Categories: DESTAQUEENTREVISTAS

Passaporte para a música brasileira

Entre 21 e 24 de outubro a cidade de Budapeste, na Hungria, sediou a edição 2015 da The World Music Expo – Womex 2015. Um grupo de 20 empresas nacionais representou o país por meio do Brasil Music Exchange, programa de exportação realizado pela entidade Brasil, Música e Artes em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), que nesta missão também contou com apoio do Sebrae RJ.

O evento reúne programadores de festivais, gravadoras, booking agents (vendedores de shows) e editoras. O estande da delegação brasileira recebeu mais de mil visitas de compradores e formadores de opinião internacionais de países como França, Alemanha, Portugal, Dinamarca, Canadá, Itália, Coreia do Sul, México e Colômbia, gerando US$ 800 mil em potenciais negócios.

Segundo Leandro Ribeiro da Silva, gerente do Brasil Music Exchange, participar da Womex é o principal caminho para que a música brasileira ganhe mais visibilidade no mundo e continue gerando negócios. Em entrevista ao Cultura e Mercado, ele fala sobre o interesse internacional na música brasileira e ações que têm sido desenvolvidas para facilitar o intercâmbio.

Cultura e Mercado – O que a Womex 2015 teve de diferente das outras, no que diz respeito à participação brasileira?
Leandro Ribeiro da Silva – Este ano tivemos mais de 30 empresas brasileiras participando da Womex. Acredito que isso nunca tenha acontecido antes. Talvez as empresas estejam percebendo o quanto é importante investir nisso para expandir ou começar seus negócios internacionais. Além disso, tivemos dois showcases: o primeiro do rapper Emicida, no dia 23 de outubro, e o segundo do sambista Leandro Fregonesi, no dia 24.

CeM – O estande da delegação brasileira recebeu mais de mil visitas de compradores e formadores de opinião internacionais. O que essas pessoas procuram na nossa música? Têm encontrado? Há boas surpresas?
LRS – Sem dúvida. Não há uma regra específica para demonstrar o que essas pessoas buscam. Muitos buscam novidades, sobre o novo cenário da música no Brasil, nos mais diversos estilos e gêneros musicais. Mas há abertura para a velha e nova geração da música. O mais importante é que a música tenha um toque de “Brasil”.

CeM – Existe alguma tendência especial de algum país ou região buscando negócios com o mercado musical brasileiro?
LRS – Não posso afirmar com toda a certeza porque não temos uma pesquisa formal para isso. Mas mercados como França e Alemanha estão parecendo bem interessados na música brasileira. Inclusive, durante o processo de planejamento estratégico de nosso programa de exportação Brasil Music Exchange (que foi realizado entre março e julho deste ano), definimos esses mercados como sendo o nosso foco para os próximos dois anos. México também faz parte desta lista.

CeM – Na prática, o que significam os US$ 800 mil em potenciais negócios gerados?
LRS – Significa que as empresas fecharam alguns negócios durante o evento, mas que também continuarão negociando com alguns contatos que elas fizeram também durante a feira para fecharem mais negócios, nos próximos 12 meses. Em eventos como este, esperamos que as pessoas consigam fechar algumas coisas in loco, mas o mais comum é que elas iniciem uma conversa durante a feira de fechem o negócio no decorrer dos próximos meses. Na maior parte, os negócios são voltados para shows em festivais, clubes e centros culturais. Em menor proporção estão lançamentos de discos no mercado internacional, mas ainda assim isso é mais uma estratégia para que se gere mais negócios com shows (lançando discos, gera mais “barulho”, que pode gerar mais fãs e mais demandas por shows).

