As transmutações ocorridas na divulgação fonográfica com o surgimento da internet
O jornalista tinha um campo de trabalho bem demarcado na área de produção cultural musical e com o advento internet assumiu novas competências. Até o meio da década de 90, o profissional precisava apenas trabalhar com a divulgação de artistas na mídia tradicional, representada pelo impresso, rádio e televisão.
“Sem a internet você tinha que ir pessoalmente nas televisões, rádios e jornais, tudo era no corpo a corpo”, explica Marco Correa, mais conhecido por Bip Bip que tem mais de 30 anos de trabalho como divulgador e já passou por algumas das maiores gravadoras do país, como RCA, Sony Polygram e Continental.
O mercado fonográfico era centrado nas gravadoras que possuíam um sistema eficaz de divulgação para a época, com departamentos específicos para cada tipo de mídia. Quando o disco do artista ficava pronto era repassado para os gerentes dos departamentos de divulgação.
Os profissionais que trabalhavam na disseminação de artistas e discos para a TV e rádio eram chamados de divulgadores, cuja função era o agendamento de participações de artistas em programas de televisão e a conquista de execuções de canções nas rádios, bem como também havia o assessor de imprensa que cuidava de veículos voltados à mídia impressa. “No geral as gravadoras nas quais trabalhei possuíam 4 divulgadores de rádio, três de televisão e somente dois para imprensa”, explica Marco Correa.
“A rotina da parte de imprensa era bem braçal, fazíamos o release na máquina de escrever, tirávamos cópias, montávamos os press kits e saiamos pessoalmente para distribuir nas redações”, explica Fernanda Watfe Balbino, formada em Relações Pública pela Faculdade Cásper Libero, com mais de 30 anos de experiência no mercado musical. “Era um tempo que você conseguia ser atendido pelos jornalistas, tínhamos mais atenção para apresentarmos o produto”, complementa.
O novo papel do jornalista na divulgação musical
Com a ascensão da internet no Brasil este mesmo profissional, que trabalha com música, passa então a assumir mais tarefas, como envio de pautas para sites, trabalho junto a redes sociais, distribuição de músicas em plataformas digitais, entre tantas outras funções. “Com a internet tudo ficou online e isto dinamizou muito nosso tempo com as mídias já existentes, mas por outro lado surgiram novas mídias e funções”, comenta Balbino.
Outra mudança foi o surgimento de novos profissionais independentes na divulgação musical, o que significa que não somente os músicos ganham mais independência e ficam mais próximos aos fãs, mas que a internet também possibilita aos profissionais da comunicação do mercado fonográfico estar conectados diretamente com novos tipos de mídia digital e com os próprios artistas.
Um exemplo disso é a profissional Hercília Castro, mais conhecida por Bribba Castro, que já possui mais de 20 anos de experiência no mercado fonográfico como funcionária direta e há cinco se aventurou em seu próprio negócio. “Com mais de 15 anos de experiência entendi que poderia fazer mais que assessora de imprensa. Hoje ainda atendo a Universal Music com mídia impressa para artistas nacionais, dentro do estado de São Paulo. Mas, além disso tenho meu próprio negócio no qual presto consultoria de marketing para artistas em geral”, explica.
O advento da internet e a crescente e constante introdução de novas ferramentas e funcionalidades no mundo virtual vêm trazendo significativa movimentação […] por parte da classe artística e criativa, que enxerga nestes novos mecanismos a possibilidade de se divulgar, de atingir nichos, de se organizar e de se remunerar . (BENAZZI; DONNER, 2012, p. 1)
As mudanças ocorridas nas formas de divulgação do mercado musical com o advento da internet denotam mais uma vez a necessidade dos profissionais que trabalham nesta área, inclusive o jornalista, em se adaptar diante dos desafios, principalmente no que refere à questão do empreendedorismo na área.
Ao criar o seu próprio negócio o jornalista se torna um empreendedor, o que demonstra a emergência na flexibilização da categoria para a sobrevivência. “(…) a mentalidade empreendedora e seu conjunto de qualificações correspondentes não são apenas necessárias, mas até mesmo requisitadas para qualquer um ter sucesso nessa sociedade ‘hipercomplexa'” (QVORTRUP apud DEUZE, 2014, p. 18).
Anderson, Bell e Shirky (2013) demonstram como o jornalismo sofre mutações no ambiente digital e enunciam casos de profissionais que arrumaram outros meios de aplicar suas aptidões fora dos veículos tradicionais. “O aspecto mais animador e transformador do atual cenário jornalístico é poder explorar novas formas de colaboração, novas ferramentas de análise e fontes de dados e novas maneiras de comunicar o que é de interesse do público” (Anderson; Bell; Shirky, 2013, p. 38).
As gravadoras hoje talvez pelo novo perfil do jornalista empreendedor ou até por conta da menor renda trabalham muito mais de forma terceirizada, possuindo menos colaboradores diretos dentro do seu quadro de funcionários. “Somos em três dentro do departamento de imprensa, quando o lançamento é mais importante contratamos assessorias terceirizadas, quando é um produto novo tocamos entre nós mesmos”, explica Ana Kélita Silva Myral, gerente de imprensa, da Universal Music.
Hoje as possibilidades são amplas para o jornalista que trabalha com divulgação musical: influenciador, fonte, curador, pauteiro, produtor de informação e branded content entre outras. Esta abrangência de possíveis áreas de atuação, principalmente no ambiente digital, trazem novas funções aos profissionais, que precisam estar a todo momento atualizados com as diferentes formas comunicacionais em áreas segmentadas de trabalho.
Referências
ANDERSON, C. W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo pós-industrial. Columbia Journalism Review — Revista de Jornalismo da ESPM. São Paulo, n. 5, ano 2, p. 30–89, abril-junho 2013.
BALBINO, Fernanda Watfe. Entrevista concedida a pesquisadora Daniela Ribeiro. São Paulo, 07 de novembro de 2017.
BENAZZI, José Renato de Souza Coelho; DONNER, Leandro. Novas estratégias de marketing digital na música: uma investigação sobre o papel de duas ferramentas. Simsocial — Simpósio em Tecnologias Digitais e Sociabilidade, Práticas Interacionais em Rede Salvador — 10 e 11 de out. 2012.
CASTRO, Hercília. Entrevista concedida a pesquisadora Daniela Ribeiro da Silva. São Paulo, 30 de outubro de 2017.
CORREA, Marco. Entrevista concedida a pesquisadora Daniela Ribeiro da Silva. São Paulo, 19 de outubro de 2017.
DEUZE, M. O Jornalismo, a Vida na Mídia e a Sociedade Empreendedora.Revista Parágrafo, v. 2, n. 2, p. 4–22, 2014.
MYRAL, Ana Kélita Silva. Entrevista concedida a pesquisadora Daniela Ribeiro da Silva. São Paulo, 16 de novembro de 2017.
* texto originalmente publicado em pesquisa da ESPM, no link.
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