Leandro Valiati é economista (UFRGS), mestre em Planejamento Urbano com ênfase em aplicações da Economia da Cultura no contexto urbano (PROPUR-UFRGS), doutorado em Economia do Desenvolvimento (PPGE-UFRGS), professor e coordenador executivo da Especialização em Economia da Cultura (PPGE-UFRGS).
Leonardo Brant – O que é economia da cultura pra vc?
Leandro Valiati – Eu entendo a economia como uma ciência social que busca compreender o bem-estar individual e coletivo, propondo caminhos para que a humanidade possa se organizar de modo a alcançá-lo. A produção e o consumo de bens culturais são uma expressão relevante desse referido bem-estar, pois lidam com a autoestima, com a materialização de valor simbólico e com a identidade social.
Assumindo a economia como essa ciência social que tem por pressupostos aspectos filosóficos da condição humana, cria-se uma ponte imediata entre economia e cultura. A economia da cultura consiste, então, na utilização da ciência econômica para compreender quais os parâmetros que definem o bem-estar cultural da sociedade e o que devemos fazer para alcançá-lo, no âmbito de nossa organização produtiva.
Isso é determinado a partir de duas formas instrumentais de atuação: a primeira, de ordem qualitativa, é a compreensão do valor (diferente de preço) dos bens culturais em termos de expressão de bem-estar dos indivíduos; a segunda, de caráter quantitativo, é o estudo das cadeias produtivas, de seu nível de desenvolvimento e da demarcação de todos os elos nela existentes. Desta forma, pode-se conhecer a fundo o processo produtivo de um bem cultural, chamando atenção para seus gargalos e potencialidades, impactos econômicos e efeitos multiplicadores, desde o início da produção até o consumo desses bens.
LB – Como esse conceito é aplicável no mercado de cinema?
LV – Os instrumentos da economia da cultura são cruciais para o setor cultural no que considero uma das coisas mais importantes para a sustentabilidade: o autoconhecimento em termos de organização produtiva. Isso gera eficiência na ação pública e no investimento privado. O cinema, no contexto da cultura, possui uma das cadeias produtivas com maior sofisticação em termos de potencial de mercado, o que no entanto é minado por gargalos muito representativos (exibição e distribuição, por exemplo). Se o setor tiver conhecimento objetivo da dimensão desses gargalos, saberá propor e orientar a ação pública e privada para superá-los, tendo como norte a formação de um mercado sustentável e menos dependente de subsídios. Contudo, essas informações só podem ser produzidas a partir de dados consistentes e confiáveis, transformados em indicadores de qualidade.
LB – O que podemos fazer para gerar dados mais consistentes para a economia da cultura?
LV – Dados consistentes são aqueles que se traduzem em uma boa leitura da realidade. Antes de produzirmos as informações é fundamental conhecermos essa realidade e o desenho da cadeia produtiva, diante de novas formas de organização da produção. Será que a renda dos filmes deve ser medida apenas pela bilheteria no cinema? Será que para entender o elo da exibição podemos prescindir dos cineclubes e do youtube? Será que o crowdfunding pode ser incorporado como estatística de modelo de financiamento? Enfim, conhecer as cadeias produtivas da cultura é o caminho mais curto para orientar a academia e institutos de pesquisa (IPEA e IBGE, por exemplo) na produção de dados coerentes com a realidade. Para além disso, é importante desenvolver mecanismos institucionais capazes de capturar aquilo que é produto da informalidade, e que passa ao largo das estatísticas hoje existentes.
LB – Qual a sua expectativa em torno da Secretaria da Economia Criativa, no âmbito do Ministéiro da Cultura?
LV – Fiquei muito satisfeito com a criação da SEC, sobretudo porque a Economia Criativa necessita de canais institucionais de execução de políticas no Brasil. Os ativos da cultura e criatividade são insumos muito valiosos em nosso país, com real potencial de se converterem em efetivos instrumentos de desenvolvimento econômico e social. Acho que o principal desafio da equipe que assume a SEC é de ser um órgão que organize o setor através de políticas. Para tanto, é fundamental criar articulações entre a sociedade civil, pensadores e estudiosos do tema, artistas, governos e empresas empreendedoras-criativas a fim de definirmos um modelo nacional de Economia Criativa. Esse modelo deve guiar ações coordenadas e estratégicas e disseminar pautas em diversos níveis para estruturamos o setor no Brasil.
LB – Como as novas TICs influenciam no desenvolvimento da economia da cultura?
LV – A evolução tecnológica é o motor do desenvolvimento econômico. Na agricultura, a humanidade negou a profecia malthusiana da escassez de alimentos via progresso técnico. A revolução industrial gerou desenvolvimento, empregos e urbanização. A revolução da informática nos fez mais produtivos e conectados. Vejo evolução das TICs do séc XXI como transformadora para a economia da cultura e penso que nisso está a chave para a sustentabilidade e estruturação de mercados culturais. Quando penso no assunto, me ocorre a relevante teoria de desenvolvimento de Amartya Sen: a sociedade, para ser desenvolvida, deve ser capaz de fazer escolhas e exercer sua escolha. A tecnologia, sem conteúdo e equidade, não permite a escolha e tampouco sua execução. Diante disso, nessa nova revolução da qual faz parte nossa geração, marcos regulatórios e modelos de difusão de produtos do século passado são anacrônicos e temos que incorporar essas mudanças em nossas políticas públicas. Sobretudo, tendo por objetivo converter a evolução tenológica em ganhos para a cultura, distribuindo o acesso à tecnologia a diversas classes e criando mecanismos para a colocação do conteúdo cultural nos múltiplos e novos canais de difusão de informação. Assim teremos desenvolvimento cultural a partir de bases tecnológicas.
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