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Os 7 chorinhos do produtor cultural

Ao longo de alguns anos ministrando o curso de Captação de Recursos do Cemec, venho ouvindo sempre a mesma ladainha sobre empresas patrocinadoras e seus processos de seleção de projetos. Sempre rebati estas reclamações tentando mostrar que grande parte das reações indesejadas era causada pela conduta dos próprios produtores culturais, afinal as empresas sempre estiveram lá, fabricando suas salsichas, vendendo os seus seguros, plantando suas sojas. Nós, produtores, é que fomos lá incomodá-los com nossos projetos mirabolantes. Mas como diria Garrincha, para a estratégia funcionar é preciso antes combinar com os russos.

Então pela primeira vez, para deleite dos meus alunos sofredores, me dirijo aqui aos russos. Estas maravilhosas empresas que têm tido paciência e atenção conosco, operários do setor cultural, mas que às vezes poderiam facilitar nossa vida – e a deles, dialogando com o setor para melhorar a fruição da análise e aprovação de projetos. Vou dar 7 sugestões abertas às empresas patrocinadoras, sem a intenção de ser definitivo, mas como forma de abrir um debate, no melhor estilo “discutir a relação”. Está bem, antes que vocês fujam correndo deste artigo, façam como o grande Garrincha, não precisam levar tudo tão a sério, ok?

1. Se você quer patrocinar bananas, anuncie que sua política é patrocinar bananas. Dizer que você quer patrocinar frutas vai atrair jacas, carambolas, laranjas, maçãs e pitangas, vai ser mais difícil achar sua banana ali no meio. Quanto mais transparência, melhor.

2. A única coisa pior do que receber uma negativa de patrocínio é receber um e-mail padrão. Principalmente quando o motivo da recusa deixa bem clara a sua política de patrocínio e ela está perfeitamente alinhada com a ideia que apresentamos, o que denuncia que você nem olhou o projeto. A gente autoriza você até a nos mandar para aquele lugar, mas não através de um email padrão, por favor.

3. Sustentabilidade não é Cultura. Educação não é, necessariamente, Cultura. Responsabilidade social não é Cultura. Caridade não é Cultura. Churrasco de final de ano da firma não é Cultura.

4. Você precisa mesmo de três vias autenticadas do meu comprovante de residência? Você precisa realmente saber exatamente quanto custa a hora de serviço de um técnico de iluminação? Lembre-se, a gente apanha mais que vaca na horta do Ministério da Cultura, ou das secretarias de Cultura para aprovar nossos projetos e prestar contas depois. E as informações são públicas, você pode ir lá consultar!

5. Se você deseja colocar intermediários entre nós, por favor pague pelos serviços deles. E pague bem. O nosso projeto não pode pagar pelo seu processo de seleção. Não é justo, nem transparente, nem sustentável e é ilegal. Nós nunca saberemos se a sua relação com o intermediário é corrupta ou não, então não nos faça questionar sua integridade.

6. A gente não morde. A gente não está doente. A gente se comporta direitinho (às vezes) e promete até vestir um paletó. Nos receba! Sabemos que não dá para receber todo mundo, mas o encontro pessoal é fundamental, pelo menos na seleção final de projetos. Reserve um dia dos seus 365 para um pitching com seu comitê de cultura. Você vai descobrir uma porção de coisas dos projetos que você selecionou que poderá mudar a maneira como você se relaciona com projetos em geral, com o universo da cultura, com seu público e talvez até com o seu próprio negócio. Você vai descobrir também que nem todo pdf ruinzinho significa um projeto ruinzinho, e o oposto também é verdadeiro. E vai ser divertido, isso a gente garante.

E finalmente, 7. Acredite na força da Cultura. Muito mais que divulgar a sua marca, ela é a maneira mais econômica e eficaz de compreender o seu público. E toda a sociedade.

*Gui Afif apresenta o curso Captação de Recursos no Cemec, de 3 a 6 de agosto. Clique aqui para saber mais.

Gui Afif

Diretor da Guaimbé Bureau de Cultura, especialista em captação de recursos e diretor na Associação Comercial de São Paulo.

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