Devemos reconhecer e celebrar os esforços do governo Lula, sobretudo pela ação do MinC de incluir nas políticas culturais a parcela da população excluída do acesso aos serviços públicos da área. Não podemos, no entanto, deixar de discutir ampla e democraticamente algumas contradições dessa proposta, em pleno processo de construção pela sociedade. Esta semana vamos abordar o conceito de “inclusão cultural”, presente em ações como o Mais Cultura, além de editais e discursos do MinC.
A expressão quer significar o reconhecimento às populações menos privilegiadas e a inclusão desses às políticas do Estado, mas, a exemplo da equivocada “contrapartida social”, traz consigo um certo ímpeto de civilizar os “bons selvagens”, ao buscar incluí-los numa dinâmica cultural tomada pela indústria ou e/ou pela cultura institucionalizada, cada vez mais ideologizada.
O moralismo por trás da “inclusão cultural” revela a negação da cultura do outro, suportamente excluído. Ou seja, a idéia de incluir culturalmente não condiz com o do-in antropológico proposto há 6 anos pelo inovador discurso de posse de Gilberto Gil. Dialogar, sincretizar, amalgamar, palavras já incorporadas ao vocabulário da política cultural, que carregam a nossa mundialmente reconhecida diversidade criativa, são mais adequadas ao se referir à mistura de referenciais culturais existentes no território brasileiro.
“Inclusão cultural” pode trazer uma certa vontade “de fazer o bem aos outros” – como condena Michel Maffesoli – segundo o determinado referencial estético e ideológico. Ao mesmo tempo que busca valorizar as diversas matizes culturais brasileiras, reconhecendo sua força, capacidade de expressão e valor estético, o governo confunde-se ao buscar atribuir um certo grau de civilismo a essas manifestações e modos de vida.
É como se o Brasil descobrisse finalmente a existência da Senzala e de todos os que nela habitam. Suas artes e modos de vida são celebradas como nunca antes. Desde que isso condicione a permanência dos seus habitantes àquela condição, já que o acesso irrestrito à Casa Grande continua bloqueado. Nenhum sinal de buscar a universalização dos direitos culturais a todo brasileiro, com acesso a teatro, música, filmes e livros. Basta uma foto de um mestre da cultura popular ao lado do ministro ou do presidente que a inclusão cultural está feita.
A verdade é que não temos um projeto concreto que busque a conquista desses direitos. O Mais Cultura deveria ser isto, mas ainda não mostrou a que veio, como o próprio Celso Frateschi aponta na entrevista exclusiva concedida a Cultura e Mercado.
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Concordo com a análise do artigo. Por outro lado é chocante o uso da categoria " menos favorecidos". Por quem ? Deus, Estado, políticos? Estamos discutindo direitos e não favores. Esta não é uma categoria sociológica e deve desaparecer do vocabulário de vocês!
Ana Lúcia
Brilhante editorial! Mas acho que vocês estão exigindo demais do pobre do Juca, tão desprovido de recursos cognitivos, coitado. O que interessa ao novo Ministro da Cultura é se manter no cargo o máximo que puder. O resto é conversa fiada dele, para ganhar tempo. De qualquer forma, acho essa discussão fundamental para podermos avançar na construção de um projeto de políticas culturais para o país quando a transição vier. Não esperem uma boa formulação e muito menos uma execução eficiente de um simples vinagre, por favor. Juca não está à altura da pasta e muito menos dos desafios atuais mais amplos.
Acho que houve um grande equivoco na análise.Pela minha experiência "inclusão cultural" nao tem nada de falso moralismo. É preciso reconhecer diferenças culturais , hierarquizar jamais. Inclusão cultural está ligada a responsabilidade do estado com o artigo 215 da Constituição, o direito a cultura. Direito de exercer a sua, de usufruir e conhecer outras.
