações da participação de um artista no dia 26 de outubro. É um tiro no pé! Desperdício de dinheiro público, onde essa tal árdua tarefa de promoção de nossa cultura em terras de outros se torna audição de circo! Haja jogo de cintura!
Haja paciência para agüentar o trem passar e não poder pegar, e assim meios informativos, parceiros e possíveis investidores privados indo, passando, sem sequer ter tido tempo de ver o que pode ser feito!!!
Nada!! Das tripas corações, com muita gente "a pie de calle" algo como, os cidadãos comuns que não vão em carrões ou helicópteros colaborando! Algum inédito e IMPORTANTE apoio do MRE (que somos muito agradecidos...) mas a cultura... abandonada!!! Somente por eles! Não por nóis!!! Nem pelo público!!!
Pois é isto mesmo Leonardo Brant, concordo com tudo. Não entendo porque o Minc não delega a aprovação dos projetos à suas Unidades Regionais, seria mais eficiente e ninguém melhor do que aqueles que vivem em seus estados para julgar o que ali será produzido.
Perdi a conta de quantos documentos repetidos foram-me solicitados pelo Minc de projetos inscritos e sob análise. Isto não é uma vergonha! É uma irresponsabilidade sem tamanho, falta de respeito, falta de educação, falta de conduta, falta de TUDO. Eles desaparecem com documentos e nos enviam aquelas famigeradas DILIGÊNCIAS que somos obrigados a atendê-las, sob o risco de não termos os projetos aprovados ou os mesmos ficarem parados.
complementando..... DILIGÊNCIA é uma palavra um tanto quanto pesada não? Lembra-me das diligências feitas por policiais civis.....
grato pelo espaço,