CeM – Quais têm sido as principais demandas dos profissionais da música brasileira quando o assunto é internacionalização?
LRS – Podemos separar isso em duas situações:
1) Quando uma empresa já possui uma certa maturidade, a demanda é mais voltada para auxílio na divulgação de turnês, lançamentos de discos e fortalecimento de parcerias com selos, gravadoras e bookers internacionais. Visibilidade em imprensa internacional também é algo crítico para quem já está no caminho para a internacionalização.
2) Quando uma empresa ainda está começando a pensar em exportação, normalmente ela busca informações e capacitação para conseguir iniciar o processo. E na minha opinião, quando se pensa em carreira internacional, o caminho é difícil, mas obviamente não é impossível. Os profissionais devem buscar se capacitar para conseguir evoluir em um trabalho internacional.
3) Existem também demandas de artistas e bandas que conseguem o convite de um ou outro festival e daí necessitam de recursos para passagem aérea, hospedagem, etc. Mas essa é uma questão complicada, pois não envolve desenvolvimento de carreira. Às vezes os caras vão para o festival, fazem o show, e a carreira internacional que nem começou para por aí.

CeM – Além da Womex, quais outros eventos internacionais têm sido importantes para os artistas brasileiros?
LRS – Eu poderia dizer que SXSW, em Austin (EUA), é um evento importante porque sempre tem artistas brasileiros tocando lá. Mas, na realidade, é difícil encontrar quem tocou na SXSW nos últimos anos e conseguiu gerar algum tipo e negócio internacional. O que vejo muito são as bandas fazerem o show neste evento e depois ganharem mais credibilidade aqui no Brasil (o que não tem nada de errado nisso, mas como estamos falando de internacionalização, isso não se encaixa). Eventos menores como jazzahead (focado no mercado de jazz) e Classical:NEXT (focado em música erudita e influências contemporâneas) têm se destacado para quem investe neste tipo de música. Também já recebemos bastante demanda para iniciarmos uma participação mais agressiva na Circulart, em Medellin (Colômbia). A FIM PRO, em Guadajara (México), também está crescendo bastante. Participar de pelo menos uma destas duas últimas, para quem quer entrar no mercado da América Latina, é essencial. Existem alguns eventos que são focados no mercado africano, como é caso da Atlantic Music Expo, em Cabo Verde, ou a Visa for Music no Marrocos. Mas se fosse para eu mencionar as que mais estão dando resultado para a música brasileira, eu diria que são Womex, jazzahead e Circulart.

CeM – Para 2016, estão previstas novidades no apoio do BME aos artistas que forem à Womex: auxílio financeiro, assessoria de imprensa internacional e consultorias voltadas para a geração de negócios. Já existem mais informações sobre valores, tempo de assessoria e consultoria, forma de seleção etc?
LRS – Sim. Via de regra, o apoio deverá ser de 50% dos custos para se fazer o showcase na Womex (assim como no jazzahead, Classical:NEXT e Circulart). Quanto à assessoria de imprensa, estamos pensando em começar cerca de três meses antes do evento. Mas, na verdade, todo o plano pode variar, pois cada caso será avaliado de acordo com sua especificidade. A ideia é construir um planejamento sob medida, para conseguirmos auxiliar quem for selecionado pela curadoria destes eventos em um desenvolvimento de carreira internacional.

Mônica Herculano

Jornalista, foi diretora de conteúdo e editora do Cultura e Mercado de 2011 a 2016.

Recent Posts

JLeiva lança pesquisa Cultura nas Capitais

A JLeiva Cultura & Esporte lança nesse mês a pesquisa inédita Cultura nas Capitais. O…

8 horas ago

MinC alcançou 100% de transparência ativa em avaliação da CGU

Fonte: Ministério da Cultura* O Ministério da Cultura atingiu 100% de transparência ativa de acordo…

1 dia ago

Ordem do Mérito Cultural recebe indicações até 10 de fevereiro

Até o dia 10 de fevereiro,  a sociedade terá a oportunidade de participar da escolha…

1 dia ago

Salic receberá novas propostas a partir de 06 de fevereiro

O Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic) estará aberto a partir…

1 dia ago

Edital do Sicoob UniCentro Br recebe inscrições até 14 de março

O Instituto Cultural Sicoob UniCentro Br está com inscrições abertas em seu edital de seleção…

5 dias ago

Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura (SC) recebe inscrições até 04 de fevereiro

Estão abertas, até 04 de fevereiro, as inscrições para o Edital Elisabete Anderle de Estímulo…

1 semana ago