O Tempo passou, a equipe de organização foi mudando de cara e também de comportamento. Fora o próprio diretor Claude Nobs e o seu braço direito e não menos influente a alemã Michaela Maier, o Festival vai mudando de caras aos poucos.
Em 2008, a crise financeira atingiu o Banco UBS, principal patrocinador do evento. No ano seguinte, pela primeira vez em sua longa história, Montreux teve que economizar, restringir gastos e o fez da maneira mais equivocada
possível: cancelou as duas noites brasileiras do Festival nas salas principais.
Ao invés do Creme de la Creme da MPB, a organização pagou barato fazendo, no ano de 2009, da “Brazilian Night” um carnaval de rua com bandas de frevo de pernambuco e de artistas residentes na própria Suiça.
A perda por esse cancelamento errôneo é quase incomensurável, mas nós, jornalistas e amantes da música esperávamos que aquele 2009 fosse constatado pelos Makers como equívoco, um escorregão musical-cultural ingênuo e que não deixaria maiores sequelas na história do Festival e nas nossas memórias musicais.
Em 2010, na coletiva de imprensa realizada no fim da semana passada, veio a bomba que cientistas culturais chamariam de Worst Case: Montreux baniu completamente a programação de música brasileira. Nem no Auditório Stravinsky nem na sala Miles Davis Hall, essa inaugurada em 1993, entre outros pelos nossos “Paralamas do Sucesso“.
No contexto da coletiva e no resumo da mesma, postado online, nenhuma declaração sobre esse fato sem qualquer precedência em qualquer outro festival do mundo.
Montreux, que levou artistas brasileiros ao Olimpo (citar alguns dos seus nomes abranjeria todo o espaço desse Portal), nesse ano esquisito de 2010, quebra de vez com a história musical dos que estiveram nos palcos e dos que estiveram na platéia, isso no contexto musical-emocional.
No contexto de mercado, Marketing e prestígio, só pra citar algumas perdas. A questão do prestígio no currículo da carreira de artistas brasileiros, o dificultar de uma turnê pela Europa “pegando carona” em Montreux, a considerável redução de venda de discos, dos quais os mercados já estão mesmo sufocados e principalmente para a nova geração de músicos fecha-se uma porta essencial para fincar o pé em um mercado tão concorrido.
Essa geração de sedentos marqueteiros recém-saídos da Faculdade e temendo uma possível falta de legitimação, exageram no querer mostrar trabalho.
Montreux se tornou um mega-evento, onde a música foi degradada ao papel de coadjuvante. O ano passado já mostrou nitidamente que o valor dos ingressos é uma vertente indiscutível, que constata o elitizar extremo do Festival, engrossando o público de alvo de classe alta e Vip’s. Ver e ser visto é cada vez mais o Slogan não publicado nos caderninhos contendo a programação.
Claro que ainda existem workshops grátis com esse ou aquele expoente e/ou dinossauro da música, mas o equilíbrio entre um evento para quem tem pra pagar valores salgados pelo ingresso e o público que vem de todas as partes da Europa para curtir capoeira nas ruas e fazer parte de uma grande festa está longe de ser dotado de um saudável equilíbrio. A filosofia do Festival se perdeu num único adjetivo: exclusividade.
Até bem pouco tempo o sítio do Festival estava totalmente desatualizado. Sem cara e sem qualquer informação de contéudo fora umas dicas de DVD.
Os dois primeiros artistas a serem divulgados no início do ano foram o guitarrista Mark Knopfler, ex-Dire Straits e a cantora Sophia Hunger, que eu tive que goolgar para descobrir de quem se tratava. Mr. Knopfler estará em breve visitando a capital alemã, uma das razões o que faz desnecessária a custosa viagem até o país do chocolate.
Jeff Beck no auge da sua carreira, não aparece na lista dos artistas em Montreux. Também, Mr. Beck estará em Berlim em novembro próximo. Nem o maior dos coringas, Mr.B.B. King, estará presente nesse ano.
Vale a receita: The same procedure as every year: Herbie Hancock, o chorão Gary Moore e, talvez a mais elitizada das noites, antes da abertura do Festival, Mr. Phil Collins, amigo do peito de Claude Nobs. Para chegar à Montreux, Collins só precisa dar a volta no Lago Lemán. Que prático.
Esse ano é, com certeza, de luto para amantes de música brasileira espalhados pelo velho continente, mas é acima de tudo um dia que constata de vez a ignorância dos produtores daquele que foi o maior e melhor Festival de Música no continente europeu. Montreux.
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Pra não dizer que a presença brasileira em Montreux é totalmente inexistente, vale ressaltar que o cartaz do Festival foi concebido pelo artista plástico brasileiro Romero Brito (vide artigo de Novembro de 2009), muitíssimo ligado à Claude Nobs e à Montreux Jazz Foundation, que oferece cursos de aprimoramento na arte do jazz para jovens de baixa renda.
