Categories: PONTOS DE VISTA

O diálogo é com a sociedade

Uma das marcas dessa conturbada fase da cultura brasileira está justamente na redução, do estreitamento do pensamento nacional de cultura. A busca incessante para atender setores fez o Estado brasileiro se perder e, cada vez que cedeu, as vozes corporativas ganharam mais corpo. Pouco a pouco, o pensamento de que algo maior contemplasse, não a arte, não o artista, muito menos os grupos de pressão, mas o homem brasileiro, foi se diluindo, se reduzindo a uma batalha quase diária para se construir uma atmosfera ministerial.
 
Insisto em dizer que a grande batalha para que a cultura brasileira ganhe de fato musculatura e maior idade no sentido de um mínimo de autonomia de mercado, é interna. As nossas questões são nossas, criar fantasmas estrangeiros e deixar à solta os fantasmas brasileiros, é ingênuo quando não, maldoso. Não há invasão se não houver interesses de poucos que se colocam acima dos interesses nacionais.
 
O Brasil trabalha em sua dinâmica sociocultural, ainda entre o século XIX com o seu sinfonismo artificial de uma erudição de arrotos e interesses, e o século XX com os que lucraram com o arrombar das portas do complexo da indústria americana no campo da cultura e do entretenimento, mas jamais essas absurdas lógicas teriam força se aqui dentro, brasileiros, artistas, produtores, empresas, mídia não tivessem se vendido descaradamente com vários adjetivos, principalmente o mais torpe deles, o que cotempla os séculos XIX e XX, a universalização, o que, na realidade, significa entreguismo de meia dúzia de moderninhos que se beneficiaram com esta lambança. Falta-nos postura.
 
Espero que a acertada ida da Funarte para Brasília signifique de fato as rédeas de um pensamento maior, responsável com o país e não com interesses. Mamberti tem que dialogar sim com os setores e lembrá-los que sem sociedade não haverá plano possível.
 
O Brasil precisa ganhar um discurso de fato do tamanho da cultura do seu povo. Subestimá-lo é assinar o fracasso.

Carlos Henrique Machado Freitas

Bandolinista, compositor e pesquisador.

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  • Acho que vocês estão superestimando essas possíveis mudanças, caindo também no sorriso da monalisa do ministro vinagre. Hoje o MinC vive um verdadeiro caos administrativo, encoberto por uma propaganda atrás da outra. Na prática, nada anda lá dentro. Incompetência misturada com mediocridade dá em apagão. Caldo perfeito para um grande escandalo ...

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