Chegou ao mercado o primeiro livro que contempla integralmente a Lei 11.645, em vigor desde março de 2008, que obriga a inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena como disciplina no currículo oficial das redes pública e particular de ensino.
Trata-se de dois livros em um só volume: “Sociedade em Construção – História e Cultura Afro-Brasileira – O negro na formação da Sociedade Brasileira” e “Sociedade em Construção – História e Cultura Indígena Brasileira – O índio na formação da Sociedade Brasileira”, ambos de autoria do jornalista e sociólogo J. A. Tiradentes, em parceria com a mestre em Educação pela USP, Denise Rampazzo da Silva.
A nova disciplina deverá ser ministrada em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História, no ensino fundamental e médio, e atendem a uma reivindicação do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil. “Gil dizia que só a Fundação Palmares havia se preocupado em produzir conteúdos sobre o tema, tanto que o nosso livro tem o aval de Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura”, afirmou J. A. Tiradentes em matéria publicada pelo site da Fundação Cultural Palmares.
De acordo com a editora Direção Cultural, que comprou os direitos dos autores e é a responsável pela impressão e distribuição, a publicação é dividida em 14 capítulos a edição segue rigorosamente o que estabelece a lei, quanto ao conteúdo programático. Eles tratam dos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira a partir dos dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil. Também resgata a contribuição das etnias nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
A capacitação dos professores é feita por meio de recurso digital. Ou seja, através do método EAD – Ensino a Distância, tendo em vista a parceria firmada entre o editor e o Instituto de Tecnologia, Pesquisa, Gestão e Educação Virtual do Brasil (ITGVBR). Mais informações sobre a publicação podem ser obtidas através do site www.livroafrobrasileiro.com.br.
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Uma obra sobre as culturas africanas e indigenas do Brasil é da maior importancia. O Brasil ´é carente .de obras de pésquisas étnicas sobre os vários povos que formam a população..
So acho meio estranho o fato de querer fazer existir "história" dos diferentes grupos étnicos vendidos pelos Ashanti aos mercadores holandeses que truxeram estas nações para vende-las aos portugueses no Brasil, pois que somente a partir da captura, viagem e chegada ao Brasil que estes grupos entraram na dimensão da historia propriamente dita, de forma sofrida.. Aliás, nenhum povo tribal viveu ou conheceu o conceito de "historia", fossem este povos antigos germanicos, ou celta, ou eslavo,s americanos, ou aborigenes. Sim, sem civilização, mas com uma cultura. Para conhecermos estes povos tomamos conhecimento de seus mitos e sobretudo da arte que produziram. Aí certas culturas africanas poderosamente se destacam dentre todas. Não esta produção kitsch, comercial, vendida em galerias e lojas de artezanato, mas sim uma arte fantástica de várias centenas de anos, cheia de encanto, criada ANTES da chegada dos brancos, e que ocupa sít.ios de honra nos museus mais importantes do mundo.. Sim, antes da chegada do homem branco, que mesmo bem intencionado, afastava irremediavelmente o gentio de seu universo original e integrado, do qual saia a arte. Pois que não haveria caminho de volta. A não ser uma outra via. E com efeito. esta arte revolucionou o mundo no início do século passado: Picasso, Bracque, Juan Gris e outros foram diretamente influenciados - surgiu o cubismo analítico, que revolucionou o mundo visual. e amplou a percepão estética, possibilitando novas leituras. . Convem salientar que o fazer artístico do artista do neolítico no Benin ~era completamente destituido de intenções comerciais, pois apesar de trabalhar metais, nem conhecia o dinheio..
Como sempre aconteceu, a arte é a melhor embaixada. de uma nação..
Eis uma ação real na construção da sociedade brasileira!!!! Não adianta tratar da auto estima quando ela já está massacrada por (pre)conceitos e ideais estéticos importados. Dar instrumentos para compreender a nossa história e reconhecer aqueles que formam a base da nossa formação cultural é possibilitar a autonomia de ideais que leva qualquer País a ser uma Nação.
