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Futuro do audiovisual, evidências e especulações

Para comemorar seu 75º aniversário, o British Film Institute (BFI) convidou, no último mês, 75 profissionais ligados a cinema, mídia, artes e política, principalmente britânicos, para uma pesquisa ligada ao futuro do cinema. Cada um foi convidado a responder duas questões: qual filme você gostaria de compartilhar com gerações futuras? O que mais lhe instiga quanto ao futuro da imagem em movimento? A primeira pergunta gerou uma lista de 63 filmes, disponível no site da instituição; já a segunda trouxe um mosaico da visão britânica sobre o impacto da revolução digital, tema discutido há poucas semanas no Brasil em um seminário na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Enquanto otimistas como o cineasta Ken Russell proclamam frases como “a tela verde significa que o céu é o limite!“, opiniões moderadas sobre a democracia permitida com a popularização do digital, como a do ator Roger Moore, dão o tom médio das respostas: “Sua acessibilidade. Já se foram os dias em que precisávamos de grandes câmeras e rolos de celulóide para captar imagens; agora a revolução digital significa que qualquer um pode fazer parte desse meio tão instigante“. A resposta do diretor Mike Figgis parece resumir a dualidade do assunto: “Bem, o cinema está mudando tão rapidamente (tanto para o pior quanto para o melhor) que inevitavelmente está recriando a si mesmo e sua linguagem. Isso significa que estamos em um interessante período de transição“. Mas há também pessimistas como o diretor Terence Davies, um dos raros a não voltar sua resposta para o digital: “Estou com medo de que os grandes dias tenham acabado… Após a morte de Bergman, não há mais gandes cineastas; aluns são bons, outros muito bons. Mas nenhum grande.” As opiniões, em inglês, podem ser conferidas no site do BFI.

Diferentemente das frases compactas divulgadas pela instituição inglesa, o seminário “Cinema Digital: novos formatos de expressão e difusão audiovisual“, que se encerrou no último dia 14 na Cinemateca, reuniu profissionais do audiovisual ligados ao tripé produção, distribuição e exibição para discutir mais detalhadamente o mesmo tema.

A contradição digital parece ser uma constante na opinião dos envolvidos, e o futuro do cinema tradicional, em grandes telas, uma incógnita. Ao mesmo tempo em que a produção audiovisual se torna cada dia mais simples e familiar a um número crescente de produtores “amadores“, as salas de cinema, responsáveis pela formação de um público amante – para não dizer dependente – do audiovisual e pela popularização da imagem em movimento ao longo do século XX, passa a ser tratada como uma ferramenta obsoleta pelas novas gerações. “Hoje a questão da velocidade está mais forte do que a da fruição estética, que formou os espectadores do século XX“, opinou o exibidor Adhemar Oliveira, apostando que as futuras gerações estarão cada vez menos preocupadas com a estética, ao crescerem acostumadas a consumir audiovisual em pequenas telas, como de telefones celulares.

As diferentes trajetórias dos convidados pelo seminário mostraram claramente parte do que origina o período de transição do qual fala o britânico Figgis. Um dos presentes era o norte-americano Frank Chindamo, presidente da Fun Little Movies, produtora e distribuidora de conteúdo audiovisual para internet e celulares, que produz filmes curtos para distribuidores como Iphone, AT&T, Horizon, MSN Vídeo e MSN Movie. Chindamo, exemplo de sucesso fruto dos novos formatos de exibição, que defende que sites como YouTube exibam filmes mais curtos para que tenham mais audiência, se contrapõe a Marco Aurélio Marcondes, que, como Adhemar, teve sua formação pelo cineclubismo brasileiro da segunda metade do século XX. Marcondes é ex-funcionário da Embrafilme e ex-parceiro de distribuição da Europa Filmes, e recentemente fundou a Movie Mobz, uma espécie de distribuidora sob demanda, que depende da internet para fechar salas de cinema para exibição de filmes escolhidos pelo público – tudo feito no site da empresa, uma espécie de rede social de cinéfilos. Enquanto Chindamo se volta totalmente para os novos formatos, Marcondes, criado pela fruição estética do século XX, usa os novos meios para resgatar a lotação nas salas tradicionais e manter viva a presença da grande tela na vida das novas gerações.

Resta saber por quanto tempo ambos os formatos se manterão concomitantes – e qual será a realidade quando as gerações criadas sob a égide da velocidade, como fala Adhemar, estiverem no total comando da indústria cinematográfica.

Com colaboração de Georgia Nicolau

Cissa Florence

Cissa Florence é secretária de redação do Cultura e Mercado e coordenadora do Centro de Formação da Brant Associados.

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