“A música popular brasileira é a mais completa, mais totalmente nacional, mais forte criação da nossa raça até agora” (Mário de Andrade). Sem dúvida que há um contraste, melhor dizendo, um fosso de contradição na medula do discurso da democracia cultural brasileira saída do pensamento institucional.
Falar em democracia cultural a partir da imagem institucional é, na verdade, atropelar os caminhos traçados pela própria sociedade e, neste caso, a Musica do Brasil é vitima primeira.
Democracia se faz a partir da sociedade e não de forma discricionária e escolha diletante de elementos.
O Brasil está diante de um grande desafio, seguir a sociedade ou passar por cima dela para produzir a satisfação dos neoliberais e sua democracia particular.
Não é o governo, nem o Estado e, muito menos o mercado que determinarão as doses e pesos de uma democracia cultural.
Se quisermos continuar falseando a verdade e iludindo o incauto, seguiremos na marcha do paradoxo democrático.
Já estamos nessa longa viagem há alguns séculos. E todas as combinações e esquemas declaradamente ou sofisticadamente disfarçados de planilhas edificadoras ou democráticas seguem o mesmo tom do diapasão intervencionista e da ineficácia do seu preconceito com a música brasileira.
Há muito tempo estou aqui nesta tribuna reclamando um assento para o aprofundamento em nossas realidades e, em termos de cultura brasileira, não há nada mais naturalmente democrático e representativo do que a natureza musical do povo brasileiro.
Temos que lembrar que nada é pior do que o preconceito para transformar políticas culturais em algo ineficaz e prejudicial à sociedade.
Os distintos documentos carregados de meias verdades democráticas continuam em suas tribunas a demonstrar certo limite racional e bastante leviandade intelectual. Aliás, a grafia da carta democrática que propõe uma harmonização sintética visando à crítica refinadamente enviesada, confunde sistematicamente manifestação popular com a incontestável expansão do imediatismo regionalista travestido em documentos multiculturais.
As fatalidades de dicção traduzem, na proporção “especialista”, uma seqüência de valores pré-determinados para dar conta de um shopping cultural, lojas subdivididas com exclusividade cômica, separadas por zonas para exploração detalhada do populario nacional.
Não pode haver crime maior do que atacar essa amálgama tão bem construída pelo caráter nacional generalizado. A destruição por obra de interesses e preconceitos dessa melodia transfigurada em ritmo novo é pura fantasia de uma estreiteza psicológica que desconhece qualquer valor dos cantos e cantos desse eficiente e integrado país.
A chatice vinda dos novos turunas da planilha incontestável critica, em seu subconsciente, a natureza prática da cultura brasileira, quando não excessivos nas características de uma só observação, o exotismo lhes cai como luva, justo por carecerem de um afeiçoado olhar permanente sobre os nossos atrativos deliciosos extraídos das nossas melodias de ação voluntária.
Essa curiosidade esporádica e exótica da observação artística mais afinada com o olhar estrangeiro seleciona uma documentação e estudo na base do oba-oba antinacional, unilateral e caracteristicamente exclusivista.
A sensualidade, a brasilidade reconhecível nas múltiplas possibilidades que se alargam cotidianamente em nossa música, enfrenta impiedosamente o defeituoso olhar com pouquíssimas exceções de uma rítmica preconceituosa extraída da oratória tão ou mais retórica que a grafia pré-colonial e suas correções gramaticais a serviço da esfinge propositadamente doutrinária em nome da falsa dinâmica criativa.
Essa riqueza que se manifesta na sociedade chamada música brasileira é vista pela banalidade facilitadora de pobres e primários interventores.
Vivemos o apogeu dessa enorme contradição, pois o que a música brasileira fez em prol dos valores nacionais que hoje são referência no planeta, nunca, jamais nenhum dos aspectos de importância técnica ou metáforas de convenções do prático imediato conseguiu.
O compositor brasileiro, o músico e a canção, distantes das conclusões intelectuais, são representantes inconscientes de um povo que produziu, longe da falsificadora erudição, uma imagem de sinergia métrica que contempla na medida de nossa fisionomia a democracia cultural.
Se, como de fato, a música do Brasil é um slogan institucional nas nossas páginas oficiais, a própria imagem do nosso povo e sua exuberante soberania, há no indivíduo brasileiro a certeza de que a preservação contra os ataques do Estado e do mercado é a pluritonalidade contemporânea de suas rodas musicais a grande base acústica de deliciosa audácia, no refrão instrumental ou no vocal, que sua cantiga permanecerá infinita produzindo ricos capítulos dos nossos extensos documentos musicais, pois não há uma observação inteligente e seus ensinamentos rigorosamente exatos que produzirão detalhes de uma relativa e tendenciosa democracia em nome de uma incontestável normatização de antipatia com a coisa do Brasil.