Maria Paula Costa Rêgo
Recife/PE
A autoestima vem da consciência do valor próprio no meio ambiente social, tipo : "eu estudo, trabalho, amo minha familia e meus amigos, sou um cidadão e tenho a certeza de que cada um de nós todos tem um papel na sociedade" Essa é a consciência, principal (ou único) meio de
integração social e auto-estima.
O resto é tolice. Brasileiro é racista e um epidermico hedonista. Daí que o dado mais importante é o superficial, ou o tom da pele...E ftudo que se faz no Brasil, em termos de políticas "raciais" (ou racistas, de fato) está baseado nisso: cor de pele!... Os cidadãos são vítimas desta politica racial. E dai, essa politica quando busca ilustrar uma solução através de textos, pesquisas, etc., cai direto no folclore, no estímulo à fantasia de poder e ao ressentimento inutil. Sim, folclore, fantasia de ´poder e ressentimento. parecem um consolo, mas na verdade impedem o aflorar da consciencia, E a que propósito?
É só raciocinar e constatar que estas pseudo políticas conservadoras não são de integração social no mundo atual. Não são mesmo., E podem funcionar como forma de retrocesso social,. Qual a intenção disso?
Criaram um feriado chamado Dia da Consciência Negra.
Acontece que a Negritude é o que existe de mais distante da consciência,
O espaço da Negritude é uma dimensão arquetípica, bela e integrada, mas para a q
a qual não há caminho de volta. Daí a necessidade de integração social, como existe em países civilizados.
Para estudar e pesquisar melhor a potencialidade real de certas contribuições, seria interessante um pouco mais de informação, adquirida com investigação séria.
E.
África...mundo de mistério e encantos
Nildo Lage
No seio da África, há mistérios e raridades aos quais a ciência se curva, pois seus poderes se esvaecem ante desafios e enigmas, como a origem do próprio nome, que gerou questionamentos, especulações e suposições. Tudo que se sabe e que África originou-se da palavra grega aprica, que, traduzida para o português, significa exposta ao sol. Chegar a sua origem na busca de referencias e se atirar num abismo sem fim. Muitos sequiosos buscaram orientação para decifrar seus mistérios ate no Grande Livro, através da inspiração dos profetas, e fracassaram. O que se tem são simplesmente pontos de vista de estudiosos crentes de que foi no território africano que surgiu a espécie humana. Essa “quase certeza” deu ao continente o titulo de Ventre da Humanidade.
Fazer um tour por esse universo intrincado e peculiar instiga geólogos a caca da chave dos segredos desse continente.
São tantas duvidas que não se sabe ao certo qual o primeiro estado constituído. Alguns historiógrafos que ousaram mergulhar mais fundo supõem que seja o Egito, a terra do Salvador, em mais ou menos quatro mil anos antes do Seu nascimento. O fato tornou-se verdade, pois, ate então, ninguém ousou dizer o contrario.
O visto para desembarcar nesse mundo exige sensibilidade, tato... Percepção para identificar, entre os sons dos tambores, a mensagem dos deuses; no ritmo do axé, a essência do sentimento, das manifestações proclamadas em forma de canção; no gingado da capoeira, cuja coreografia delineia os sonhos, a cultura; nos domínios do candomblé, a fonte de poder onde a fé se fortalece... Nos segredos dos orixás, um desafio para abrir caminhos.
Ante a incógnita, estudos e pesquisas submergem perante o poder dos mitos, das crenças, dos segmentos religiosos... Arcanos indecifráveis que provocam colisões entre as adversas etnias, cujas identidades e tradições giram em torno das doutrinas, muitas curiosas, que impelem seus seguidores ao fatalismo.
Para esses fanáticos, a vida e simplesmente um sopro atrelado às rédeas do destino, conduzida por um deus germinado de uma lenda que estabelece o sacrifício como garantia de vida eterna. E, em nome dela, permitem ser influenciados por ritos, acreditando no poder da própria dor como cumprimento da trajetória.
A rendição e tamanha que muitos chegam ao flagelo, conscientes de que tais situações são uma passagem obrigatória para se chegar a gloria. E, arrebatados por essa fé intransponível, aceitam ser escravizados, agredidos e humilhados sem o mínimo de resistência.
