Originário do ato de colecionar e preservar, os museus chegaram ao século XXI como instituições indispensáveis à vida e à memória das comunidades, pelo menos em teoria. Inseridos na vida das cidades e amparados por políticas públicas de cultura, muito bem argumentadas no papel, mas sem atrativos para atrair o grande público que prefere o espetáculo dos shoppings ou o paraíso dos templos evangélicos, que oferecem muito mais em troca de um pequeno dízimo: a memória do futuro, a esperança de vida eterna.
Precisa-se que alguma coisa seja previamente dada para provocar o olhar, o pensar e produzir conhecimento. Poucos são seduzidos pelo desconhecido, nem se produz conhecimento sem olhar o passado. “Não se inventa idéias sem retificar o passado”, (Bacherlard). Museu e Memória, um tema para se pensar a reafirmação e a transformação da cultura e da arte. É um direito da comunidade, conhecer e refletir sobre o passado, o presente e o futuro, e decidir sobre a memória que deseja preservar.
Perdemos as referências do absoluto, e estamos às voltas com a pluralidade. A memória como a realidade é construída em função de interesses, paixões e desejos, e o que resulta, não é absoluto ou universal. Cada um vê o que está no museu como lhe convém, da mesma forma que coisas, objetos e linguagens chegaram ao museu por interesses e critérios que não são absolutos nem indiscutíveis. Mas nem por isso deixam de ser um patrimônio à espera do olhar clínico e crítico.
Os museus se modernizaram conceitualmente, ressaltando sua importância para a sociedade e o direito à memória. Os de arte, a partir da década de 1960, foram ideologicamente questionados pelas vanguardas artísticas, como o Minimalismo, a Arte Conceitual e a arte contemporânea, mas sua estrutura não foi abalada, ao contrário; foi reforçada. A autenticidade das experiências artísticas depende da legitimação do museu.
Falar de museu de arte no Brasil é difícil não lembrar Mário Pedrosa. Vejam a atualidade de seu pensamento, no texto “Arte Experimental e Museus”, publicado em 1960: “Diferente do antigo museu, do museu tradicional que guarda, em suas salas as obras primas do passado, o de hoje é, sobretudo, uma casa de experiências. É um paralaboratório. É dentro dele que se pode compreender o que se chama de arte experimental, de invenção.” Esse lugar de experiências é também ocupado por um acervo, é um lugar privilegiado do pensamento, da crítica e do lazer criativo para uma apropriação consciente do patrimônio.
Um museu não é uma instituição de eventos culturais, o que nele é exposto não deve ser uma experiência isolada de uma política pública de cultura, sem a responsabilidade de um conselho curador, formado por especialistas da área. O gestor deve ser uma espécie de maestro que rege uma orquestra de intelectuais, críticos e técnicos especializados, para desenvolver enunciados para ser praticados e estabelecer relações mais estreitas com a comunidade.
Dentro de uma cidade existem várias cidades, habitam várias culturas e várias linguagens artísticas, algumas até contraditórias. O museu, em particular o de arte, no seu acervo e na sua programação, deve refletir essa pluralidade, porque ele não é o lugar da exclusão, e sim; do confronto, do diálogo com diferentes manifestações, compatível com a sua função e sua especificidade. Ele guarda uma história, e sem o conhecimento da história, a experiência vira entretenimento.
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A presença das novas tecnologias da informação não implica num mundo inteiramente novo. Vestígios do passado sempre estão presentes, principalmente nos lugares da memória, como os museus, criando formas de relação e diálogo com esse tempo dos ancestrais. A questão é a de mantermo-nos como intérpretes do mundo em que vivemos.
É oportuno o texto do Almandrade.
Sobre museus não me sinto a vontade para falar porque não pertenço ao meio, no entanto devo dizer que os museus no Brasil, com algumas exceções, são meio ficção. É uma institucionalização meio precária. Criaram um Instituto de Museus, abortaram uma política publica para os museus. No real os museus estão desarticulados, até a historia da arte que neles circulam é coisa imaginária.
Leo Tavares