Livre e, sobretudo soberana, a música brasileira atravessa mais um ciclo, infringe propositadamente os três pilares organizacionais e os faz nulos diante da grafia melódica, rítmica e harmônica dos movimentos erguidos com acentuação de som para instituir o refrão principal da nossa expressão cultural, a música do Brasil.
O povo brasileiro em termos de cultura democrática é essencialmente arte musical.
Se, como nação, o Brasil pretende instituir a pedagogia da autonomia, a sinceridade em arte, os saberes da nossa sociedade, devemos então nos encorajar com uma nova convicção, longe do ramerrão didático de inteligência e hábitos antigos de sofisticada bobagem.
Beneficiarão o país não os que querem sacrificar a música, essa prática verdadeira do nosso povo para instituir a torturadíssima instância democrática extraída da ignorância e vaidade individualista.
O problema sutil do nosso pensamento aleija institucionalmente a nossa inteireza. Esse legado de despropósito divino saído do pensamento “extraordinário” sugere tudo, menos o nacional e artístico provenientes da nossa orquestra típica erguida da comunhão predominantemente popular.
Os processos técnicos, o critério que contradiz o Brasil é o óbvio da obsessão e binaridade do nosso perceptível limite intelectual, uma coisa idiota, mal produzida e conduzida que produz discípulos do individualismo curto e de inspiração numerosamente individual. A coreografia de passo marcado alheia à nossa largueza criativa instituiu essas formas isoladas, forneceu um vasto fundo falso para nossa democracia cultural, longe do nosso clima, de nossa fisionomia e de nosso espírito.
A peculiaridade da nossa música determina, sem sombra de dúvida, o nosso caráter democrático, sem que o pensamento constituído nos dê medidas desproporcionais à nossa vontade.
A nossa democracia cultural não é um contraponto ao Estado, aos governos ou ao mercado, ela se fez magnificamente pela sua sedução e se justificou como gênero musical de caráter de comunhão e de perfeição incontestavelmente plural.
Carente de idéias originais, o nosso privilegiado gênio institucional arbitrou uma democracia baseada na vulgaridade dos medalhões. Esse ciclo que agora aparece como ofício nobre, dedicou-se em calar os acontecimentos de convívio e esforço do exercício democrático da própria sociedade.
Brilhar com excelência a partir do exercício corporal é o conselho de excepcionalidade que esse fenômeno artificial chamado deliberadamente de multiculturalismo e bônus do nosso tesouro cultural fabricou.
Certos em seus discursos retóricos, jogaram dominó nos centros de opinião, traíram nossa memória, oficializaram a habilidade cosmética.
Toda essa teoria de infinitas contradições é a fraude contemporânea, a luz da mentira e da gravidade de que há sinais claros e verdadeiros de se reproduzir privilegiados assentos e adquirir total espaço na atividade contemporânea da freguezada e clássica idéia de exercício de dominação.
Há muito mais de mal do que podemos imaginar nessa lavoura da indústria cultural. Há mais letras grifadas nessa magistratura de dominação. Se, para nós condenados à aplicação da costumeira curva tangenciadora imposta pela disciplina em prol do equilíbrio mercadológico, resta a observação de mais uma convenção dos tratados falidos sobre a prática cotidiana de nossas realidades, não nos enganemos, fomos condenados sem interrogatório ou direito de defesa a aceitar mais esse fenômeno mistificador do mercado num inquérito de manipulação grosseira onde o remédio para a cultura foi a absoluta falsificação democrática.
Sintética, límpida e transparente, a palavra multiculturalidade nessa recente “terminologia científica” nos apresentou a idéia de profissão e a figura charlatã da democracia. Com reduzido preceito intelectual, essa cabeça de medusa vive de agradecimento em agradecimento servil às convenções e formas consagradas pelo grande capital.
A Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo abriu uma…
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lançou a página Aldir Blanc Patrimônio,…
Estão abertas, até 5 de maio, as inscrições para a Seleção TV Brasil. A iniciativa…
Estão abertas, até 30 de abril, as inscrições para o edital edital Transformando Energia em Cultura,…
Na noite de ontem (20), em votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no Congresso…
A Fundação Nacional de Artes - Funarte está com inscrições abertas para duas chamadas do…
View Comments
Bem articulada a sua fala Carlos Henrique,repetir a promessa da economia, pode reafirmar que o crédito só existe por esse apertado e fraco crescimento da renda quando não negativo na musica.
Voce mostra bem que a discussão sobre quem paga a conta desta delegação de responsabilidades ditatorial do mercado não veio a baila.