O reinício dos ataques à Ministra da Cultura Ana de Hollanda, além de exalar o odor de café requentado, também proporciona um gosto amargo à classe artística.
O “fogo amigo” que a persegue desde sua posse, procura queimá-la de vez, envolto à fumaça das redes virtuais.
Aproveitando os marcos regulatórios que se avizinham (Comunicação, Internet, Banda Larga), políticos recém eleitos investem em si próprios, buscando uma maior visibilidade, transformando-se em legítimos padrinhos e madrinhas de resultados alcançados e se apoderando dos louros obtidos em recentes batalhas diante dos inúmeros percalços da vida artística: a reformulação do Pró Cultura (Lei Rouanet), a crise na OSB, as mudanças propostas na LDA, a criação de uma supervisão estatal no ECAD, a retirada das Licenças CC do site ministerial etc.
Há sem dúvida um novo paradigma a ser equacionado pelas diversas nações signatárias de tratados comuns, leis setoriais, convenções internacionais e a própria Organização Mundial do Comércio.
Este novo desafio se encontra na modernização e adequação das leis e tratados e na reconstrução do comércio global dentro desta nova ordem da era digital.
Nesta teia jurídica, aonde residem os mais antagônicos interesses econômicos, encontra-se o direito autoral que é fruto das conquistas seculares obtidas pela criação artística e precisa também se adequar às novas tecnologias.
Isto demanda algum tempo, responsabilidade e probidade.
A grita em torno da flexibilização deste direito (direito do autor, do criador de conteúdo nas suas mais diversas linguagens artísticas) é apressada e oportunista porque se auto-intitulando libertária, joga para a platéia assim como os políticos citados.
A quem interessa essas licenças senão aqueles que abrem mão de seus direitos em razão da exposição na mídia, o que resultaria numa contradição já que todos estariam forçados a seguir o mesmo caminho para tentar sobreviver em apresentações ao vivo ou serem convidados para um futuro e incerto projeto.
O criador (inventor de bens culturais), com as mudanças propostas (sai o Copyright e entra o Copyleft) passa a ser o único penalizado, ao mesmo tempo em que as artes e os artistas são banalizados e assim, num passe de mágica, todos sem exceção passam a ser pintores, compositores, escritores, poetas, músicos, maestros, teatrólogos, coreógrafos, cenógrafos, bailarinos, escultores, cineastas etc.
O que antes demandava formação, além de uma série de qualificações para ser admitido no vasto campo da criação artística, passa a necessitar somente de um computador e das redes sociais, ou seja, confunde-se vanguarda com tecnologia, software com domínio formal.
O conteúdo é secundário diante dos exuberantes “bites” e “bytes”, mesmo não estando em HD (Alta definição).
Dentro dos Princípios da Igualdade e dos Direitos Universais; os Direitos de Inclusão Social são fundamentais para a democracia moderna e desses movimentos sociais, a maioria recebeu por parte do MinC, uma interlocução necessária para que participassem com maturidade e espírito público na elaboração e na construção das novas diretrizes de ação cultural de inclusão através do PNC (Plano Nacional de Cultura).
Aquilo que deveria ser uma ouvidoria qualificada, passa a ser uma invasão de palpites e ataques inconvenientes dentro da gestão recém iniciada.
O que vemos na realidade é um comportamento de enfrentamento, uma ação de governo paralelo, somada a um desvio de rota por parte de setores dissidentes de um mesmo partido, que se entrelaçam manipulando informações e intrigas nas redes e na imprensa, fomentando ações desestabilizadoras e golpistas.
Aproveitando a imensa popularidade do ex-presidente Lula, atropelam quem estiver na frente, em nome da Cultura do governo anterior, criando um problema crítico para dentro do atual governo e do próprio partido que continua no poder.
Ora, a ministra é uma artista, legitima representante da classe criativa, é de família de origem tradicional na área cultural, vem de um período exitoso na gestão pública, e não é filiada a nenhum partido. É uma pessoa honrada, muito querida pelos funcionários dos vários órgãos públicos por onde passou desde a secretaria de cultura de Osasco.
Os ataques são inconsistentes, causam muita fumaça e alarido além de serem triplicados “ad infinitum” nas redes. Causam irritação e já começam a incomodar.
O jogo é pesado. Do Google à TV Globo; da Música Independente brasileira às Majors; do Audiovisual Nacional aos Distribuidores Estrangeiros, passando pela fúria por cargos e ocupação dos vários escalões de decisão no Estado.
Creio que já é tempo da classe artística manifestar seu apoio à ministra Ana de Hollanda e também externar seu repúdio aos vis ataques a que vem sendo submetida.
