Lembro de quando estava na Faculdade o quanto era importante visitar a Bienal de São Paulo, sentia muito orgulho de morar em uma cidade que abrigava tamanho evento, era a oportunidade de conhecer os trabalhos de artistas do mundo inteiro e ainda ver as suas mais significativas obras, onde só se sabia através dos livros.

Foi através da Bienal que pude ver de perto os trabalhos de Richard Long, Diego Riviera, Yves Klein, Andy Warhol, Edvard Munch, Jesús Soto, Pablo Picasso, Paul Klee, Sol Lewit e outros tantos, incluindo os brasileiros, fundamentais na construção do conhecimento artístico.

Nas vésperas da abertura de uma Bienal os fatos que marcavam as páginas do jornal eram as notícias sobre os artistas e suas obras, mapas e guia de visitação, textos de curadores e historiadores, por vezes alguma discordância, porém após a abertura tínhamos a impressão de entrar no real espaço da arte.

Claro que estas memórias fazem parte da cabeça de uma pessoa que facilmente se deslumbra com a arte e que considera ser de importância impar manter com qualidade um evento como este.

Na história, fruto dos ideais de Ciccillo Matarazzo, a criação de uma Bienal em São Paulo, aos moldes da Bienal de Veneza, tinha como objetivo colocar o Brasil no cenário da política cultural mundial.  O que não foi nada fácil, Ciccillo contou com o prestigio de sua esposa, Yolanda Penteado, que pessoalmente convidou os artistas para a representação estrangeira. Assim há 57 anos foi inaugurada a I Bienal, em 20 de outubro de 1951. Para abrigar a I Bienal a Prefeitura de São Paulo concedeu o espaço que hoje é ocupado pelo MASP, foram expostas 1.854 obras representando 23 países.

Este espírito empreendedor, de natureza filantrópica, contava com os fundos vindos de industriais milionários paulistas, hoje este modelo não funciona mais, e a cada ano se percebe o resultado na decadência de suas propostas, que refletem a crise de identidade pela qual passa.

A “Bienal do Vazio” está às vésperas para ser aberta ao público e as notícias que correm nos dão a impressão de que este vazio é muito maior do que apenas um espaço sem obras, como propõe para reflexão desta crise, seu curador Ivo Mesquita.

Há pouco tempo presenciei, muito de perto, o apoio do MINC para a representação brasileira na feira de artes visuais em Madri, a famosa “ARCO”. Para tanto se alegou que era fundamental apoiar este evento, pois que “A função das feiras é aproximar a criação do mercado. Isso diz respeito aos criadores, mas também às instituições. É papel do MINC facilitar a intermediação”. Isso é importante porque a economia da cultura é uma base fundamental para a economia.” Frases do ex ministro Gilberto Gil na época.

Por quais motivos vejo nestes eventos, Bienal e ARCO, pontos em comum?

Sabendo que nas últimas três edições, a Bienal teve a maior parte de seus gastos custeados pelo governo federal, por meio de emendas da bancada paulista no Congresso ao Orçamento da União. Por que não podemos preencher estes vazios da Bienal de São Paulo com novas soluções, poder público e iniciativa privada, visto que um evento como este move para além das cabeças de estudantes e amantes das artes, também o mercado cultural.

Cris Arenas

Artista plástica, coordenadora do Projeto ASA; elaborou e coordenou o projeto Rumos Educação Cultura e Arte 2004/05 do Itaú Cultural.

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  • Oi, Cris!
    Então, vou participar de uma performance da Cristine Lucas, dia 22 de novembro na Bienal...justo na bienal do vazio...rs...mas, o que acontece? Nós, que não somos da área cultural mais institucional não sacamos os problema e conflitos que rolam em eventos como esse...
    Abraço!
    Raimundo

  • Olá Raimundo,
    Bem são reflexões de quem participa há tempos deste cenário, espaços vazios sem obras...
    Mas parabéns para vc e muita sorte.

  • São Paulo é contraditória: ao mesmo tempo que é a maior, em todos os sentidos, capital do país, é uma das mais conservadoras cidades do Brasil. É só olhar pra sua arquitetura. Por isso, a Bienal não sai dessa lógica. Continua sendo, desde a década de 50, um evento feito por e para a burguesia cafona brasileira. Que às vezes pode até ter bom gosto, como na sua época de estudante, mas que no fim das contas segue os princípios da famigerada "Síndrome de Viralata", seguindo os protocolos estrangeiros de produção e venda da arte, ao invés de investir na arte brasileira, nos artistas brasileiros, na cultura popular brasileira.

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