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Movimentos Sociais a partir da Cultura

É consenso, porém, seja o ator crítico ou entusiasta do programa, ou ainda as duas coisas, o que parece mais comum, que a discussão termine na questão do papel político dos Pontos e da política que envolve seu processo de independência e apropriação do Cultura Viva.

O dia é 9/11, Belo Horizonte, aproximadamente 16h30 da tarde. Gilberto Gil participa das atividades do Cultura Digital na Teia 2007 (veja cobertura em www.teia2007.org.br), programa que destina kits de acesso à internet via banda larga e à meios de produção multimídia (câmeras fotográficas e filmadoras digitais), junto de Cláudio Prado, responsável, no MinC, pela ação.

Levanta então um rapaz, se apresenta como membro de um dos Pontos de Cultura, e desfia seu rosário: discorda da forma como tem sido gerido o Cultura Viva, por considerá-lo por demais burocrático. Diz que os pagamentos atrasam, e que a câmera prometida demora mais de dois anos ao Ponto, e contando.

Gil retruca, rebatendo as acusações e alegando ser este um dos motivos pelos quais os Pontos têm de se aproximar da gestão efetiva do programa. Coloca que não há mecanismos legais que facilitem a entrega de recursos e equipamentos, e que estes mecanismos têm de ser construídos aos poucos, e que faltou ao Ponto protagonismo, comprando a câmera tão almejada por meios próprios.

Isolado, o evento não diz nada. Olhando para as críticas que estiveram presentes em outros eventos espalhados na Teia, em especial o Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, eixo político do encontro, as discussões dizem respeito também às dificuldades práticas dos Pontos, à sua independência e ao processo de constituição desta independência. Neste esquema micro-macro, porém, os papéis do representante do Ponto e do Ministro não estão tão claros. Críticas vêm, fortes, de programas relativamente importantes dentro do MinC, como o Ação Griô, e elogios aparecem de pessoas e Pontos relativamente pouco apoiados, ou que enfrentam dificuldades com o conveniamento e questões financeiras.

É consenso, porém, seja o ator crítico ou entusiasta do programa, ou ainda as duas coisas, o que parece mais comum, que a discussão termine na questão do papel político dos Pontos e da política que envolve seu processo de independência e apropriação do Cultura Viva. Essa politização, e a conseqüente mobilização destes atores sociais esperada por Gil, ao menos em seu discurso, e esperamos que o seja também em suas ações (suas aí entendidas como do MinC, inclusive após sua saída) volta à velha dialética das políticas públicas: elas surgem para a sociedade, mas são dependentes do Estado.

Resta saber, torcer e lutar para que as bases do Cultura Viva passem, por sua vez, a ser apropriadas pela sociedade civil organizada, e organizada a partir e na órbita dos Pontos, sejam estes os 600 de hoje, ou os 20000 almejados para 2010. Tal força, por sua vez, pode organizar o terceiro setor no país, ou jogar tudo às favas ao iniciar uma corrida suicida por verbas públicas. Esta escolha será feita, pelos próprios gestores e pelos membros dos Pontos, através de suas ações, logo, e na esteira da constante renovação tecnológica.

Tal transformação de espaços de cultura em espaços de cidadania e participação, assim como de mobilização, militância e constituição ou fortalecimento de Movimentos Sociais, aparentemente, ou propositalmente, ignorada pela mídia, que não discute a rede que se constituí nos Fóruns e junto à Teia, engloba ONGs, a arte-educação e diz respeito, como disse a professora Maria Helena, da Faculdade de Educação da UFMG, em palestra durante o Seminário Saberes Vivos, à importância de uma Cultura central e militante. Esperemos, e atuemos, na construção dela.

Os Editores – Cultura e Mercado

Redação

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