A primeira mesa redonda do 3º Simpósio Internacional de Comunicação e Cultura na América Latina – Integrar para Além do Mercado juntou diversos ativistas culturais da periferia paulistana para uma troca de experiências sobre a produção cultural autônoma e autogestionada nestes espaços.
Coordenado pela professora Fabiana Amaral, do Centro de Estudos Latinoamericanos sobre Cultura e Comunicação, o debate Periferia: novas práticas em produção cultural partiu da provocação da coordenadora, salientando que no espaço urbano paulistano – espelho dos demais, em escala mundial – é favorecida a acumulação do capital, através da dominação política, em anteposição a organização independente, espécie de celebração da vida e das particularidades e proximidades dos bairros e comunidades, tendência reforçada pela mídia e pela distribuição dos equipamentos culturais, eles próprios espaços centrais para reverter este quadro.
Experiências, conhecimentos
Seis experiências foram retratadas na mesa, iniciadas pela poesia de Alessandro Buzo. O escritor, hoje apresentador do quadro Busão Circular Periférico, no programa Manos e Minas, da TV Cultura, expôs as dificuldades para a produção de literatura, e especialmente para a publicação e difusão das obras, a partir de sua própria experiência, em dez anos de produções que retratam as dificuldades e cotidiano da região de Cidade Tiradentes, zona leste da capital, e mais recentemente retratando projetos culturais e iniciativas artísticas na grande São Paulo.
A trajetória da Cia de Arte Negra as Capulanas foi contada por Priscila Preta. O grupo discute a questão racial e de gênero com dramaturgia baseada na obra do artista negro Solano Trindade, trabalhando em espaços alternativos, em especial quintais. O grupo também desenvolve oficinas, valorizando a beleza e particularidades da mulher negra, numa discussão da história a partir de questões estéticas. Também destacou a importância da expansão do circuito cultural na periferia.
O escritor Mateus Subverso, representante da Edições Toró, editora alternativa voltada para produções da, e para, a periferia, falou da relação do Hip Hop com a literatura, aquele enquanto espaço de formação, ao que completou: “dentro destes espaços a gente descobre que a palavra é muito cara. A palavra é aquilo que pode organizar ou desorganizar uma comunidade”. A questão da palavra, ressalta o escritor, é presente ainda numa tensão vivenciada pelo grupo da Toró, a dificuldade de trazer a oralidade para o papel, a “literatura”. Uma escola além do Hip Hop, para Mateus, é a produção de fanzines, bastante presente nos movimentos artíticos e contestatórios da periferia.
Leandro Hoehne, representante da rede Livre Leste, apresentou a experiência do grupo teatral Do Balaio, formado na região de Cangaíba e do qual participa. Além de destacar a dificuldade em conseguir espaços para as atividades teatrais falou do processo de construção coletiva, a partir dos Cortejos Livres e da documentação das demandas populares das regiões alagadas com as chuvas do começo do ano, da rede, que envolve cerca de 30 grupos, 15 dos quais envolvidos diretamente nos cortejos.
O ator Paulo Soares de Carvalho Junior, do Instituto Pombas Urbanas, formado a partir do grupo de teatro homônimo iniciado há 19 anos na região de São Miguel Paulista, contou a trajetória da entidade, que partiu de uma sede volante e se fixou há cerca de 6 anos na região de Cidade Tiradentes, onde utilizaram um galpão abandonado para a constituição do Centro Cultural Arte em Construção. Hoje desenvolvem diversos projetos com a comunidade, nas áreas de teatro, dança, leitura e acesso e inclusão digitais, tornando-se um Pontão de Cultura do programa Cultura Viva, com a missão de articular uma rede entre grupos de teatro urbano no país.
Fechando a partilha de experiência, o artista Makrrão, do coletivo A Banca, mostrou os trabalhos realizados pelo grupo, com shows com grupos independentes e oficinas de arte e expressão. O grupo atua com a idéia da valorização cultural da região do Ângela, bairro onde surgiu e onde moram seus integrantes, mediando os conflitos e a violência da região. Realizando eventos em espaços públicos, como forma de ocupá-los, “aprendemos a escrever projetos, e ganhamos alguns editais” de fomento e prêmios.
A problemática da integração entre a Universidade e estes grupos, que trazem na experiência uma forma de conhecimento, e o desafio de repensar o papel da universidade, a dicotomia centro/periferia e o papel do estado e da ocupação das lacunas de suas ações foram destacados pela coordenadora da mesa.
No debate aberto foi discutida ainda a forma como a pesquisa acadêmica aborda estas ações, com o questionamento preciso de Inês Amarato, pesquisadora da PUC SP, a respeito da forma como os participantes dessas ações estão dentro das universidades, e que devem ser justamente sujeito, e não objeto de estudos. Na mesma linha foi discutida a idéia dos projetos e intervenções acadêmicas serem realizados com a comunidade, e não para a comunidade. Também foi discutido o financiamento da cultura. A mesa foi organizada por Renato Adriano Rosa, bolsista de Cultura e Extensão da USP.
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