Como andam os nossos filósofos de sentido contrário ao país? Parece que há mesmo um verdadeiro temor em não mais nos purificarmos com a água sagrada européia.
A BANCA DO DISTINTO
(Billy Blanco)Não fala com pobre, não dá mão a preto
Não carrega embrulho
Pra que tanta pose, doutor
Pra que esse orgulho
A bruxa que é cega esbarra na gente
E a vida estanca
O enfarte lhe pega, doutor
E acaba essa banca
A vaidade é assim, põe o bobo no alto
E retira a escada
Mas fica por perto esperando sentada
Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão
Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal
Todo mundo é igual quando a vida termina
Com terra em cima e na horizontal
Essa espécie de comercio da sociedade que quer nos empurrar certo brasileiro isento de impurezas anda contaminando excessivamente certo corpo docente. Originais? Não. Ao contrário, a moléstia acadêmica é pura, aliás, eles não se intimidam com a razão, enfrentam a morte de suas análises com uma coragem indescritível. Mas por que seriam prudentes? Suas imortalidades nos assentos divinos nos mosteiros acadêmicos têm como verdade cultural a mesma dos magistrados peregrinos. A felicidade divina lhes é garantida com o diploma, mesmo que este venha acompanhado de um pensamento doente, mas jamais forasteiro. A fisionomia de piedade não cai bem aos que têm a sagrada missão de produzir a sobrevivência das almas através da mais alta elevação do gênero da raça. Essa gente escolhida a dedo por Deus é de fato o denominador comum do contrário. Ela é ímpar no fogo frio. Supomos que empilhar palavras seja o exercício que substitui o raciocínio em determinados homens capazes das maiores estripulias acadêmicas.
Certamente eles não andam nas ruas do Brasil, pois o sol é muito quente. Levam consigo a soberba de um lorde, na grife de sua casaca ou na fachada do seu prédio. Não há nada pior neste país do que a cólera culta. Essa gente que se aproxima da vida somente após o por do sol. Imaginem isso num país extraordinariamente alegre! Mas para eles, essa alegria, essa riqueza vem do baixo ventre, vem dos pedaços de pau ou da pedra lascada. Esses análogos tentam, por distração talvez, esquecer que aqui dentro existe um país, não como gênero, mas um país que tem narrativa própria, mesmo que seus ouvidos mocos e fugitivos não queiram ouvir o exame dos nossos argumentos.
Sempre prontos a nos desencorajar, essa demonstração de força contrária que vem dos castelos diplomados, jamais ergueu os olhos em direção ao país. São cheios de pudores, de destinos traçados, preferem beber o veneno do suicídio acadêmico do que ouvir o conselho que vem das ruas. A incorreção de suas linguagens sobre o Brasil não se recomenda ao pior inimigo. A moralidade de plantão que vive de palavra em palavra sugerindo a morte do nacional em nome do universal, é escrito no Brasil por ensaístas provincianos há quinhentos anos. E hoje, mantendo a tradição e a ordem cronológica, os guardiões da causa intelectual, universal julgam legislar em causa própria. Aristocratas e primitivistas suas associações pitagóricas são de um beque de fazenda que dão um bicudo acadêmico para onde o nariz aponta, tentando assim criar a república das leis culturais. Uma república que por definição é enigmática e sem ação. Mas julgam eles que foi anunciada por Deus.
O grande problema é a sobrevivência das almas, assim suponho. No caso do Brasil jamais dependeu desse raciocínio, ao contrário, as nossas numerosas formas de nos relacionarmos com as expressões artísticas sempre se apresentaram a partir do calor das nossas próprias opiniões. Como se vê na prática os exemplos citados por conseqüências morais da mais sábia corte não conseguem persuasão possível para condenar ou destruir nossos órfãos. O que esperam de nós? Seguiremos seu conselho, doutor? A natureza de nossas almas carece do raciocínio superior do seu diploma? Sim. Quer que eu seja suficientemente fraco para compreender as suas recomendações? Mas quais são elas? Sabe mesmo o que diz? Tem uma lógica objetiva do que fala? Creio que não. Parece-me mais um possuidor de inteligência artificial de empilhadeira de papéis desencontrados entre a antiga tradição e o virtuosismo técnico. Atordoados, perturbados, incapazes de distinguir suas próprias pernas, por isso tantos tropeços.
Precisamos falar mais do primitivismo global que afasta as pessoas do sentido real. A unidade fracionada nas citações, mas unidas na incapacidade de compreender as realidades, já ultrapassou, sobretudo no Brasil, o limite da estupidez. Está na hora de bater as panelas debaixo das janelas dos monges pra ver se tiramos os ácaros e as naftalinas que impedem a progressão da nossa soberania cuja dominação depende da presença massiva, geração após geração, dos proprietários da cultura de opinião comprada e contrária ao Brasil, mas que infelizmente carregam com eles ainda, em pleno 2010, a cera e o anel dos diplomas das academias brasileiras de arte.
A JLeiva Cultura & Esporte lança nesse mês a pesquisa inédita Cultura nas Capitais. O…
Fonte: Ministério da Cultura* O Ministério da Cultura atingiu 100% de transparência ativa de acordo…
Até o dia 10 de fevereiro, a sociedade terá a oportunidade de participar da escolha…
O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) estará aberto a partir…
O Instituto Cultural Sicoob UniCentro Br está com inscrições abertas em seu edital de seleção…
Estão abertas, até 04 de fevereiro, as inscrições para o Edital Elisabete Anderle de Estímulo…
View Comments
Carlos, me provoca no seu texto sua busca por uma categorização, ora do comportamento dos 'acadêmicos', outrora do próprio humor do país, quando o coloca como sendo 'extraordinariamente alegre'. Acho que seria um contraponto válido para essa discussão, avaliar uma questão temporal, ou de processo, onde um organismo passa por transformações e em um determinado momento apresenta características diferentes de num momento subsequente, não me referindo, tampouco, à linearidade. Acredito que muitas questões são tão recentes e dinâmicas que dificultam, ou mesmo impossibilitam, um tomada de decisão certeira e inequívoca. Mais importante, talvez, seja avaliar a trajetória e a velocidade das mudanças. Um país-povo-cultura com tamanha diversidade e influências, inserido em um contexto socio político em formação, me referindo também aos países vizinhos, além de todas as demais questões 'globais' nos aflige, me leva a acreditar ser 'natural' a existência de muitos tropeços pela incapacidade de distiguirmos nossas próprias pernas. Vejamos quais sociedades estão/são mais 'evoluídas' e logo apontaremos diversas brutalidades que lhes tocam ou tocaram, estejam elas no passado ou no presente. Não poderia ser menos complicado nosso crescimento, estejam elas latentes, no entanto, não podemos deprezar o amadurecimento. Ao Brasil hoje lhe é atribuído grande relevancia no contexto continental e mundial, não podemos negar. Também 'natural' a esse momento político, no sentido mais amplo, é o aprimoramento das 'regras sociais', das legislações, e ainda maior é a valorização da cultura em um processo como esse. Nosso maior ativo é a cultura, ainda maior do que a própria exuberância das florestas que abrigamos, e inevitável será o reconhecimento. Ou apenas uma visão positivista.
Concordo com você, Pedro Berti! Não é legal levantar só pra tacar pedras e não reconhecer o que há de bom.