O debate “A mídia e a crise política” revela porque esses dois campos se alimentam, as contradições e o contexto histórico em que o denuncismo se firmou“A mídia e a crise política” faz parte da mostra realizada na Cinemateca Brasileira, entre os dias 31 de agosto e 04 de setembro, onde 12 filmes e 5 debates procuram elucidar o tema “mídia e política” sob vários matizes. Na quarta-feira, 31, o filme “terra em transe” (1967) de Glauber Rocha, foi o aperitivo para as sugestões de uma pizza que o precipitado denuncismo da mídia e o irresponsável cenário político vem sugerindo nos últimos meses, foco constante das opiniões dos debatentes Luciano Martins Costa (Observatório da Imprensa), Luiz Roberto Serrano (Abracom), Felipe Bueno (Rádio Bandeirantes), Marina Amaral (Caros Amigos), Audálio Dantas (ABI) e Alexandre Caverni (Agência Reuters).  As mudanças da abordagem na cobertura política num cenário temporal, perpassando pelos tempos da ditadura e a forma com que a imprensa, ao absorver as mudanças da sociedade foi se delineando, até chegar ao formato atual, contextualizaram o denuncismo na discussão. Além de frisarem o impacto da Liberdade de expressão na forma do fazer jornalístico como fator decisivo, os jornalistas somatizaram a sofisticação da sociedade, dos sistemas de comunicação, ONGs e a Internet, como determinantes para o livre trânsito de informação que hoje temos acesso. A imprensa respondendo a uma sociedade mais moderna, foi a conclusão desta dinâmica.
Numa alusão ao filme “terra em transe”, Audálio Dantas comentou o conflito entre as promessas de campanha e os compromissos pós-eleitorais. Para ele, a possibilidade da mídia denunciar o não cumprimento de campanhas hoje, “é uma conquista a que lutamos na ditadura”, mesmo com toda a “superficialidade”, acrescentou o radialista Felipe Bueno mais adiante. Marina Amaral sugeriu uma alternativa diante de tantas notícias desencontradas e escandalosas, “assinei Valor Econômico. Uma cobertura mais equilibrada”, disse, lembrando de fatos que nos levam a questionar a atuação inteligível da Imprensa, como a denúncia do mensalão no JB, em setembro do ano passado: “Foi um acórdão por causa da campanha da Marta. Mas, porque a imprensa não continuou a denunciar, já que odeia acordões?” A crise política do governo Lula, que foi negada veementemente no início, e “numa velocidade incrível se transformou em 3 CPMIs” sustenta a conclusão da jornalista de que “a mídia e a política andam juntas e sempre vão andar, ainda mais com a sociedade do espetáculo. E a política precisa de holofotes”.  A conversão dos meios de comunicação à lógica capitalista foi fonte para analogias interessantes como “tsunami mercantilista” e “marketing de iogurte e sandália hawaiana”. Numa reflexão mais analítica, o jornalista Luiz Roberto Serrano concluiu que a imprensa “abdicou de ser uma entidade de vanguarda”, optando pelo “emburrecimento”.

Maira Botelho


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