O que significa produzir arte e cultura de maneira independente, num mundo tomado pela influência dos grandes conglomerados? Para um número cada vez maior de artistas-empreendedores, produzir sua obra fora da sombra das grandes marcas, do poder financeiro e dos governos, é questão de sobrevivência ética.
Esses dois dispositivos teriam a capacidade de alterar a realidade de quem luta por espaço num mercado cada vez mais estrangulado pela força dos grandes. Mas abre um debate importantíssimo sobre a definição de produção independente. E é justamente esse debate que pretendo pautar.
Não existe resposta fácil para essa pergunta. Em tese, produtor independente é aquele empreendimento desatrelado de conglomerados de mídia e entretenimento, capazes de potencializar sua performance empresarial por força e poder do grupo a que pertence. Um bom exemplo disso é a Globo Filmes, que não gozaria da posição privilegiada no mercado, não fosse o poder da Globo, com suas TVs, rádios, jornais e revistas, oligarquias regionais, Congresso Nacional.
Não podemos considerar empresas conduzidas por diretores desses grandes conglomerados como empresas independentes, se a fonte de recursos que as mantém são provenientes de grupos empresariais. O mesmo podemos dizer de institutos e fundações ligadas a empresas. Sua subordinação à corporação já determina seu caráter não-independente. Órgãos públicos e de economia mista, obviamente são inclassificáveis como independentes (não se espante se ouvir alguém defender o contrário).
Mas a discussão não se encerra. O que podemos dizer de um coletivo de arte, uma cooperativa, um ponto de cultura, ou um grupo que mantém sua atividade exclusivamente com dinheiro público? É possível classificar como independente um empreendimento cujas contas são pagas exclusiva ou quase exclusivamente pelo governo? O tamanho do empreendimento, seu volume de faturamento, são determinantes nessa classificação?
Independência significa liberdade de criar, propor ações, conduzir processos, sem estar subordinado a agendas pré-determinadas por investidores, patrocinadores e editais. Isso só é possível com uma variedade de fontes que garanta diálogo com diversas esferas da sociedade e sistemas de poder.
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Oi Léo,
Muito boa a provocação. Para esquentar o debate:
Qual o limite para a independência? O ápice da independencia é ausencia de diálogo e colaboração? Interdependencia é um caminho? Ou não?
Independência financeira não pode ser comparada com independência artística ou criativa. Dependente do dinheiro público ou privado a arte sempre será. Caso contrário vira indústria. Mas que tal se a fórmula fosse: 35% de financiamento público direto, 35% de financiamento privado (ou financiamento público indireto) e 30% da venda do próprio produto cultural e de outras fontes alternativas? Independência artística ou criativa é razão de ser da arte. Mas ser independente significa gozar também de um público consumidor de sua arte. É muito fácil ser independente e produzir algo que não interessa para absolutamente ninguém.
Quem nunca recorreu ou recorre ao Estado, inclusive os conglomerados, que atire a primeira pedra.
O problema é ficar viciado, Aí é que não dá!
Independencia é um assunto extremamente polemico. Sempre que um artista depender de incentivos publico ou privado será obrigado a passar por um caminho extremamente burocrativo, ainda mais falando do publico. Será que esse artista estará apto para responder a todos os processos que será exigido? Ou ainda irá depender de consultores, advogados e administradores?
Enquanto nos anos 80, se discutia muito mais o conteudo do produto cultural, agora se discute mais a legalidade, as leis, o patrocinio, os editais ... e, por isto, as vezes, pela sobrevivência do trabalhador cultural, a legalidade antecede a importância do contéudo...talvez a ética , ou a falta dela, esteja no fato de nos preocuparmos menos com o conteúdo do que e para quem produzimos, ou não como diria caetano....parabens pela reflexão
lembro que quem trabalha para o mercado è dependente do mercado e da sua lógica. Uma dependência que as vezes passa não percebida, mas que age na maneira mais profunda. A concorrência empurra os produtores na direção de agradecer e seduzir um publico, que seduzido, num circulo vicioso, muda seu próprios gostos e preferências numa deriva que passo passo empurra a cultura sempre mais no lado do espetacular e da fascinação imediata e descomprometida.