Já em 1999 Romero entrou na galeria dos gráficos, artistas plásticos e
músicos (entre eles David Bowie) que também tiveram o privilégio de conceber o logotipo do Festival.
A musica brasileira em toda a Europa esta em baixa, nao somente nao Festival de montreaux, mas tambem em quase todos os festivais de jazz,e ate, incrivelmente nos festivais de musica brasileira,que sao muitos os que circulam a EU, lotados por blocos de samba formado por europeus, o que na minha opiniao, e um progresso, se isso nao fizesse de certa forma decair a qualidade tecnica, perceptiva, intuitiva, suingueira da musica de nosso pais, pois em muitos dos casos, salvo claro, muitas excecoes, os lideres, de bloco, bandas, nunca ao menos vieram ao Brasil, e pior, nao foram nunca musicos, mesmo de qualquer outro estilo.
Nao sei quantos e quais os problemas que forcaram esse caminho aberto pela maxi qualidade de Elis Regina, Gilberto Gil, Hermeto Paschoal e Egberto Gismonti, so pra citar os gigantes, tomar direcao inversa e chegar a necessidade de se escreverem textos como esse, mas com certeza, nao temos feito os melhores trabalhos de exportacao de nossa musica.
Nao critico, pelo contrario, gosto muito, dos forros, sambaregaes, fanqueiras e todas as linhas contemporaneas de MPB que estao pelo mundo, de qqr forma, somos nos, e nosso balanco, e nosso jeito de viver a arte. O problema e pensar que esta musica pode divertir os narizes empinados e a elite que decide quem e quem nos festivais de jazz.
Agora vamos ao Oriente, aos paises muculmanos, a toda a Africa. a Europa, ja nos conhece, quer outras coisas, e nos queremos outras coisas, e todos querem outras coisa.
A musica brasileira e universal, e todo mundo quer, por causa de nossa cara multicor, multiracial, plurilingual so no portugues.
Agora,
o melhor lugar do mundo pra se tocar musica brasileira
E NO BRASIL
PS:
Beijo pra Fatima Lacerda e todos os amigos queridos de Berlin
me impressiona um texto exaltando a música e cultura brasileira com tantos termos em inglês...
O que fez a música brasileira grande no mundo foi o seu mercado interno. A pujança do mercado interno que produziu artistas e acumulou riquezas projetou nossa música pelo mundo.
No entanto, uma bomba atômica caiu sobre nós e arrasou toda nossa capacidade...muita gente não se dá conta ou faz questão de negar, o fato é que a música brasileira assim como toda cultura nacional está em cheque: ou se prepara e avança para a Nova Cultura que é o meio de circulação e produção da Nova Ordem, e faz isso garantindo a monetização da circulação de arquivos criando a Nova Economia para o setor ou estamos condenados ao produto estrangeiro e nada mais.
Estamos atrasados, na lona, sem perspectivas, não produzimos nenhum artista ou praticamente nenhum nos últimos 10 anos, sem contudo perdermos a nossa musicalidade. Não estamos a altura dos mestres, Tom, João, Caymmi e tantos outros, estamos jogando fora um legado impressionante por falta de iniciativa e coragem.
Avançar sobre a Nova Cukltura e participar da competição internacional, esse é nosso destino...se fizermos o dever de casa.
Olá Vitor,
Desculpe pela demora na resposta.
É interessante o aspecto colocado por você, sobre as diversas bandas de samba, samba-reggae, forró etc, dirigida por brasileiros.
Ontem mesmo no show de Gilberto Gil aqui em Berlim, encontrei Tom, um alemao há 20 anos tocando música brasileira na banda "Maracatu Girafinha". Tom, que fala português perfeito além de já ter morado no Brasil comentou exatamente essa problemática:
Na perspectiva dele, as bandas nao-profissionais se propoem à tocar por fins de promocao ou simplesmente pela farra e nao cobram nada, causando assim uma distorcao no mercado.
Realmente a qualidade de muitas bandas desse estilo aqui em Berlim é duvidosa. Além do efeito de nivelar por baixo além de tornar mais difícil para o germânico conseguir destinguir o que é musicalmente de qualidade e o que parece ser.
Prezado Gil,
Eu discordo da tese, que no Brasil nao estamos produzindo novos talentos.
Kassim, Moreno Veloso, Céu, sao jovens promissores e que encontram lugar em qualquer festival de música do mundo.
Esses mencionados além de esbanjar talento, mostram que é possível fazer uma carreira musical com uma nota pessoal, com o próprio sangue, se o diretor da gravadora opinando sobre tudo e todos.
Que eles nesse momento nao tem o cacife de Jobim é claro.
Vale lembrar que também Jobim e Vinícios e Milton tiveram uma longa estrada até chegarem ao Olimpo.