O que não será visto…

Manhã de quinta feira apresentação para imprensa da 28º Bienal, Jacopo, Manoel, Ivo, Ana Paula, todos sentados em seus lugares no palco, a platéia formada por jornalistas, alguns críticos, curadores e escritores para sites de arte e outros meios. Após a apresentação institucional formal somos convidados a esclarecer nossas dúvidas, na primeira fila pede a palavra uma senhora de cabelos bem brancos, que imediatamente ganha o microfone. Pergunta, em 1º lugar, se pode falar em Inglês, pedido consentido:

-Quais são os artistas mais importantes nas representações dos países nesta bienal? Toma a palavra o senhor Ivo que pergunta se pode responder em português, a senhora diz que entende perfeitamente a nossa língua. Ivo prossegue dizendo: – Minha senhora já há algumas bienais passadas não temos as representações nacionais ou internacionais. A senhora insiste: – Então quais artistas os senhores consideram mais importantes? 

Ivo, com um leve sorriso, responde que são todos igualmente importantes. A senhora com um gesto breve devolve o microfone, levanta – se e calmamente sai da sala. O silêncio impera e a atenção se volta para acompanhar os demorados passos da senhora até a porta da saída.

Noite de sábado, inauguração, chegamos à porta do pavilhão, ávidos para saber como enfim está configurada a bienal, encontramos as portas fechadas e uma multidão aglomerada com seus convites na mão tentando entender porque não podem mais entrar. As reclamações: – Mas senhor não consta no convite que não era permitida a entrada após as 9h; – Por favor, me deixa entrar estou trabalhando ai dentro…; – Está senhora aqui é a avó do…, grita um senhor para o segurança: – Como assim não pode mais entrar, eu tenho convite…

Até que um dos convidados observa que no lado de dentro tem alguém conhecido e com gestos se comunica e demonstra sua indignação, imediatamente os seguranças recebem a autorização e abrem as portas. Porém não passa nem 10 minutos e as portas são novamente fechadas, e desta vez é irremediável.
Ao passar para o interior do pavilhão observo a multidão que novamente se forma na porta, reconheço artistas, ilustres convidados, pessoas que trabalham em museus e galerias, todos do lado de fora.

Noite de domingo, em uma casa no Pacaembu sou recebida por Rodrigo Bueno, sim o artista convidado para participar na bienal e que mesmo sem ser muito conhecido na véspera de sua abertura se retira, desprezando a suposta fama que está poderia lhe render. Logo na entrada percebo que se trata de alguém especial, sua casa traduz seu repertório artístico, todo o espaço é tomado e ambientado com restos de madeira, plantas, fonte de água, pinturas com ícones da nossa cultura afro descendente, tambores e sua imensa simpatia.

Enquanto faz café revela os seus motivos, conta sua trajetória sensível de artista, sobre do que são feitas suas obras, diante dos fatos concluo que Rodrigo foi tomado por sua consciência ética e por respeito a tudo o que acredita, saiu em tempo para não se trair.