Tomando como exemplo os museus, equipamentos culturais criados no padrão europeu,mas que preservam bens culturais do Brasil. Eles precisam estar cada vez mais acessiveis, para serem mais frequentados , por grupos e pessoas de todos os perfis e comunidades, sem preconceito.
Dificuldades de execução existem porém culpar o ministro ... bem, é simplista demais.
Talvez seja reflexo de um traço cultural nosso bem vivo ainda: é mais facil dizer que "a culpa é do chefe" ...!
Corretíssima essa visão. Cada vez mais vamos ter que discutir todo o processo de maneira clara, corajosa e transparente. Buscar, cobrar resultados coerentes com o princípio real de cidadania que, obrigatoriamente, tem que se desvencilhar dos perigos dos dogmas que cercam o bom mocismo da inclusão que, na realidade, se revela como exclusão. Por isso, pretendo fazer uma série de quatro artigos a partir do período pós-republicano com suas armadilhas antinacionais em nome da hiprocrisia que se escondeu por trás do conceito de pátria. Em síntese, o Brasil em toda a sua geografia política tratou de copiar modelos de organização social. E a cultura tanto por parte da direita, centro ou esquerda, sempre foi alvo da sanha de alguma forma de civilização copiada, de pavimentação, seja ela liberal, fascista, comunista ou social democrata.
Cara Lorena,
Será que você existe mesmo?
Ou será o Pedro Braz, travestido de internauta?
Que pobreza de espírito garota (sic)...
Tudo isso pra manter o DAS?
juju
Como é difícil entender tudo isso!
Resumo: continuamos na mesma. A inclusão é uma falácia.
De Mitos estamos quase todos fartos (fora uns 10 por cento) ou então , no caso dos mitos culturais, quase 90% ignora a sua existência,pois simplesmente eles não fazem parte da necessidade cotidiana de ser - simplesmente vai se levando a vida e consumindo PRODUTOS CULTURAIS para anestesiar a dureza do dia a dia. Logicamente da maneira mais barata, a televisiva.
Quanto ao editorial ele chove no molhado. esta questão de inclusão ou exclusão, por aqui ou por ali, erudita ou popular, da senzala ou casa grande é um assunto antigo, sem solução. Sua discução "humanizadora' simplesmente oculta interesses de alguma parte envolvida na divisão de recursos. E como o bolo é menor do que uma "anamaria' e portanto a luta é por migalhas exercita-se a discução por puro diletantismo.
Nada se soma, vivemos nos retalhos do que algum dia se ensaiou ser a discução de uma política cultural. Só para exemplificar basta se abrir os jornais de concursos públicos e fazer uma busca para "concursos para a área de cultura" e esperar o resultado, ou ainda dar uma olhadinha nas estruturas administrativas das áreas a cultura. Mais fácil ainda é, com uma lupa, olhar qual o percentual do orçamento vai para esta pasta.
A discução meu senhores está sem foco, cada um atira para um lado
A utilização de conceitos bonitos em discursos vazios já se tornou uma prática freqüente neste Ministério da Cultura, agora com o novo velho ministro então, a coisa vai piorar. O Gil pelo menos era uma personalidade respeitada publicamente, o que dava credibilidade para o ministério. Agora estamos nas mãos de um qualquer.
Caro João Ricardo,
discordo de você quando diz que o Juca é um qualquer. Ele é muito do espertinho. Seu discurso e sua prática casam contradições enormes e ele vai levando. Acusa o Grassi de ter querido o lugar do Gil - a imprensa divulga e ninguém fala nada! Imaginem o atual ministro vir a público e fazer uma acusação destas. Fala da mudança da Lei Rouanet, diz se contrário a ela para uns. Provalvelmente para outros diz o contrário, ou ainda deve dizer "olha como aqueles acreditam no que eu falo". enquanto isso lança um edital pífio como o Miriam Muniz (política publica) e na sequencia pousa para fotos no lançamento do edital da Petrobrás (lei rouanet). Para onde vai na verdade? Qual a posição que ele ocupa, ou já ocupava. Prega mudanças mas efetivamente não faz nada a não ser o velho conhecido jogo político que as nossas classes dirigentes vem fazendo há séculos.
