A lógica do projeto impera no setor cultural brasileiro. Uma prática que, muitas vezes, resulta na inversão de hierarquia, colocando a questão da sustentabilidade financeira no plano tático e não no estratégico, fragilizando o negócio.
Um negócio cultural (refiro-me a uma empresa, ONG, coletivo, grupo ou até mesmo uma carreira artística individual) revela-se para a sociedade (e também para o mercado) a partir de um conceito, algo que faça sentido e tenha foco, revelando uma linha de trabalho, uma intencionalidade e um modo de fazer próprio, diferenciado. Esse diferencial precisa ser estrategicamente comunicado à sociedade (sobretudo aos públicos de interesse), traduzindo esse conceito de maneira clara, positiva e proativa.
O financiamento é algo vital ao negócio, diz como ele se sustenta e se estrutura, define a relação com parceiros e o público consumidor. Um bom plano estratégico considera todas as fontes de recursos possíveis e busca o desenvolvimento das ações (e projetos) de acordo com essas possibilidades.
O projeto, portanto, tem uma função tática importantíssima, pois traduz conceito, intenção, linguagem e abordagem. Não é o projeto que dita e conduz o empreendimento, ele apenas sustenta e dá materialidade a um campo de significados do negócio.
E deve considerar todas as possibilidades e movimentos estratégicos de um amplo sistema de financiamento, que leve em conta o mercado, o poder público, os editais, as franquias e produtos, além da prestação de serviços, muitas vezes a principal fonte de recursos do artista.
Quando o projeto assume uma função estratégica o negócio se fragiliza, torna-se refém do humor do mercado e da sorte, quando poderia ser fruto de um conjunto de ações planejadas, ampliando a longevidade, a saúde financeira e presença na sociedade.
Não quero dizer com isso que o projeto não possa (e não deva) ser estratégico. Pelo contrário, ele apenas será estratégico se cumprir bem sua função tática. Não quero dizer também que não devemos desenvolver estratégias de negócios específicas para o projeto, alinhadas com o empreendimento, mas respeitando suas especificidades e sua capacidade de dialogar com financiadores e o público em geral.
A JLeiva Cultura & Esporte lança nesse mês a pesquisa inédita Cultura nas Capitais. O…
Fonte: Ministério da Cultura* O Ministério da Cultura atingiu 100% de transparência ativa de acordo…
Até o dia 10 de fevereiro, a sociedade terá a oportunidade de participar da escolha…
O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) estará aberto a partir…
O Instituto Cultural Sicoob UniCentro Br está com inscrições abertas em seu edital de seleção…
Estão abertas, até 04 de fevereiro, as inscrições para o Edital Elisabete Anderle de Estímulo…
View Comments
De fato o pensamento estratégico no mercado cultural em geral é focado tão somente na realização de projetos e não no desenvolvimento de negócios, o que limita sobremaneira o planejamento a longo prazo de negócios culturais (empresas, ongs, centros culturais e etc). Seja pelo engessamento que as leis de incentivo aplicaram às engrenagens do mercado, acomodando gestores, produtores e artistas com a dinâmica do “preciso do valor x para o projeto y”, seja pela falta de profissionalismo que ainda acomete o mercado, fato é que essa lógica tem de mudar, e, tanto produtores e gestores de cultura quanto empresas apoiadoras e sociedade, devem olhar a questão por um prisma de desenvolvimento de negócios para viabilização de projetos. Nesse sentido, a todos que se interessam pela discussão, sugiro que se informem e participem do curso Captação de Recursos, realizado pelo CEMEC e coordenado por Leonardo Brant, que aborda essas demandas com o intuito de esclarecer e apresentar novos olhares para o mercado e para os negócios em cultura, além de possibilitar dinâmicas e práticas colaborativas de conhecimento.
http://www.redecemec.com/curso/captacao-recursos
Leonardo, uma simples corda do instrumento que temos que comprar, depende de um financiamento que, por sua vez, depende de um processo de produção. Na primeira condição temos o músico e, na segunda a indústria que produz as cordas. Um mesmo processo e duas realidades vividas de forma distinta, porém há nisso a contrução de uma vida coletiva regulada por alguma forma de financiamento. Isso realça que o papel do financiamento como construção de um pequeno ou grande número de situações, com objetivos simbólicos ou profissionais dependem de uma forma de organização onde o conjunto de ações produz um conjunto e normas econômicas.