Chega de café velho e requentado.
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Prezado CLÁDIO GUIMARÃES
GOSTARIA DE PARABENIZA-LO POR ESSE ARTIGO TÃO SIGNIFICANTE PUBLICADO NESTE MOMENTO EM QUE VIVEMOS EM MEIO AOS ATAQUES A MINISTRA ANA DE HOLANDA. MUITO BEM, PERCEBO HOJE UMA CERTA EXACERBAÇÃO DE ATAQUES SEM NEXO E DESCABIDOS POR ENVOLVEREM CERTAS DISCUSSÕES AINDA MAIS DISTANTES DA REALIDADE, PORQUE HOJE É A REALIDADE, COMO kOSIK (1976,apud CASTRO, 1998)A CONSIDERA, É UM FENÔMENO QUE DEVEMOS ADENTRAR EM UMA ANÁLISE ALÉM DE SUA CONCEPÇÃO DE FATOS OBSERVÁVEIS E POSITIVISITAS, E ATRAVÉS DE UMA ATITUDE FILOSÓFICA, CONSTITUIR DÚVIDAS PRAGMÁTICAS (DOLL, 1997) E, DESSA FORMA O DESVELAR DO OCULTO, QUE AQUI PODERIA SER ENTENDIDO, "PELAS QUESTÕES APRESENTADAS, COMO "NATURALIZAÇÃO DA CULTURA PELOS NEO-LEBERAIS SEM UMA TITUDE FILOSÓFICA DE DESVELAMENTO DESSE PANORAMA".
ENTRAMOS EM UMA OUTRA ETAPA COM O ADVENTO DO PÓS-MODERNISMO E, AÍ DE PESSOAS NESTE UNIVERSO POLÍTICO QUE FAÇAM ATUALIZAÇÕES PARA MANTEREM SEUS CARGOS À ALTURA DESSA NOVA MANEIRA DE PENSAMENTO QUE NÃO ADMITE EFEITOS REATIVOS MAS, INTERAÇÕES DIALÓGICAS DE CICLOS DE DEBATES. POIS "A CULTURA POPULAR" DE CERTA MANEIRA FOI INVENTADA E NECESSITAMOS DESVELAR O QUE HÁ POR TRÁS DESSE FENÔMENO, QUE A MEU VER, SÓ A MINISTRA ANA DE HOLANDA ESTÁ CAPACITADA PARA TAL FUNÇÃO.
AT
VICENTE VIOLA
Prezado Claudio,
Felicito-o pelo artigo, e gostaria que mais artistas e agentes da cultura cerrassem fileira em defesa de uma pessoa digna e preparada, que vem sendo alvo de ataques infundados.
Por acaso conheço parte da trajetória de estudo e trabalho da Ministra, que muto antes de parente de celebridade, é pessoa de formação sólida e extremamente competente para o cargo.
um abraço
Thereza Brandão Teixeira
"@PabloCapile sonhou que Dilma demitiria @anadehollanda. Acordou e ajudou a escrever o #mobilizacultura" - fico imaginando o que vai acontecer no dia em que o sujeitinho sonhar que é presidente do Brasil... Talles pra vice e os coletivos serão prefeituras. E artista = a pedreiro. Acorda Brasil!
Este comentário é uma resposta ao infelisíssimo comentário de Malu Aires: tenho um histórico pessoal e profissional de próxima relação com intelectuais e artistas, muitos deles por quem nutro admiração e respeito. Mas, nenhum deles merece de mim a reverência e o agradecimento, por tudo aquilo que me ensinou, que devoto a meu falecido, semi-analfabeto e pedreiro avô: Tuta. Em nome da memória de meu avô, sinto-me na obrigação de te alertar: pedreiros, muitas vezes, são humana e imensamente melhores e mais sábios do que artistas. Lamentável a sua comparação.
Marcos Pardim,
Caso não saiba, a frase (artista = pedreiro) se dá pela interpretação dos próprios citados e Cia LTDA sobre a classe artística. A frase não é minha. É nome de disco.
Pedreiros erguem construção. Pedreiros são peões do patrão.
Por mim, classe admirável e respeitosa, mas destratada e sofrida. A classe que se cala com a boca de feijão. A classe que morre em contra-mão atrapalhando o tráfego.
Nenhum brasileiro (seja mendigo ou doutor) quer viver para morrer assim. Lamentável você não entender isso, mesmo tendo certeza que seu avó lhe ensinou.
Entenda que artista não é contra a cultura (descabida acusação). Entenda que artista não é contra a democratização da cultura. E, na pior das acusações que já ouvi de ativistas na rede, artista não é contra pedreiros.
Faça-me o favor...