José Rubens Chachá: “Profic é coisa de espertalhão”


O debate promovido semana passada por duas associações do teatro (APTI e APETESP) continuam gerando repercussão. Na ocasião foi apresentado estudo, desenvolvido pela empre J.Leiva, que disseca o financiamento do teatro brasileiro pela Lei Rouanet. Como não pude comparecer ao encontro, enviei algumas provocações por e-mail a alguns participantes. Aqui, a resposta, na íntegra, do ator e roteirista José Rubensa Chachá:

As duas provocações são as seguintes:

1. O teatro brasileiro depende da Lei Rouanet? Quais as conseqüências disso?
2. Você acredita que a revogação da Lei Roaunet e a criação do Profic irá resolver os problemas de financiamento na área?

As respostas de José Rubens:

Salve salve Leonardo ! Com meus 35 anos de teatro (ainda enfrentando problemas de principiante) já vi crises e crises com pas e picaretas a postos para decretar e executar os funerais do teatro. Os problemas sempre foram vencidos graças ao próprio vigor do teatro, já que possuímos uma classe desmobilizada por conta de um sindicato omisso e por conta do falso precoceito de que “lei de incentivo à cultura é problema de empresário”. O artista burramente acredita nisso e se omite. Acaba sofrendo as consequências que estes períodos de instabilidade proporcionam. Falta de trabalho, salários menores, cachets extorsivos.

Você me pergunta se o teatro brasileiro depende da Lei Rouanet. Romanticamente falando, não. O teatro nunca depedeu ou dependerá de governos, patrocínios ou mecenatos. É claro que numa resposta como esta ainda sobrevive um vibrião que nos levou a fazer teatro nas decadas de 60 e 70, de forma passional e política. E é claro que é apenas uma bela imagem do Teatro como arte acima de qualquer tutela ou modismo. Quanto a atividade profissional no teatro, já estou preparando o cobertor. A tendência é encurtar de todo lado e deixar muita gente ao relento. O pior de tudo é vermos minguar novas gerações com visões e propostas com dificuldades de alcançar, senão o mercado, pelo menos uma simples exposição de seus trabalhos.

A tendência é encaretar. Os produtores e patrocinadores com critérios (justificaveis) que priorizem o mercado, a bilheteria, o retorno de seus esforços. Os atores que ficarem de fora do pequeno bolo oficial, irão se organizar em heróicas cooperativas, e esmurrarão pontas de faca até que a coisa melhore. Ainda bem que existem esses caras. Pelo menos com um monte de peça em cartaz , temos a impressão que as coisas não estão ruins. Mas vai ser só impressão.

O público de teatro (não importa a classe) é um público diferenciado e exigente. Quer novidade, polêmica, irreverência. Não consome teatro como consome TV ou cinema. O público de teatro acredita na experiência que se vive ali toda noite, como algo especial , único, quase místico. Daí ser diferenciado. A médio prazo as coisas terão que mudar e para isso os meios de financiamento, patrocínios e etc…terão que se adequar aos espetáculos que o público teatral exigir.

Mas de imediato o que podemos esperar é que esta indefinição calhorda leve o empresariado a aguardar melhores ventos antes de se aventurar no mar do mecenato. Triste papel que acabou virando o de Ministro da Cultura. Nunca foi um bom papel. Bastava ser discreto, já que dinheiro não é o forte de sua pasta. Custava ele não atrapalhar?

Quanto a sua segunda questão, penso ter sido respondida na última reunião Apetesp-Apti, pelo sabio diretor Zé Renato (que tambem enfrenta os mesmos problemas de principiante, embora com mais de 50 anos de palco), que nada será aprovado e tudo vai ficar como está até que o proximo Ministro assuma com ares heróicos e continue tudo como está. Tudo não passa de um factóide do Sr Juca Ferreira para permanecer em costante e demagógica polêmica na mídia até chegar por fim ao seu intuito, qual seja eleger-se deputado pela Bahia. Porra, porque não confessa logo. Eu até transfiro o meu título para Bahia para ele se eleger e nos deixar em paz. Agora, ele deveria saber, baiano como é, que ao se satanizar alguém ou algo (produtores e teatro, nesta ordem), o tal Satã ao se sentir cutucado, esperneia e acaba se virando feroz e mortalmente contra o blasfemo. Apesar de tudo, apesar do Juca, o teatro, o circo, a dança e todas as manifestações culturais, que independem do preconceito obtuso de um burocrata, chegarão até o público. Eles estão ali, por perto das bilheterias só aguardando melhores notícias.

Forte abraço José Rubens Chachá.

P.S. : Achei o Profic coisa de espertalhão amador. Uma coisa confusa. Feita para ser confusa. Balaio de gato.Não tem mais bobo na praça, meu amigo. Principalmente na Praça do Teatro.

Leonardo Brant

Pesquisador cultural e empreendedor criativo. Criador do Cultura e Mercado e fundador do Cemec, é presidente do Instituto Pensarte. Autor dos livros O Poder da Cultura (Peirópolis, 2009) e Mercado Cultural (Escrituras, 2001), entre outros: www.brant.com.br

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