Não tem muito segredo, é fácil tirar efeitos impressionantes de cenários construídos apenas com material barato. Isopor, papel crepom, tinta escura, fraca luminosidade e zonas de sombra nos lugares certos e você terá diante dos olhos o castelo do Conde Drácula, desde que mantenha certa distância.
Para início, qual seria o elemento de ligação capaz de juntar um ex-presidiário e a grande estrela da nossa música no mesmo artigo? Nenhum, além do fato de ambos terem buscado, separadamente, os benefícios de um mecanismo perfeitamente legal.
Sem conexão direta com o tema da matéria, Edemar Cid Ferreira é evocado pelo jornalista apenas na condição de antigo usuário da Lei Rouanet e, sem explicação, o leitor é informado de que o ex-banqueiro mais tarde foi preso e acusado de crimes. Nenhuma palavra sobre a natureza destes crimes que, naturalmente, nada tem a ver com a lei da cultura em questão. Mas, o estrago está feito. A associação é poderosa, embora o que temos diante de nós seja apenas isopor jornalístico em estilo gótico.
Será que o uso de um mecanismo legal por alguém condenado pela justiça lança automaticamente suspeitas sobre este mecanismo e sobre outras pessoas que também fizeram uso dele? Que espécie de raciocínio é esse? Que tal se investigássemos se o ex-banqueiro utilizou no passado os incentivos fiscais da lei do Desenvolvimento Tecnológico Brasileiro para modernizar as suas agencias? E se descobríssemos que ele participou de projetos de reflorestamento no Vale do Jequitinhonha ou promoveu cursos de requalificação profissional nas suas empresas com as deduções fiscais previstas em lei?
O expressionismo alemão revitalizou a criação artística no mundo e foi recebido com entusiasmo pela forma revolucionária de capturar a realidade, mas preocupa quando influencia atividades como o jornalismo cuja função não é exatamente emocionar. O recurso é tentador. Garante o impacto de uma denúncia sem a necessidade da denúncia que requer fundamentação. Sem atrair trabalho demais para si, basta caprichar na calibragem entre luz e sombras e a repercussão da coluna está garantida com segurança jurídica.
O texto alista o seu autor no destacamento de linchamento público que fecha o cerco em torno da cantora Maria Bethânia. Sob baixa luminosidade, o jornalista manejou dados pseudo estáticos, misturou conceitos e atribuiu falsos valores de cachê para a cantora. Previsivelmente a repercussão na internet foi estrondosa. O projeto rapidamente recebeu a etiqueta de o “blog de R$ 1.350.000,00” num ambiente onde muitos construíram as suas páginas a baixo custo e do próprio bolso. Sob comoção, ninguém levou em conta a duração dos 365 vídeos, meta do projeto, que somados equivalem a meia dúzia de longas-metragens ou uma minissérie de TV de doze capítulos. De qualquer ângulo que se olhe, o preço é uma pechincha se considerarmos o nível dos profissionais envolvidos.
Não conheço ninguém responsável que seja contra a reforma da Lei Rouanet, um mecanismo criado em 1991 para um Brasil que não existe mais. A nova proposta de lei que atualmente tramita no Congresso, tem dispositivos técnicos capazes de pulverizar os recursos no interior do país e facilitar o acesso às verbas para manifestações artísticas menores, ao mesmo tempo em que garante recursos à cultura de raiz.
Ricardo Noblat desconhece a intensa participação dos produtores de São Paulo nesse processo e da importante contribuição que demos para o texto final da nova lei que, se aprovada na íntegra, nos levará a celebração, não a chiadeiras como supõe a sua malicia mal informada.
Justapor um ex-presidiário a uma estrela da nossa música não é apenas inescrupuloso, é estúpido. Não contribui para o debate e só reforça a sensação de preconceito contra a produção artística. Uma sensação antiga de difícil definição, mas que remete a tempos em que marcas de cordas de violão nos dedos serviam para a polícia como atestado de vadiagem.
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Um idiota como o sr. Noblat que me bloqueou no twitter ninguém sabe até agora o motivo, só poderia pertencer ao PIG e à inútil "emprensa" brasileira...
O Paulo tem toda razão.
É impressionante como a preguiça de fazer um trabalho profundo de pesquisa, leva alguém a opinar sobre o que não conhece.
A Lei Rouanet, assim como a maioria das leis, precisa de uma reforma que a adeque à realidade brasileira, mas é um excelente instrumento para fomentar a cultura no Brasil.
Estamos na torcida para que a sua modernização democratize cada vez mais o acesso da população a cultura de qualidade e torcemos, também, para que as pessoas se informem a respeito do que escrevem e produzam textos jornalisticos de qualidade que informem e reflitam profundamente sobre o assunto em pauta ao contrário do "oba, oba" que a vemos todo dia na imprensa.
Parabéns Paulo Pelico pela qualidade da informação postada.
As inscrições para curso de pós-graduação em Gestão e Produção em Jornalismo vão até 19 de junho.
Público-Alvo:Profissionais graduados em qualquer área acadêmica.
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