No entanto, evitar conflitos num mundo de acordos bilaterais, onde alternativas se chocam com princípios religiosos, políticos e tribais, e desafio sem precedentes, pois a violência física, “firmada” através do “Acordo de Paz Nacional”, não conseguiu conter a fúria de grupos, devido a intolerância política e religiosa, que impediu a reconciliação. Os grupos estão em constante pé de guerra, dispostos a chegarem a duas alternativas: massacrem-nos ou serão massacrados.
Contudo, a África não e exclusivamente um estuário dos deuses, dos mistérios, a essência da cultura dos povos, da arte e da beleza natural... A África e o ventre, a pátria da própria humanidade... E, assim como a estrela do Oriente pairou sobre o continente prenunciando a chegada do Salvador, o brilho de um novo tempo marcara um espetáculo que paralisara o mundo para apreciar um momento sublime.
É Copa do Mundo...
Essa contemplação exibira uma África que o planeta não teve a oportunidade de conhecer. Na magia desse instante, a pagina de um continente marcado pela dor, pela desigualdade social, onde a fome e a miséria tornaram o seu cartão-postal, será virada para narrar um novo capitulo da sua historia. A historia de um povo que sonha, luta e supera os limites do próprio destino para honrar um pais de tantos contrastes. Magia esta que se tornou um universo em constante estado de transformação.
As transições sociais, políticas, religiosas e econômicas provocam conflitos intermináveis, mas não alteram o teor da sua essência: um continente de encantos fatais. Encantos que impressionam a primeira vista, deslumbram no segundo olhar, pois a sua fantástica geografia, ornada pela cadeia montanhosa Drakensberg, influencia diretamente nas variações climáticas graças as correntes oceânicas, oferecendo ao visitante a opção de sentir o acolhimento do clima temperado, os desafios do clima desértico e, para aqueles que preferem não ser surpreendidos, os fascínios do clima tropical.
E, mesmo com os altos índices de violência, seduz como uma deusa grega e tem diversão para todos os gostos: safári para os amantes da natureza, pois sua fauna e flora são um estuário de uma paisagem única, habitat de aves exóticas, de cores exuberantes, de comportamentos curiosos; espécies de mamíferos que impressionam. Apreciar e insignificante, e preciso se aventurar a chegar mais próximo, registrar o movimento de cada exemplar que cruza o caminho: do minúsculo ao gigantesco, do inócuo ao predador. Para os amantes dos esportes radicais, e só aportar em Durban e navegar nas ondas de Marine Parede, no Oceano Indico, perfeitas para a pratica do surfe; quem quiser mais tem alternativas como mergulho, ciclismo de montanha, escalada, rafting de rio, rapel... E nem os acomodados, que não abrem Mao do conforto ou preferem um tour cultural, precisam ir longe, pois encontrarão tudo isso em Johannesburgo, no distrito homônimo, através das suas centenas de lojas, bons hotéis e ótimos restaurantes. Alguns quilômetros adiante, no grande Subúrbio Negro, formado no período do apartheid, podem visitar o museu com um vasto acervo de documentos que marcaram os tempos dourados de uma África democrática.
E, como palco desse espetáculo que atrai a atenção do universo, a Estrela do Oriente voltara a brilhar, para torná-lo único, e a primeira competição da década será mais um capitulo que ficara marcado na historia da humanidade.
Quando o magnífico “astro” bola entrar na orbita do “planeta” futebol, provocara frissons, descompassara corações... Arrancara gritos, aplausos e impelira dezenas a persegui-la incansavelmente, como a caca a um tesouro, para que o grito “gol”, extravasado num coro ensurdecedor, numa gigantesca explosão de felicidade, ecoe pelos quatro cantos do pais. Do mundo.
Gritos que muitas vezes serão asfixiados por lagrimas, soluços, pois a bola e como a vida: frágil, traiçoeira e repleta de surpresas. Retém o poder de proporcionar alegria, felicidade para uns. Dor, perda e consternação para outros.
Mas será um episódio que encantará os povos...