Leo, adorei a discussão. Me parece dificil grupos, cooperativas, etc 100% financiadas com recurso público serem considerados independentes. Por outro lado há um ponto importante a ser aferido ai, muitas vezes a perenidade e a continuidade de financiamento pode indicar amadurecimento, crescimento e inovação dos grupos e cias que conseguem ter parceiros perenes. É importante tb pensarmos sobre as formas de manutenção desses diversos agentes culturais - sejam mais ou menos independentes. Independencia significa autosustentabilidade? Quão importante é a sustentebilidade no seguinte (entre outros) de continuidade para a criação de um ambiente efetivo de criação e produção cultural?
Uma boa reflexão e provocação, meu caro Brant.
Produzir arte e cultural de forma independente não é fácil neste país. Imagine o quanto se torna duplamente difícil quando acrescentamos a estas produções aditivos como educação e patriotismo.A menos de um mês da Semana da Pátria, com sua abertura oficial em todo país e particularmente na cidade do Rio de Janeiro, que ocorrerá no dia 1 de Setembro em festividade solene no Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, as 08:00 hs da manhã organizada pela Diretoria do Estado do Rio de Janeiro, presidência e diretoria cultural da LIGA DA DEFESA NACIONAL podemos falar com alguma patente sobre produção independente e principalmente de estar sempre na contra mão da produção, bem longe dos interesses econômicos e finaceiros dos conglomerados poderosos.
Afinal este ano à nossa querida LIGA DA DEFESA NACIONAL, ainda muito desconhecida por muitos brasileiros que empreendem arte, cultura e educação no país, faz 95 anos de Brasil, uma tradicional entidade cívico cultural fundada em 1916, que tem sido a guardiã do amor pela pátria no exercício da liberdade cívica e cultural, nas manifestações de cidadania.
Confesso particulamente e colegiadamente que produzir eventos artisticos cuturais cívicos e patrióticos fortalecendo a soberania e a identidade nacional não é nada fácil,até por que pouco sobre isto se vê nas grandes mídias mas fazemos com o vigor da luta bem mais que pela questão de sobrevivência ética independente, fazemos sim por amor ao Brasil, pelo lugar que nascemos ou escolhemos para viver e sentimos cada vez mais felizes por ter sido cada um de nós os escolhidos para desempenhar da sua forma está função dentro do verdadeiro sonho da unidade nacional.
" Tudo pelo Brasil " Olavo Bilac.
Ricardo Vianna Barradas
Diretor Cultural
Diretoria do Estado do Rio de Janeiro
LIGA DA DEFESA NACIONAL
Brasil.
Independente seria a Cocacola que não precisa mais de botar seu nome como Patrocinador. Apenas apoia o Independente para que ele se sustente sem precisar consumir sua bebida.
Entender o conceito de independente é muito difícil em um mercado(se é que isso existe) cultural definhante.
As contas não fecham para ambos os lados: mainstream e independentes.Mas o montande de lucro que o mainstream trabalha é diferente do montante que nós os INDEPENTENTES trabalhamos.
Esse conceito, à partir do lucro obtido e cachês pagos, não são suficientes para determinar o que é livre para criar em nosso Brasil.
Dificilmente um artista neste país consegue ter suficiente possibilidade para conseguir criar, atrela-se a um mercado consumidor que busca entreterimento fácil(stand up´s, comédias rasteiras e musicais americanos), ou a um emergente(ainda) mercado de atendimento social.Claro que não falamos de grupos de merecida competência na formação de público, caso do Pombas Urbanas, do Tá na Rua e tantos outros exemplos.
Porém não se faz arte independente cumprindo exemplos que só fazem entender um passado próximo.Desatrelar-se do Estado e das empresas e seus departamentos de Marketing, é um sonho possível, mas que depende de um investimento direto dos grupos artísticos, com capital de giro e entendimento da criação desse novo mercado.
Talvez, funcione quase como uma nova empresa, responsável por fazer chegar seu produto alternativo ao mercado consumidor, para logo em seguida retirar-se da independencia e tornar-se produto.
O caso é como criar essa nova necessidade, como fazer com que o público ávido pelo entreterimento barato(que na verdade é muito caro), desenvolva seu olhar para questões mais complexas da arte.
É retirar o exótico da questão artística independente e torná-la uma verdade na realidade da sociedade, sem esqueçer, óbviamente, que a categoria de produto virá atrelada e se quiser continuar tornando-se independente terá que abrir mão do público conquistado para desenvolver novos e livres vôos.