Esse consenso acaba sendo produzido pelo próprio comportamento da sociedade. Até aí, vamos caminhando bem entre a qualidade e a relativização. Esse universo não é abstrato, as máquinas, as técnicas, todo o potencial de fluidez não são virtualidades. A grande questão é quando todos se tornam reféns de algum imperativo hegemônico que deixa de mediar as relações horizontais a serviço da sociedade e, de forma brusca, cria federações que torna impossível a governabilidade com a quebra que, mesmo tendo a mediação do financiamento, continuaria ainda criando solidariedade.
Vivemos um arcabouço no território cultural com a recente quebra das grandes indústrias, sobretudo da música. E o que vemos agora? Para atender ao dinheiro e não à sociedade, as pessoas passam a se orientar por instituições instrumentalizadas por quem tinha força financeira pelos processos de industrialização. Este é o caso, por exemplo, do ECAD que é dominado pelos interesses das grandes gravadoras e das editoras.
A ideia central é não produzir mais nada, é congelar a criação e buscar construir uma vida econômica através de super-posições em conjunto de sistemas que estão fora da atividade econômica. Por isso o ECAD tenta criar uma agricultura em espaços públicos, em bens sociais, em atividades coletivas que não tem caráter de mercado, como é o caso da cobrança de direitos autorais a um simples bloco de rua. Muitos artistas estão caindo na oferta perigosa feita pelo ECAD.
A música brasileira principalmente que tinha uma missão social de planejar na base outros processos, vive agora de uma pobreza conceitual para legitimar ganhos sobre um processo que não é comercial, menos ainda industrial. O ECAD ataca a sociedade, segmenta, parcializa, corporativiza e a sociedade acaba se retirando dessa arena de tantos interesses que criam regras e mais regras fisiológicas para atender processos que acabam se tranformando numa lógica desumana.
Por isso o debate sobre direitos autorais no Brasil está débil, pois está sendo dirigido pelo ECAD que manipula a opinião de muitos artistas, uma espécie de sociedade de um planejamento centralizado. É um suicídio increditável. Alguns artistas, agora, em nome do ECAD atacam a sociedade em proporções crescentes e movidas pela incrível falta de raciocínio. A mim causa espanto ver artistas tentando legitimar suas posições criminalizando a sociedade. Quer coisa mais esquizofrência que isso? As pessoas ainda vão acordar desse porre e sentir o gosto amargo da ressaca.
Não sei se tivemos outro período na história da arte aonde os artistas tenham rivalizado com a sociedade, só sei que esse esquema grosseiro do ECAD, prometendo salários eternos para o que não está sendo produzido, não tenho dúvidas, causará o maior fenômeno de rejeição que a história da arte já viveu.
Depois Leonardo, dê uma espiadinha no blog do Nassif, é um blog bastante heterogênio e podemos medir o termômetro da sociedade sobre as questões que envolvem o direito autoral com o protagonismo da sociedade. Lá observei que nenhum assunto político teve mais repercussão, e geralmente são os mais comentários, as pessoas repudiando a ideologia de "direitos" fabricada pelo ECAD e incrivelmente comprada por muitos artistas. Ali já dá para perceber o tamanho dessa arapuca.
Desculpe-me se aparentemente fugi um pouco do tema, mas o que quis colocar é que a sociedade não só aceita como estimula os processos econômicos dentro do universo da cultura com as devidas formas pautadas por um equilíbrio em cada uma das ações.
Ótimo texto.
Acho que é exatamente esse o futuro da cultura do país, assim como outra empresa de qualquer outro setor, os produtores do meio cultural sejam artistas, ong, empresas tem que começar a escutar o que o mercado está comprando e consumindo, e o que as empresas estão patrocinando e começar a adaptar para isso, mas claro sem perder a originalidade de sua arte.