O eixo da Terra travara subitamente. O planeta puxara o freio de mão e se deterá para apreciar o momento nobre do universo futebol... E ela será o astro maior... O foco de todos os olhares, de todas as lentes, de todos os flashes... Esse espetáculo ganhara uma dimensão tão surpreendente que despertara o civismo... Aproximara pessoas, pátrias... Todas as torcidas se fundirão, todos os corações se envolverão para pulsarem no mesmo ritmo, impelidos pelo mesmo sentimento: o amor irreprimível pelo futebol.
Na Copa de 2010, a bola vai rolar sob uma magia ainda maior, pois as grandezas do espetáculo terão os efeitos de um pais mágico, onde nem mesmo a dor das tragédias, dos problemas sociais e políticos impedira que os sul-africanos mostrem encantos, exultações, cores, danças, cânticos e rituais que enfeitiçarão milhões.
Pela primeira vez, desde que a competição foi criada pelo francês Jules Rimet, em 1928, o evento acontece no continente africano, no ponto em que, segundo a historia da evolução humana, foi onde, ha milhões de anos, o homem tornou-se bípede. O bipedalismo lhe permitiu correr atrás dessa aspiração fantástica denominada bola e fazer chutes magníficos que arrancam brados mundo afora... O futebol devia esse presente ao continente africano, onde certamente aconteceu o primeiro chute.
Essa Copa não será um show a parte que deixara multidões apaixonadas. Será um momento harmonioso que poderá acontecer entre as raças que provocarão o desenvolvimento econômico e social. Apesar de sabermos que inúmeros problemas surgirão, principalmente com transporte — mesmo com as obras de modernização do aeroporto de Johannesburgo, a inauguração do metro — e devido a criminalidade, pois a onda de estupros e homicídios pode manter os turistas apreensivos. A insegurança levou o pais a assumir a mais alta taxa de criminalidade do mundo.
Mas, em plena véspera, a tensão no pais aumenta pela espera da abertura. Pois o que era questionamento, hesitações, criticas e agouros transforma-se em ansiedade. O desafio para superar as esperas não tem dimensão, pois a responsabilidade de fazer bonito e tão grande quanto a esperança dos sul-africanos de chegarem, pelo menos, as quartas de final.
O sonho dessa conquista instituiu um clima de expectativa, de euforia, uma probabilidade de negócios e oportunidades, pois todas as atividades do pais entrarão em operação: hotéis, restaurantes, arte, cultura, diversão e, principalmente, o turismo, responsável por 8% de toda a economia sul-africana.
E, o mais importante, o clima da Copa poderá ter a temperatura exata para quebrar o gelo, aquecer os corações das tribos rivais para promover a reconciliação entre os grupos, dando fim as divergências de um povo apaixonado por futebol, mas apartado por barreiras históricas.
Esse instante poderá proporcionar momentos inusitados, pois todas as raças e credos terão a oportunidade de romper tabus, dissolver rixas em nome daquele que mudara a historia do pais: o futebol. Se essa maravilha sobrevir, realizar-se-á o grande sonho de Mandela, que era o fim das disputas raciais.
Apesar dos problemas, a alegria, a esperança dos sul-africanos contagia o mundo, e a abertura das competições vira repleta de fascínios, a começar pela estrela “Jabulani” — a bola —, que mostrara o colorido do continente e a diversidade cultural da África do Sul, onde as cores das onze províncias do pais serão exaltadas no maior espetáculo da Terra.
Mas a África é um sonho que não pode morrer...
Esse glamour não pode durar somente o período dos jogos. A África é vida que depende de cuidados, de respeito, do mínimo de dignidade, visto que a vida não pode ser estagnada ao final de um evento. O mundo tem que admitir que a África e o berço das culturas, o celeiro que guarda os maiores mistérios da humanidade. Mistérios que os milênios não conseguiram desvendar. Muitos continuarão preservados ate o dia do Juízo, porque a África não e um quebra-cabeça que deve ser montado numa disputa... A África e um universo de vidas. Por isso, não pode ser amada apenas na temporada de Copa do Mundo. Pois Copa do Mundo e um evento do calendário do futebol, mas a vida e um frágil fio atado ao inexistente, que exige sustentabilidade. Sem esse mínimo,
Vagara sem propósitos, sem direção; desfalece, se arrebenta e retorna ao pó sem experimentar o verdadeiro sentido de viver... Os olhares do mundo que tanto explorou esse continente levando o seu ouro, os seus diamantes, reduzindo suas riquezas naturais em reservas... Esse mundo insano que atropelou direitos de liberdade, de ser... de existir, ao escravizar o seu povo para edificar a própria bonança, o deixou na miséria, e tudo que a África herdou foi o titulo de uma das mais altas taxas de pobreza do planeta.