Olá a todo(a)s,
Sou musico e produtor cultural. Já trabalhei realizando projetos culturais privados, para prefeituras e governo do estado de São Paulo. Diria que sou um peixe pequeno dentro da grande malha de "produtores de produtos culturais" que rodam por aí, ocupando cargos e fazendo discursos corretos, nas horas corretas, para o público certo correto, que, geralmente é uma minoria que acompanha o desenrolar das peripécias que são feitas em nome da Cultura. Entendi o sentido do editorial. Acho pertinente a colocação. Realmente é muito difícil fazer política cultural de verdade nesse país. Sempre tem alguém colocando um dedo e te dizendo: não faça isso ou aquilo. É sempre algo assim: "olha aqui coitadinho, eu vou te dar um dinheirinho para você fazer suas coizinhas aí, mas, por favor, não critique, questione e nem fale mal de ninguém que anda colocando dinheiro na cultura, tá?"
Tipo assim, será que a classe artística e consumidores de cultura nesse país questionam se aquele maravilhoso espetáculo é patrocinado por empresa poluidora da natureza, que pratica maus tratos aos animais em nome de nosso conforto humano e paladar e por aí vai.
Será que as pessoas que ainda preservam o que resta de original de nossa formação de brasileiros - o que por si só já é uma lástima, pois dizimamos toda uma população de um país que já existia aqui, vivia em conformidade com a natureza- estão mesmo honrando o que é sagrado na cultura, que é CULTIVAR, TRANSFORMAR e ALIMENTAR com sabedoria, dinamismo e imparcialidade uma sonhada e difícil trajetória pacífica do ser humano por esse planeta?
No meu entender, esses senhores que se colocam a serviço da cultura de massas, fazendo lobies com os governos, imbecilizando os públicos com produtos questionáveis, porém cegamente rentáveis, deveriam todos perderem seus empregos e ir dar uma volta pelo Brasil de verdade, longe dos holofotes das cidades grandes (que estão cada vez menos sociaveis) e tentarem começar do zero. Com ética cultural. Tentar enxergar que cultura nós fazemos desde que abrimos os olhos de manhã, seja sua cama de papelão ou de ouro. Somos regidos por HÁBITOS CULTURAIS.
Me parece, infelizmente, que o que está imperando são hábitos culturais longe de uma cultura de educação generosa para com a vida. Vivemos, no meu entender, no endeusamento do Mercado, do Dinheiro, das Aparências e de um falar bonito, porém vazio e de propósitos geralmente nada nobres, mas que sempre agradam quem tem que ouvir essas falácias.
O que vemos são os descartáveis tomando conta de tudo, pois não sabemos ainda olhar com maior profundidade para a nossa cultura local.
Parecemos sim, macaquinhos copiando tudo o que tem lá fora. Mas nem sempre a grama do vizinho e natural.
Por favor, não deixem essas questões morrerem nunca! Prefiro ser humilde em dizer que não sei nada ainda e que quero aprender vivendo a REALIDADE de nossos povos, nossos costumes e com nossas diferenças e dificuldades essenciais. Prefiro ser o chato que sempre questiona tudo e não aceita tudo de mão beijada sem saber a PROCEDÊNCIA do presente.
Nesses dias em que os OBJETOS DE CONSUMO são mais importantes que a VIDA, todo o cuidado é pouco nas questões culturais.
A CULTURA TEM O PODER DE MUDAR UMA SITUAÇÃO, UMA REALIDADE. Deve ser por isso que tem muita gente séria da área cultural sem espaço para se expressar.
Qual é a cultura que querem apresentar para o povo brasileiro?
Desejo sucesso e boa sorte a todos!
Cabeto Rocker Pascolato- Brasília -DF