Categories: PONTOS DE VISTA

Mídia, ideologia e etnia

Bem vindos sejam ao Brasil, a maior democracia racial do planeta, terra da meritocracia e da igualdade de oportunidades. Neste feriadão, poucas notícias novas às portas da outrora terra dos tupiniquins.

Bem vindos sejam ao Brasil, a maior democracia racial do planeta, terra da meritocracia e da igualdade de oportunidades. Neste feriadão, poucas notícias novas às portas da outrora terra dos tupiniquins. No mais novo feriado da nação, o telejornal de maior audiência abriu sua escalada com menção primeira ao Dia Nacional da Consciência Negra. Admito que não me ocupei em ver a matéria, fato que não me levará a comentá-la, embora a posição da Globo sobre otema seja, em geral, conhecida, e reflete apenas a verdade expressa na primeira frase desta longa sentença. Na grande imprensa, em especial na internet, destaque para os shows e para as passeatas, nesta ordem.

CadernosNegros e história negra

Não sou, particularmente, dos mais críticos à ausência da questão étnica na mídia. Ela existe, é sempre debatida, em especial no tocante às políticas públicas. Mas sob um viés bem “claro”, o de que não existe preconceito, ou ao menos de que ele não reflete na sociedade. No cinema, felizmente, há um volume maior de material crítico, ou mais tátil ao menos, em obras como Quanto Vale ou é por Quilo ou em O Pai ó, apesar de tudo. Ainda assim, é de se estranhar a presença de atores negros numa trama, infelizmente, pois a grande maioria dos protagonistas não é “de cor”. Embora, digam os críticos afeitos à Grande Imprensa que colocá-los seria contra dizer o princípio da meritocracia e a identificação da população brasileira, à vista nas pesquisas do IBGE.

A imprensa negra, porém, existe. Sugiro a leitura de s://bayo.sites.uol.com.br/historico_cadernos_negros.htm, endereço do coletivo que edita os Cadernos Negros, anuário de poesia de artistas afro-descendentes. Não é o primeiro exemplo de imprensa dedicada ao tema no país, como publicação recente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo demonstra (s://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao14/materia03/), mas é certo que a questão chama a atenção aos mais curiosos e interessados no tema.

Na mesma mão vão as mudanças, tímidas, nos livros didáticos, para seadequar à lei 10639/03, que institui o ensino de História da África na grade do ensino básico.

Havemos de considerar ainda as publicações ligadas ao Hip Hop, mas aos interessados peço que se dirijam a Alessandro Buzo, produtor cultural, jornalista e uma série de outras coisas, que acompanha e atua na área e pode ser uma fonte bem mais vasta e precisa de informações sobre o tema.

Mídia e etnia, mídia e produção de conhecimento na universidade

Fato é que a abordagem do tema na mídia, ou sua falta, refletem diretamente na questãoda identificação com o tema. Se africanum sum, ou não, isso diz respeito muito a como enchergamos o descendente de africanos, como diz respeito ainda à forma como são enchergados o idoso, o homossexual e uma série de outras “categorias” que são discriminadas ou ignoradas no debate, enquanto a mídia se repete e cobre os mesmos assuntos de sempre.

Não tenho, porém, estudo para pontuar aqui os impactos desta abordagem. Outros o fazem, com muito mais habilidade, conhecimento e tempo, na USP, na UFBA e na UNB, e o devem fazer espalhados por outras Academias públicas. Esse conhecimento, porém, não é de todo midiatizado e debatido, talvez até por causa do ranço, conhecido, entre mídia e intelectuais. Fato é que cabe à mídia também debater, de forma atrativa, estas questões, e não relegar o debate simplesmente a se posicionar em relação à questão das cotas.

Guilherme Jeronymo

Morador do Campo Limpo (Zona Sul de São Paulo), é jornalista e mestre em comunicação, além de pesquisador no núcleo Alterjor, da ECA/USP.

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