Os encantos desse paraíso estão se apagando pelo descaso de um mundo cada vez mais eletrônico, que não encontra o dispositivo para acionar o sinal de alerta de que a África e um universo que pede socorro, pois sua vida esta ameaçada e requer cuidados, atenções especiais, respeito, não por seus encantos, mas pelos seus valores que enriqueceram a cultura de todos os povos.
Especificamente a África do Sul não pode se tornar uma passarela de turistas que deixam alguns dólares, elogios e partem levando imagens e momentos inesquecíveis; o palco de uma festa, simplesmente por ser a sede da Copa do Mundo, em que sua cultura, seus valores, princípios e ritos serão ressaltados mundo afora. A África e a própria essência da vida, que se evapora ante os olhos daqueles que se enfraquecem na mesma proporção, por ser uma parcela deletada da humanidade e que se tornou dependente da própria humanidade.
Por outro lado, sanar problemas de um pais que paira sobre as cinzas de um vulcão em constante estado de erupção e um desafio. Muitos problemas não se resolvem, porque a África ficou dependente das ajudas internacionais e muitos cruzam os braços e vegetam a espera de doações. Alguns doadores chegaram a interromper os benefícios para que a África saia da dependência.
Mas os problemas são tantos que os conflitos são contratempos do cotidiano ante a proliferação de epidemias como a Aids, o adensamento da miséria, que influencia diretamente no isolamento do pais, apesar de uma relativa estabilidade econômica que impulsionou o desenvolvimento, colocando a nação como o quinto PIB do continente africano.
Mas a subversão etnorreligiosa esta sendo um dos maiores obstáculos para se promover o equilíbrio. Essas divisões são estopins sempre aquecidos, prontos para explodirem em confrontações, que impedem os nativos de se voltarem para as fontes, explorar o potencial do pais e promover o tão sonhado desenvolvimento econômico.
Essa guerra de ideologias, segmentos religiosos, políticos e étnicos e tamanha que pensamentos colidem, as vozes dos deuses ecoam em todos os cantos, asfixiando as da razão, provocando o desequilíbrio dos grupos.
Nesse cenário, costumes, hábitos, valores e regras sociais são mais importantes do que o próprio direito de viver, e, por onde se olha, as classes prevalecem, pois ha cultos animistas, rituais do islamismo, do cristianismo e do hinduísmo, alem das línguas que dificultam os entendimentos, pois a alta diversidade de línguas, os dialetos do tronco africano e do tronco camito-semitico, isola grupos e afasta as soluções.
A situação chegou num estagio tão avançado que ninguém gosta de ninguém. Ninguém acredita em nada alem das crenças e dos propósitos que defende.
Como não fala a mesma língua nem comunga os mesmos propósitos e ideais, o próprio povo atira a nação num abismo onde a fome, a subnutrição crônica absorvem multidões, facilitando o alastramento de epidemias que instigou o continente a morder uma fatia de 71% dos portadores do vírus HIV do planeta.
Sem direção, muitos responsabilizam tamanha miséria ao regime segregacionista do apartheid, que, no dialeto africano, significa vidas separadas. Criado para ser um simples exemplo de igualdade, fraternidade e tolerância, teve o efeito adverso, pois as humilhações e discriminações explodiram no intimo de cada atingido em forma de ódio incontrolável, despertando um ardente desejo de vingança, em que atacantes e atacados chegaram a selvageria, colocando o pais num intenso clima de terror.
As arbitrariedades foram tamanhas que se converteram em um dos mais tirânicos regimes que a África do Sul tem na memória, pois negava aos compatriotas negros direitos sociais, econômicos e políticos. Nas décadas em que perdurou, os colonizadores europeus excluíram os negros dos Direitos Humanos.
Os bantustões — bairros só para negros — tornaram-se um palco onde cenas de agonia, de consternação, de desesperança eram apresentadas a cada segundo... Erguendo barreiras intransponíveis entre negros e brancos e ate hoje salientando feridas que ainda sangram pelos crimes sem punições, pelas perdas materiais que ate então não foram recompensadas; e mesmo a deificação eleitoral de Nelson Mandela, que promoveu mudanças importantíssimas, não foi suficiente para que o pais se arredasse de uma herança amaldiçoada.
Tamanha instabilidade colocou o pais entre dois homeomorfos: uma minoria no Primeiro Mundo e o restante no Terceiro, vivendo em total miséria, onde cada cidadão sobrevive como sabe, se acomoda como pode, pois os Direitos Humanos ainda são um vento que sopra em direção oposta, e a ausência desse ar asfixia vidas que simplesmente se prostram com as mãos estendidas a espera de uma doação.
Para amenizar a crise e promover o desenvolvimento sustentável, e imprescindível sanar problemas emergentes, como a fome e o controle das epidemias. Quem tem fome tem pressa, e quem esta enfermo só reflete em situações acerca da própria cura. Conforme sentencia Edward Schwarzs, da fundação suíça Holcim: “Nao haverá construção sustentável enquanto não houver uma sociedade sustentável”.
Mas e impossível falar de África e não falar da Comunidade Quilombola de Helvécia, situada no extremo sul do Estado da Bahia, no município de Nova Viçosa. Por ter sido a primeira colônia alema-suica do Brasil, cujo numero de escravos para manter as lavouras de café na época da colonização era superior a sua população atual, Helvécia e tão africana quanto seus habitantes, que foram mesclados para se tornar únicos entre os povos e admirados pelo gingado, pela garra, pela resistência, pelo acolhimento caloroso... pelos tons, pelas cores... E a alegria pela vida.
Nessa extensão africana em pleno território brasileiro, as “vozes da África” ecoam ensurdecedoras através da culinária peculiar, dos seus artesanatos, do calor humano que
aquece quem a visita... Das manifestações culturais como maculê, bate-barriga, bate-barriguinha, samba de viola, mouros e cristãos, capoeira, o desfile Show Afro, no qual a beleza negra exala a sua essência, como no espetáculo O Auto de São Benedito, dirigido pelo internacional Ciro Barcelos e cujo elenco e composto exclusivamente pelos moradores do distrito, que revelaram um talento nato para o teatro, a dança e a musica e que apresentam, em pouco mais de uma hora, a cultura, as crenças, as tradições e as magias da África.
O espetáculo que transcorre sob o som dos tambores e conduzido pela banda Kebrai, formada por meninos que batiam latas em um terreno baldio, impelidos pela esperanca de um dia as suas vozes serem ouvidas por outros povos. O sucesso foi tamanho que rompeu as barreiras do distrito e ganhou proporcao nacional.
Essas manifestacoes chegam a culminância na centenária festa de São Sebastião, que acontece na ultima semana do mês de janeiro e atrai turistas de todo o pais, e nem mesmo o tempo conseguiu dissolve-las, pois mais de 95% dos seus moradores ainda são afrodescendentes que ostentam, orgulhosos, através das gerações, a cultura e a tradição por meio de projetos e oficinas em parceria com empresas privadas e a Prefeitura Municipal.
E é impossível falar da Comunidade de Helvécia e não se lembrar de uma personagem que se tornou o ícone da cultura afro no extremo sul da Bahia. Essa cidadã e chamada carinhosamente, na comunidade, por Tidinha Santos. Uma afrodescendente que não desistiu em conseqüência dos desafios, resguardou esforços, renuncias para que esse pedaço da África, cravado no coração da Bahia, não perdesse a identidade. Afinal, a cultura de um povo e o seu maior patrimônio. Preservá-la e resguardar a vida, resgatar a historia, perpetuar valores, valorizar costumes para ostentar tradições... E permitir que as novas gerações não rompam o elo com as suas raízes.
Fonte: Revista Construir Noticias edição nº.52
Sem dúvidas, isto é questão para ensino à distância. Ótimo artigo, conheçam um pouco mais do meu trabalho. Denis Engel Madureira .